Cinco Discos, Cinco Críticas #10

| Novembro 1, 2015 9:56 pm
EP5 // self-released // outubro de 2015
8.0/10

Os portugueses Galgo estrearam-se este ano nos discos, trazendo cá para fora o curta duração EP5. Composto por quatro canções, das quais “Trauma de Lagartixa” e “Torre de Babel” serviram como singles de ante-estreia, os Galgo apresentam um EP bastante coeso e um bom pontapé de avanço para a discografia que aqui iniciam. Depois de uma ida até à Hungria e passagens pelo Reverence Festival Valada e, mais recentemente, o Jameson Urban Routes, o quarteto desaproxima-se da fidelidade a um só género e explora campos que vão do rock alternativo ao math rock juntando-lhes um ritmo muito próprio.  Com um rumo mais dirigido para o campo do instrumental, o foco da maioria das composições, os Galgo apostam fortemente em loops que tão depressa fazem lembrar Memória de Peixe como se transformam na atmosfera psych de Black Bombain (ouvir “Trauma de Lagartixa“). “Dromomania”, por sua vez, aposta em atmosferas mais tropicais finalizando-se, progressivamente, naquele que é um dos momentos mais bem conseguidos do presente longa-duração. EP5 apresenta-se, assim, como uma estreia muito bem conseguida e a merecer um selo honorífico.

Sónia Felizardo





Vega Intl. Night School // Mom and Pop/Transgressive // outubro de 2015
8.8/10

O novo álbum de Neon Indian nasceu de um acontecimento menos fortuito. O seu computador foi roubado numa altura em que possuía as demos daquele que seria o sucessor de Era Extraña, obrigando o artista americano a começar um novo projeto, resultando, assim, no fim do som chillwave que caraterizava o trabalho de Alan Palomo. Neon Indian traz, neste novo disco, o som mais pop, funk e ao mesmo tempo eclético que alguma vez produziu, relembrando algumas das coqueluches da música popular da década de 80, nomeadamente Prince. “Annie” é um dos singles com mais groove do ano, e um dos melhores temas deste verão. O segundo single do álbum, “Slumlord”, traz mais uma vez os ritmos funky fundidos com elementos disco. “Techno Clique” é mais uma das faixas destaque deste trabalho, capaz de pôr qualquer um a dançar. Com uma produção impecável e transições muito bem conseguidas, Neon Indian traz-nos um álbum caraterizado por um som cativante e animado, refrões catchy e inspirados nos tons coloridos e brilhantes da vida noturna, numa paisagem muito retro e decorada em luzes neons e casacos de cabedal. Um grande álbum que marca uma nova fase no trabalho de Alan Palomo e que que se destacará nas futuras listas de melhores álbuns do ano.
Filipe Costa



Live Forever // Mr. Muthafuckin’ eXquire // outubro de 2015
7.0/10


Mr. Muthafuckin’ eXquire é (literalmente) um dos maiores vultos do hip hop underground Norte-Americano. Talvez lhe conheçam as cordas vocais depois da sua prestação na faixa “Fluxo” de Atlas, o disco de estreia do português Branko. Mas muito antes dessa colaboração já eXquire tinha cruzado microfones com grandes como El-P e Killer Mike (antes mesmo de estes formarem a dupla Run The Jewels) com os Das Racist (antes destes ficarem extintos) e com Danny BrownDepois da mixtape Kismet, eXquire regressa às edições com o EP Live ForeverEste começa com a faixa “Long Island Ice Tea”, na qual um vendedor de rua faz o seu discurso de vendas no seu local de trabalho — a rua. Este vendedor de rua comercializa substâncias psicotrópicas — matérias de exacerbada referência nas músicas de eXquireEm “Nostalgia”, eXquire faz uso de samples psicadélicos acompanhar as rimas — uma tendência iniciada em Kismet — recorrendo a vozes etéreas e baixos suaves — quase que ouvimos aqui o baixo que Thundercat tocou em You’re Dead!. Este corpo instrumental acompanha a sua narração das suas paixões de infância, do seu grande objectivo de vida (não ser definido pela sua geografia) e do seu sonho: viver para sempre. Duas faixas depois, em “Know Pain, No Gain” o mesmo eXquire hiper-sexualiza uma relação de amor-ódio acompanhado de um baixo mais pronunciado e de uma doce voz brasileira a apontar os ritmos. Apesar da densa carga sexual da faixa, eXquire começa de forma tímida a sua intervenção na mesma, ao pronunciar-se apenas depois de Phlegm. No final, ele afirma que, na verdade, ele era um rapaz que tinha medo de ser um homem que estava apaixonado por uma rapariguinha. E, lá no fundo, eXquire continua a ser esse rapaz. Em “Green Ranger”, ele coloca-se no papel de um super-herói, um rei com super-poderes que é demasiado importante para ser adaptado ao cinema. Esse super-herói — eXquire — é capaz de aniquilar tudo e todos e de conquistar todas as mulheres da Terra. No fundo, eXquire conquista em “Green Ranger” o sonho de qualquer rapaz adolescente introvertido que lê BD a mais. Toda esta narrativa é acompanhada de trechos sonoros de filmes de super-heróis de série B e de samples apoteóticos, bem ao estilo de qualquer conto que MF DOOM poderia ter protagonizado. Em “Blood On the Moon Pt. 1 & 2”, eXquire assume o papel de contador de histórias, qual Slick Rick a contar uma história a crianças. Uma história que começou por ser um simples romance e desenvolveu-se numa epopeia espacial. A última faixa “Gold Mouth Piranha” é um gesto de egocentrismo. eXquire é a piranha com os dentes de ouro de que a faixa fala. Essa figura imortal que não precisa de ninguém para se impor.“Ice Cups” (a única faixa de Live Forever que, até à data, teve direito a um videoclip) foi deixada para o fim por ser a faixa mais terra-a-terra do disco. Nesta, eXquire narra um dia na história de um jovem no gueto. Um jovem cheio de dúvidas e indecisões, mas com 3 certezas: a intenção de deixar uma marca no mundo; a intenção de continuar a beber; a intenção de continuar a foder. 



