Ought
Sun Coming Down

| Setembro 23, 2015 9:34 pm
Sun Coming Down // Constellation Records // setembro de 2015
8.6/10

Três meses depois da estreia em território nacional para a apresentação de More Than Any Other Day, os Ought lançam agora Sun Coming Down, o segundo disco de estúdio pelo selo da Constellation Records. Formados em Montreal, em 2012, foi na casa compartilhada, enquanto estudantes universitários, que os Ought começaram a tecer os primeiros acordes do que viria a ser uma das bandas revelação na cena alternativa musical da atualidade. Não eram os Ought, mas tinha a mesma instrumentação básica. Gravado no ano de formação, New Calm EP, marca o primeiro registo discográfico do quarteto. A trazer a versão demo de um dos singles que é já um clássico, “Pleasant Heart”, em formato slow-motion e com uma produção completamente DIY, New Calm foi gravado no Hotel2Tango, o estúdio abaixo do edifício da Constellation Records. Depois da estreia nos discos, assinalada o ano passado, os Ought apresentam agora mais um registo da sua sonoridade pós-rock modernista.


Anunciado no início de julho, Sun Coming Down viu como single de avanço, o já conhecido ao vivo, “Beautiful Blue Sky”. O single, previamente apresentado no Parque da Cidade, numa versão demo, seria a primeira música de avanço deste segundo trabalho, mostrando que a fórmula aplicada no disco de estreia não foi esquecida. Já na versão estúdio, é distinguida como uma das melhores canções do presente disco. Ainda sobre a única passagem pelo NOS Primavera Sound, os festivaleiros que esperaram por um dos últimos concertos do último dia, tiveram a sorte de ouvir “Clarity”, mais uma novidade presente em Sun Coming Down,  a mostrar um lado mais punk na sonoridade habitual dos Ought. E mais um dos grandes malhões deste novo disco, a intercalar uma exploração de novos géneros. Num total de dez canções mostradas, os Ought tocaram quatro que seriam completamente novidade. 


“Men For Miles”, segundo single extraído na apresentação deste novo disco, mostra à semelhança de “Celebration”, como algumas influências do punk-rock se começam a refletir cada vez mais nas novas composições dos Ought. E há ainda “Sun’s Coming Down”, uma pequena ode aos Sonic Youth.  “Never Better”, por sua vez,  traz nos vocais uma forte influência aos Bauhaus, e soma-lhe uns riscos de desafinação na guitarra. Se acima se falava de malhões, a música de encerramento de Sun Coming Down é, possivelmente, um dos melhores arranjos sonoros presentes na discografia do quarteto. Quanto à lírica, é igualmente visível um forte interesse no pós-punk: “Your dark side // You find it // There’s nothing here, boys” (“Men For Miles”), “All comes back here when I // Hang my head and cry out  // It’s too much all for you // It’s too much all alone” (“Passionate Turn”); “I’m no longer afraid to die // Cause that is all that I have left” (“Beautiful Blue Sky”).


Sun Coming Down traz uma produção mais interessante que More Than Any Other Day, e apresenta uma sonoridade mais densa e pesada que se reflete, posteriormente, numa atualização das ideias presentes no primeiro LP. O facto de se tornarem tão aclamados, logo após uma estreia pela Constellation Records, fez dos Ought melhores músicos e trouxe música de qualidade. Tal como afirmou Tim Keen em entrevista “I am mostly interested in bands that are entirely concerned with the quality of their work and nothing else”. Sun Coming Down aplica ainda, no geral, características do minimalismo, uma delas logo retirada pela cover-art do disco. A utilização das cores mais básicas, e de algum espaço vazio, refletem um álbum com tonalidades positivas – transmitidas pelas cores quentes – onde o espaço negativo é aplicado como esqueleto. As músicas completam a ideia. Acordes simples, riffs retos e canções produzidas sem preocupações relativas à existência de muitos elementos. Um bom disco para o final de época.
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