Reportagem: Entremuralhas 2015 [Castelo de Leiria] – 3º dia

Reportagem: Entremuralhas 2015 [Castelo de Leiria] – 3º dia

| Setembro 4, 2015 5:01 pm

Reportagem: Entremuralhas 2015 [Castelo de Leiria] – 3º dia

| Setembro 4, 2015 5:01 pm



Ao terceiro e último dia, o Entremuralhas parecia infindável, isto porque quanto mais subia, mais se tinha que subir, no entanto, era tudo fogo de vista. Apontado como o dia com mais concertos interessantes, para o mais vasto público, a organização expandiu, para este último dia exclusivamente, a entrada a 1037 pessoas, ao invés das habituais 737. Com cerca de metade dos espectadores oriundos de diversos países da união europeia e, uma divergente oferta musical, no dia de encerramento, o Entremuralhas fazia história nesta sexta edição. Para além do regresso dos célebres Laibach, nomes como And Also The Trees, Agent Side Grinder e A Dead Forest Index, assumiam-se como grandes apostas para um dia em que Art Abscons traria um concerto performativo de ficar na memória. E as t-shirts que se viram por lá também não poderiam ficar esquecidas: público de Swans, Dead Can Dance, Joy Division (e aquelas giras dos No Joy Division, no Pleasure at All?), Clan Of Xymox, The Cure, Death In June, entre outros, um obrigado. E um obrigado à Fade In por, acima de todo o profissionalismo, ter feito uma edição memorável. As saudades já apertam.


A Dead Forest Index


Depois de se terem estreado em Portugal o ano passado na abertura do concerto das Savages, no Hard Club, Porto, os A Dead Forest Index estrearam o Palco da Igreja da Pena com “Tide Walks”, retirada do mais recente EP Cast Of Lines, enquanto se apresentavam como um duo. O público, que se estreava nos A Dead Forest Index em formato ao vivo, ficou impressionado com os vocais de Adam Sherry que eclodiam numa voz bastante feminina face ao mostrado em estúdio. Vestidos de preto, prosseguiram com “No Paths”, “A New Layer”, “Distance” e alguns singles novos. “Cast Of Lines”, que por si só é um single de difícil assimilação, mostrou como uma banda ao vivo pode surpreender e fazer surtir nos espetadores algo que nunca antes houveram experienciado; o fim de um concerto que deixou o público com um sorriso na cara e a pedir por mais.



Ash Code


Com uma entrevista na calha, os Ash Code eram uma das grandes expectativas do dia, especialmente pelo recente Oblivion, que até então houvera recebido críticas bastante positivas da imprensa especializada, e, pelo facto de se apresentarem como mais uma estreia em Portugal. Curiosamente resultou num dos concertos mais pobres dos três dias de festival. A abrir o palco com “Self Destruction”, logo se denotaram as fragilidades dos italianos, ao vivo, quando a voz de Alessandro começou a surgir. O som geral, dos sintetizadores e samples sonoras, encontrava-se demasiado baixo para o que a voz pedia e, nem depois de “Epty Room”, “Unnecessary Songs” e o homónimo “Oblivion”, o trio parecia atingir as expectativas mínimas que muitos tinham do que seria a sua performance ao vivo. O ponto alto, aconteceu quando se começou a ouvir a percussão de “I Can’t Escape Myself”, que pelo menos deu para entreter os fãs dos The Sound. Umas trocas entre guitarristas e vocalistas depois, culminaram a performance com “Out”. 



Art Abscons



Os Art Abscons subiram ao Palco Alma em formato quarteto, todos vestidos a rigor com pelo menos alguma parte do rosto coberta por máscaras. O público, ali presente, preparava-se para assistir a um concerto de neofolk teatral que deixava um espaço muito grande aberto à curiosidade sobre o resultado de ver Art Abscons ao vivo. “Somnium I”, retirado de Spektral Magik(2008), serviu de mote para o avanço até às filas da frente. Quem ia chegando mais tarde acomodava-se pelas encostas, ou subia até aos pontos estratégicos do castelo para conseguir um bom campo de visão. No palco, um espetáculo incrível com “Der Verlassene Hain”, “Somnium II”. “Erscheinung!” e “Morgendämmerung” como pano de fundo. Espaço ainda para o baterista pedir ao público para julgar o personagem principal, onde o enforcamento foi a escolha final. Depois de uma ressurreição e uma chuva de rebuçados para o público, os Art Abscons despediram-se com “Niemandsgebet” daquele que foi um dos concertos que mais atenção que prendeu do público. Schön. 