Talvez eXquire não seja assim tão diferente dos outros jovens da sua faixa etária e certamente não será assim tão diferente de nós.
No entanto, é decerteza melhor MC que a maioria de nós.


Free Gucci!

Eduardo Silva


Cara D´Anjo//Gentle Records//outubro 2015
8.3/10

Luís Severo aka Cão da Morte que na verdade é o Luís Gravito
e que, sim, também faz parte da banda Flamingos juntamente com Coelho
Radioactivo, lançou um novo álbum de longa duração. 

Cara D´Anjo, um álbum
de 8 faixas produzido pelo próprio Luís Severo e misturado pelo Filipe Sambado
e contou também com participações de peso como a de Júlia Reis, das manas
Pega
Monstro
e de Rodrigo VaiapraiaÉ um álbum que nos faz lembrar os discos do Variações e se
falarmos de vozes e cantautores da actualidade podemos falar da proximidade a
B
Fachada
em termos de sonoridade e mesmo de voz. Cara d´Anjo é um álbum que nos traz temas como o amor, o
medo de amar, o saber crescer e o crescer. 
Conseguimos sempre em todas as faixas presenciar melodias
harmoniosas que se fazem notar pela presença do órgão que, se fosse um ser
humano, dançaria como muitos vão dançar ao ouvir faixas como “Ainda é Cedo” ou ao
som da que, pessoalmente, ficou melhor 
obtida em termos de escrita e som
“Nita”, uma faixa que nos fala do esforço insuficiente pela pessoa que amamos. 
É bom ouvir cantar em português como canta Luís, é bom e
sabe bem dizer que o que é  nacional é bom.

                                                              Duarte Fortuna


Costela Ofendida // self-released // novembro de 2015
7.5/10

Costela Ofendida é o EP de estreia de GANSO, uma banda de indie rock com
algumas influências psicadélicas, a fazer lembrar projectos como Capitão Fausto
e Modernos, tanto na voz como nos instrumentais. O disco começa com uma das
suas melhores músicas, “Gansão”, um instrumental atmosférico que
serve como introdução à sonoridade da banda. Tem boas melodias de guitarra e
uma secção rítmica eficaz que muito contribui para o ambiente da música.
Segue-se “Lá Maluco”, uma canção não tão interessante como a primeira, mas onde
se destacam certas frases de guitarra e teclado. Depois de “Idalina”, o ponto
fraco do EP, toca o single “Pistoleira”. Simples, mas catchy em todas as suas
secções, é a canção que mais facilmente será cantada do início ao fim pelo
público nos concertos do sexteto lisboeta. Para acabar há “Salamandra”, que
compensa a sua introdução exageradamente longa com a muito boa secção
instrumental que ocupa a segunda metade da música, terminando o EP da melhor
maneira. Boa estreia de uma banda a não perder de vista nos próximos tempos.
Rui Santos
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