Cinco Discos, Cinco Críticas #20

| Novembro 1, 2016 3:09 pm
Renovámos a rubrica Cinco Discos, Cinco Críticas. À 20ª edição, e ao assinalar 100 críticas publicadas, pareceu a altura certa para garantir ao leitor uma maior interação com os conteúdos publicados nesta rubrica mensal. Acrescentamos uma nova imagem e introduzimos a possibilidade de reproduções dos singles/álbuns completos. Disfrutem.

SWARM // Sacred Bones // abril de 2016
6.0/10

Os BAMBARA formaram-se em 2009 na Geórgia e, atualmente sediados em Brooklyn, contam na discografia com dois discos longa-duração DREAMVIOLENCE(2013) e SWARM, editado este ano. SWARM foi inicialmente editado em formato self-release mas conta agora com o selo da Sacred Bones e, como habitual da editora, apresenta uma camada de tonalidades negras, um punk noise e desenfreado e a voz de Reid Bateh que é muito similar à de Elias Rønnenfelt dos Iceage. Músicas como “All In Soon” e “I Don’t Mind” também fazem relembrar, por vezes, as guitarras dos trabalhos de King Dude. Os BAMBARA têm no entanto um erro crasso em SWARM, que é notório com as constantes reproduções. Há pouco espaço para a experimentação e inovação ao nível do post-punk e noise rock que lhes faz juz à base composicional. E, embora tenha guitarras que tirem a energia (Oiça-se por exemplo “Filled Up With Night”), noise revolucionário (“I Can’t Recall”) e músicas 3spooky4me (“In Bars”, “As Her”), SWARM não é um disco feito para se destacar.



Sónia Felizardo




Black Hole Space Wizard: Part 1 // self-released // agosto de 2016
7.5/10

Imaginem que passaram um fim de semana a comprar pedais de
fuzz e a jogar jogos de fantasia. Provavelmente, foi isso que este trio de Nashville
fez e, diretamente da cave da mãe destes, surgiu a primeira parte da ópera de
rock cósmico banhada em fuzz chamada Black Hole Space Wizard.
Apesar de se situarem algures entre os territórios do doom stoner, os Howling Giant beneficiam ao deixar de parte um dos “clichés” do género e
adotar uma duração mais curta nas músicas, (as três primeiras nem chegam a atingir
os cinco minutos e a última possui sete minutos). Este EP torna-se bastante mais
acessível, menos repetitivo e mais interessante.
Se as letras vão beber aos Monster Magnet, o instrumental
consome uns Mastodon em peso bruto. O resultado é um álbum diferente do que
estamos habituados a ouvir, que apesar de não ser o álbum mais brilhante ou
original do ano deixa-nos com água na boca para descobrir as aventuras que se
vão passar na parte 2 desta saga espacial.


Hugo Geada



Nightbound // self-released // novembro de 2016

8.0/10


Os ucranianos KROBAK começaram como o projeto a solo do guitarrista Igor Sydorenko (Stoned Jesus, Voida, Arlekin) que lançou oficialmente o primeiro disco post-rock da Ucrânia, em 2008 com The Diary Of The Missed One. Depois de uma pausa para se focar nos Stoned Jesus, em 2012 os KROBAK surgem como banda com Asya no baixo, Natasha na bateria e Marco no violino. É com o segundo disco, Little Victories(2013), que os KROBAK apresentam um ar fresco no post-rock e misturam instrumentos que lhe dão um ar progressista. Nightbound é assim o terceiro disco de estúdio do quarteto e é feito de quatro singles que apresentam uma sonoridade poderosa e inspiradora pelo experimentalismo que acrescentam à sua base post-rock. Com uma duração aproximada a 42 minutos, o quarteto faz uma música cheia de paixão e preenchida pelo som do violino. Nightbound não é um disco qualquer de post-rock, apresenta-se antes como um álbum bem pensado, coerente e perfeito para ouvir em ambientes distintos. Se “No Pressure, Choice is Yours” abre numa sonoridade de tonalidades folk, “So Quietly Falls The Night”, por sua vez, inicia em tom de balada. “Stringer Bell”, no seu volver, é uma viagem incrível a vários mundos. Em ambas os ucranianos aplicam uma mudança na composição sonora e transformam por completo o início. Uma história em cada música e um disco que fica registado como um disco a ouvir, aqui





Sónia Felizardo


Marina // Colado // setembro de 2016

6.9/10

Os NOOJ são Miguel Afonso e Skronk (Guilherme) de Almeida.
Formaram-se durante o processo de gravação do álbum de estreia dos Old Yellow
Jack
e em setembro editaram o seu EP de estreia Marina, que conta com 6 canções
novas.  São 15 minutos de pura descarga elétrica
e distorção em que os maiores destaques vão para os temas “Ambi-ent”, com o seu
lado etéreo, e o cativante single de apresentação do projeto, “Ostras e
Champagne”. Este último aposta numa composição e lírica mais trabalhada. As
influências de No Age são óbvias, tanto pela sonoridade como pelo próprio nome
do projeto.  Relativamente a Old Yellow
Jack
, poucas são as semelhanças a nível de sonoridade, sendo que as músicas até
são cantadas em português. Pode-se afirmar que Marina não inova no que diz
respeito ao noise pop e rock, sendo um esforço agradável por parte do duo. 


Rui Gameiro




Telefone // self-released // julho de 2016
7.0/10

A rapper de Chicago conhecida por Noname Gipsy, que recentemente retirou o Gypsy do seu nome artístico, é Fatimah Warner. Fatimah tinha já trabalhado com  Chance the Rapper e Mick Jenkins, também artistas up-and-coming, mostrando um talento fora do normal tanto para a sua lírica como para a sua flow.
O seu primeiro projeto, uma mixtape chamada Telefone, anunciada já há 3 anos, finalmente saiu e com um nome diferente: Noname. E o talento que se tinha visto mostrou-se elevado nesta mixtape: são 10 faixas de hip-hop especialmente relaxado, com uma produção ainda mais descontraída, letras introspetivas, amorosas e socialmente conscientes que só poderiam vir de uma inteligência e atenção ao mundo que a rodeia. Na segunda faixa, “Sunny Duet” com o artista de R’n’B The-Mind, canta sobre uma paixão que não era retribuída e filosofa sobre a transitoriedade da atração e da infelicidade que vem de quando o encanto é unilateral. Em “Casket Pretty”, rima sobre os perigos que os homens e mulheres negras correm todos os dias, especialmente em Chicago. A penúltima música, “Bye Bye Baby”, é sobre a renitência em reconhecer um aborto e todos os dilemas que advêm de uma experiência tão traumática. Um trabalho variado, astuto e muito bem organizado por uma artista que, certamente, vai causar impacto daqui a uns tempos.



Leonardo Pereira

FacebookTwitter