And Also The Trees


Depois de se terem estreado em Portugal, em 2010, mais uma vez pelas mãos da Fade In, os And Also The Trees apresentavam-se agora em Leiria, no emblemático castelo para encerrar o Palco Alma. Formados no Reino Unido, em 1979, os AATT trouxeram 36 anos de carreira e uma setlist a contemplar os grandes êxitos da sua longa discografia. Numa abertura a remontar a 1989, os And Also The Trees abriram com “Prince Rupert” de Farewell To The Shade e, os grandes aplausos sentiram-se assim que Simon Huw Jones subiu ao palco. Num total de doze músicas, e num concerto a ser notado pelo som excessivamente alto, os And Also The Trees foram, no entanto, os responsáveis por um dos melhores concertos deste último dia. Sem esquecerem “Dialogue”, “A Room Lives in Lucy”, “Only” e “Slow Pulse Boy” os britânicos veriam uma multidão a aplaudir ao findar de cada canção e, a vontade de ouvir mais, cada vez mais acrescida. Já a prepararem a despedida com “Missing”, foi em “Rive Droite” que os And Also The Trees se disseram adeus.



Laibach


Com “Eurovision” escolhida para abrir o concerto, os Laibach apresentaram-se em formato quinteto naquele que seria o penúltimo concerto do dia. Uma multidão bastante maior, comparativamente aos dias precedentes, preenchia já uma área quadrada bastante abrangente do recinto do Palco Corpo e, com “ The Whistleblowers“, a começar fazer-se ouvir, começava também a sentir-se os primeiros segundos de saudades de um festival que só voltava para o ano e de uma banda incerta no seu regresso. Com “Resistance Is Futile”, “Alle Gegen Alle” e “Love On The Beat” a marcarem os momentos mais extasiantes do concerto, os Laibach fecharam com o palco com “See That My Grave Is Kept Clean“, cover original de Blind Lemon Jefferson, para um público a aplaudir como nunca antes. 
Muitos assobios, muitas palmas e uma vontade enorme de rever os Laibach num encore, permitiram que os eslovenos se reunissem e decidissem, em alguns minutos, regressar de novo ao palco. Com um encore a abrir com a famosa “Opus Dei (Life Is Life)” foi, após afirmar “You are a fantastic audience”, que Milan Fras voltou a promover um pequeno momento de interação com o público onde este teria de repetir “oh”, um determinado número de vezes decidido pelo vocalista. Posto isto, e  um “everybody dance now”, os Laibach encerraram o concerto com “Tanz Mit Laibach“. Memorável.

>> mais fotografias do concerto de Laibach


Agent Side Grinder


Para os fãs do post-punk, a estreia dos suecos Agent Side Grinder era a mais aguardada da noite, terminado o concerto dos And Also The Trees. Com disco novo na mão, os Agent Side Grinder apresentaram uma tracklist focalizada em Alkimia, o seu mais recente disco de estúdio, sem esquecer os singles mais conhecidos, como “Look Within”,  “Mag 7” e “Wolf Hour” de Hardware(2012). Donos de uma sonoridade algures perto do electro industrial, os Agent Side Grinder subiram ao Palco Corpo numa performance a ser marcada pelos passos de dança muito característicos do vocalista Kristoffer Grip. Em mais um concerto com direito a encore, os suecos subiram a palco com um convidado especial, Dirk Evens, a fim de interpretar “Go (Bring It) Back“, antes de encerrarem o Entremuralhas, sozinhos, com “Die To Live”, retirado de Irish Recording Tape(2009). Um concerto muito bem conseguido, sem falhas a apontar. Foi uma excelente escolha para a despedida, que voltem em breve.



 >> mais fotografias do concerto de Agent Side Grinder


Texto: Sónia Felizardo
Fotografia: Martinho Mota



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