Niech
Niech

| Setembro 26, 2016 1:45 pm
Niechęć // Wytwórnia Krajowa // abril de 2016
9.5/10

Niechęć é o segundo disco de estúdio do quinteto polaco de jazz fusion do mesmo nome, os Niechęć. Formados em Warsaw, são atualmente compostos por Rafał Błaszczak (guitara), Maciej Szczepański (baixo), Michał Kaczorek (percussão), Tomek Wielechowski (piano) e Maciej Zwierzchowski (saxofone) e lançaram o primeiro disco – Śmierć W Miękkim Futerku – em 2012. Num registo 100% instrumental, os Niechęć mostram agora um segundo trabalho, homónimo, rico nas tradições do jazz nativo e extensivamente inspirado por elementos do post-rock e da film music. Um disco essencialmente avant-garde pelo experimentalismo futurista que lhe está intrínseco e uma banda a ter em atenção nos próximos tempos.

Niechęć é um álbum com uma abordagem que excede as expetativas daqueles que o vão ouvindo minuto a minuto, com atenção. Os polacos usam uma base de guitarra-baixo-bateria que utilizam em conjugação com a sobreposição do piano e saxofone. Esporadicamente utilizam outros instrumentos que conseguem denotar influências na música clássica, oiça-se por exemplo “Echotony”, onde o violino serve de introdução obscura a um single com um desenvolvimento musicalmente alegre, e que volta a encerrar com o violino, a solo. Na essência de tudo está o jazz, o grande monstrinho da perfeição musical.

Uma das músicas que facilmente fica na cabeça de um ouvinte deste Niechęć é “Metanol”. Impossível não ficar rendido às sonoridades do teclado que iniciam a música. O seu desenvolvimento também é construído nitidamente e apresenta um lado acid jazz com muito post-rock pelo meio, o que a leva a posicionar-se entre uma das melhores faixas deste disco. A produção é igualmente polida e resulta num álbum dinâmico e ousado.


No geral o saxofone é o instrumento que mais se destaca neste segundo registo. Músicas como “Koniec” – grandioso e intergalático single de abertura (um maravilhoso single para a soundtrack de Solaris de Andrei Tarkovski) – e “Atak” – de uma intensidade brutal -, são duas malhas que ficariam apagadas no álbum sem a presença do saxofone. Os Niechęć conseguem neste homónimo levar-nos aos extremos da música passando algumas vezes pelo desconforto, outras pelo puro êxtase. Há consistentemente uma mistura constante de compassos musicais e sonoridades que se refletem nas diferentes sensações provocadas no ouvinte. A cover-art, com aquele miúdo esquisito, enquadra-se muito bem como cenário descritivo do que se vai ouvir. Quatro anos depois da estreia os Niechęć pensaram em tudo e lançam aquele que é a obra prima da sua (ainda) curta carreira.

O jazz por si só é um género extremamente exigente e onde não há espaço para falhas, os Niechęć mostram que é possível transcender limites e regras e aproveitar as falhas e desafinações de instrumentos, para criar melodias através desses lapsos criados propositadamente. Niechęć é um dos grandes discos do ano e também um dos mais iventivos. Em cerca de 45 minutos de duração os polacos mostram um disco extremamente coerente com oito composições que mostram um jazz-fusion-rock que se quer ouvir. Os Niechęć são oficialmente a melhor nova banda e Niechęć o melhor novo álbum.

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