The Sunflowers
The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy

| Setembro 27, 2016 7:00 pm

The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy // O Cão da Garagem // setembro de 2016
8.0/10



Muito tempo passou desde a eclosão do género musical garage rock. Os The 13th Floor Elevators conheceram o apogeu da sua fama com o lançamento do single “You’re Gonna Miss Me”. Em 66, contudo apenas passado 3 anos, Erickson (vocalista dos mesmos) foi internado num hospital psiquiátrico. Na capital dos Estados Unidos da América, uma banda chamada The Sonics lança um álbum, Here Are The Sonics. Algures pela California, os The Seeds lançam o seu primeiro álbum em 1966, e em 1969, Michigan, um jovem Ron Asheton, que tocava numa banda chamada The Stoogestransforma três acordes numa mítica música chamada “I Wanna Be Your Dog”.

Passemos para o ano de 1997. Um salto algo drástico, mas não aleatório. Ano de nascimento da banda californiana Thee Oh Sees que trouxe consigo uma revolução musical fazendo ressurgir este género, semi-morto e substituído pelas texturas mais agressivas do punk rock e influenciando inúmeras bandas e artistas desde Ty Segall, os Black Lips, o Jay Reatard e os mais recentes King Gizzard and the Lizard Wizard.

Passemos a 2014, ano de criação do duo portuense The Sunflowers. Após inúmeros concertos por todo o país e o lançamento de dois EP’s e vários singles, finalmente a banda de Carlos de Jesus (guitarra e vozes) e Carolina Brandão (bateria) têm o prazer de brindar os seus fãs com o seu primeiro álbum longa duração.

Estes, para além de serem uma das bandas mais trabalhadoras da atualidade, possuem o dom de saber escolher as suas influências corretamente, sabendo o que devem ou não consumir. Por exemplo, logo a abrir este álbum é nos atirado à cara “Cool Kid Blues”, com uns power chords capazes de fazer sangrar os ouvidos de qualquer ser humano, contudo, passado esta apresentação, Carlos de Jesus, na guitarra, mostra um riff a lembrar “Lucifer Sam”, musica do primeiro álbum dos Pink Floyd (ainda sobre a alçada de Syd Barrett), tocada com mais agressividade, desleixo e velocidade.

O álbum é constituído em grande parte por musicas já lançadas, como “Zombie”, “Hasta la Pizza/Rest in Pepperoni” ou “Charlie Don’t Surf” e por isso perde um pouco o elemento surpresa. Porém é sempre interessante ouvir as novas versões de músicas outrora gravadas num estilo mais lo-fi, caso da segunda faixa “The Witch” com a sua vibe depressiva à lá Wavves. As primeiras notas de “Mountain” transpiram a spaghetti western e o som explosivo da guitarra faz-me lembrar a faixa que fecha o mais recente álbum dos King Gizzard & the Lizard Wizard,“Road Train”.

 

Na terceira faixa encontramos um dos primeiros destaques do álbum, “Charlie Don’t Surf”. Esta música, bem ao estilo do surf rock dos anos 60, com influências claras da “Have Love Will Travel” dos The Sonics, fala sobre o estilo de vida de Charlie, alter-ego de Carlos, que prefere ficar em casa todo o dia a fumar substâncias ilícitas em vez de ir conviver e surfar como o resto das pessoas. Contudo, o surf rock não fica por aqui e em “Post Breakup Stoner” continuamos a onda das letras ingénuas. Embora esta não seja sobre o alienamento da sociedade é sobre, tal como indica o nome, corações partidos.


A guitarra acústica descuidada de “I Wanna Die” é a introdução perfeita para “Zombie”, aquele que é um dos meus momentos preferidos deste álbum. A partir do momento em que uma música apresenta uma linha de baixo tão intrigante e ameaçadora como simples sabemos que nos estamos a preparar para algo em grande. O fuzz e o feedback imperam nesta música que é das que melhor define o estilo dos Sunflowers, não só com o instrumental punk rock mas também com uma letra rica em hipérboles e ficção científica.

“Talk Shit / People Suck” e “Forgive Me, Father, for I Have Sined” tem a ingrata tarefa de estarem comprimidas entre “Zombie” e “Hasta la Pizza / Rest in Pepperoni” (já falarei desta), momentos estes que se destacam por serem as duas melhores musicas do álbum, por isso podem passar algo despercebidas. A primeira marca o regresso ao surf-punk, e a letra como é de esperar critica a sociedade, mais especificamente aquelas pessoas que gostam de criticar os hábitos menos saudáveis dos jovens. A parte mais interessante da música é a onda paranóica que esta invoca. A frase “Everybody knows you’re high / they can see it in your eyes” é aquele pensamento que já passou por todos os stoners enquanto caminham pela rua. A segunda faixa continua a criticar a sociedade, contudo de uma forma mais direta e crua.

Chegamos então aquele que é o momento mais Sunflowers de todo o álbum. Se “Zombie” conquista pelo minimalismo, “Hasta la Pizza/ Rest in Pepperoni” é a maior epopeia de todo o álbum. Harmónicas, solos de guitarra, pizzas, coca cola, batatas fritas e aquele riff inspirado na “You Gonna Get It” dos Coachwhips, antiga banda de John Dwyer, líder dos Thee Oh Sees. O exemplo perfeito do que é o garage rock em 2016.




Na última faixa do álbum, que partilha o nome com o álbum, finalmente encontramos o Red Cowboy, última personagem do imaginário da banda, e sentimo-nos satisfeitos. Foi uma bela viagem que deixa a sensação de que em Portugal não existe ninguém a fazer música tão boa e completa dentro deste género. Basicamente, em terras lusitanas quem tiver vontade de entrar na batalha pelo titulo Nacional de Garage Rock tem aqui o campeão actual. Contudo, The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy não é nenhum Slaughterhouse, ou um Floating Coffin nem um I’m In Your Mind Fuzz. Os Sunflowers podem ter conquistado o seu país natal mas ainda tem muito mais para crescer. Mas também, para uma banda que foi formada em 2014 e cresceu desta forma, acredito que podemos esperar com um sorriso na cara para ver o que vai acontecer nestes próximos dois anos.


Texto: Hugo Geada
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