Cinco Discos, Cinco Críticas #28

| Agosto 7, 2017 8:28 pm

Os !!! (Chck, Chck, Chck), Ty Segall e os Siena Root marcam presença no país antes do findar do ano e os seus novos trabalhos recebem agora destaque nesta nova edição do Cinco Discos, Cinco Críticas. Já Ifriqiyya Electric, que surpreenderam no Milhões de Festa vêm agora destacar-se o novo Rûwâhîne. Por fim, Brutalism, o novo disco dos post-punkers Idles, que tem já criado murmurinhos entre a imprensa.

Brutalism // Balley Records // março de 2017

7.0/10



Em 2012 os londrinos Idles lançaram o EP Welcome, o primeiro registo de uma banda que só se viria a consolidar em formato quinteto, por volta de 2014 com o segundo EP Meat (que recebeu um tratamento de remisturas sob o nome meta), que definiu a base onde os Iddles trabalhariam. Numa sonoridade posicionada entre os campos do punk, noise-rock e heavy post-punk os Idles apresentaram em março o seu primeiro longa duração. Intitulado de Brutalism, o álbum estava em processo de composição quando a mãe do vocalista Joe Talbot faleceu, o que influenciou o foco da banda neste disco de estreia e é marcado na cover-art do disco. Brutalism é um LP ritmicamente acelerado, cheio de guitarras rasgadas e um baixo poderoso, que apresenta uma visão sincera sobre a sociedade. Num conjunto de 13 canções os Iddles apresentam um álbum interessante, que se destaca essencialmente em singles como “Well Done” – pelo confronto com a sociedade de consumo moderna (que se perpetua em “Mother”), – “Faith in the City” e “Exeter”, a fazer lembrar as sonoridades de Iceage e Interpol, respetivamente.
Apesar de não ser um dos grandes lançamentos do ano, Brutalism destingue-se essencialmente pelo seu conteúdo lírico e confronto para a ação. O punk, definitivamente, não está morto.


Sónia Felizardo

Rûwâhîne // Glitterbeat Records // maio de 2017
8.4/10

Oriundo de projectos como Putan Club ou L’Enfance Rouge, do músico e compositor François Cambuzat e da baixista Gianna Greco surgem os Ifriqiyya Electrique. Comecemos por desmontar o nome Ifriqiyya que para muitos poderá ser um obstáculo linguístico. O nome e o conceito pelo qual se prende este projeto vem da origem de cada um dos seus membros. Itália, França e Tunísia onde conheceram quem os iluminasse para esta nova fase das suas vidas.
Rûwâhîne é um hino do trance moderno, com guitarras pesadas, com percussão acelerada que se adequa ao ritmo de vida dos nossos dias e é isso que este álbum nos faz lembrar. O álbum dos sons do suburbano, da ghettificação moderna, dos concrete blocks de onde surgem inúmeros talentos musicais.A destacar neste álbum faixas como “Annabi Mohammad- Laa Ia illa Allah-Deg El Bendir” e “Lavo- Baba Marzug- Sidi Saad-Allah” que faz despertar o lado da mistura entre o sagrado, não fosse este álbum na sua totalidade um ritual, e o industrial através do seu seu rock post-industrial.
Duarte Fortuna
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Fried Shallots // Drag City // julho de 2017

4.0/10 



Ty Segall lançou um terceiro disco este ano. A suceder o álbum homónimo lançado em janeiro e o EP Sentimental Goblin, de março, está Fried Shallots, EP lançado para apoiar a ACLU (American Civil Liberties Union). Composto por 6 faixas, o disco é, no geral, mais do garage rock ao qual Ty nos habituou, nada de novo. Isso não seria um problema se as músicas de destacassem em relação ao que mais há no género, mas Fried Shallots está longe dos melhores lançamentos do seu autor. Não há riffs memoráveis e as músicas, quando tentam, não conseguem transmitir totalmente a energia e intensidade de outros trabalhos dele. É, na sua maioria, um EP inofensivo e algo indiferente. A maior surpresa é “When the Gulls Turn to Raven”, onde Ty Segall sai da garagem e aposta no uso de guitarras acústicas e num som mais calmo. “Another Hustle” também começa bem, com um bom uso de teclado, percussão e guitarra, mas é demasiado repetitiva para o seu bem e não cumpre o seu potencial. Infelizmente, também é marcada por um fraco solo de guitarra. Provavelmente por ser a última música de um disco demasiado repetitivo, “Talkin” torna-se bastante cansativa no contexto do EP e parece desnecessária. Ouvindo-a separadamente, percebe-se que é uma canção agradável, prejudicada pelo seu posicionamento no disco. Dentro das faixas ainda não referidas, “Is It Real” é a melhor conseguida. Um EP com algumas músicas que podem agradar a fãs do género, mas que deixa muito a desejar em comparação com muitos outros discos de artistas semelhantes.





Rui Santos



Shake The Shudder // Warp Records // maio 2017

8.0/10

Mantendo a regularidade de lançamentos a que nos habituaram desde 2013 (um album a cada dois anos) os !!! lançaram o seu tão esperado sétimo longa duração, Shake The Shudder.  
Nas primeiras vezes que ouvi este disco soou-me bastante como os mais antigos (pré Thr!!!er) mas escutando com mais atenção passa a soar a uma compilação de sonoridades de cada um dos discos havendo pouca coesão ao longo do mesmo. Outro ponto negativo e o último que tenho a apontar é para a novidade:  a inclusão de um interlúdio, algo inédito num disco de !!!. Esta pequena faixa de cerca de um minuto nada acrescenta ao álbum, quebra a fluidez e apesar do seu objectivo ser introdução de “Dancing Is The Best Revenge” (é o que deduzo do seu nome “DITBR”) não o faz de uma muito clara aumentando a confusão.
Como ponto positivo (e superando quaisquer negativos) este disco continua a ser dos !!! logo está recheado da energia contagiante de Nic Offer e o seu grupo, contando com canções que ficam no ouvido deixando uma vontade de dançar permanente. Não sendo melhor que Thr!!!er ou que As If contém “The One 2”, “NRGQ” e “Throttle Service” que se juntaram às dezenas de canções incontornáveis destes californianos.
Em suma: Shake The Shudder é mais do mesmo vindo dos !!! logo cerca de 50 minutos de música de excelente qualidade e fortemente dançável. Recomenda-se a ouvir em aleatório misturado com o resto da discografia da banda (ou pelo menos os temas com refrões mais “catchy”).

Francisco Lobo de Ávila 

A Dream of Lasting Piece // M.i.G. Music // maio de 2017
7.5/10

O quinteto sueco, Siena Root, no seu sexto álbum de estúdio mostra uma forte estima pela música da década de 70, mostrando uma forte influência do hard rock misturado com blues dos Led Zeppelin e pelos órgãos distorcidos, que lideram grande parte das músicas, ao estilo do falecido Jon Lord dos Deep Purple. Com o típico “sabor” a verão que esta banda costuma enfatizar nas suas músicas, especialmente na faixa que encerra o álbum, “The Echoes Unfolds”, podemos esperar ainda linhas de baixo que deambulam por toda a escala, guitarras com a quantidade certa de distorção e longas jams que permitem que todos os músicos brilhem à sua maneira. 
A banda que vai estar em Portugal no festival Reverence Santarém e, apesar de não estar a reinventar a roda neste lançamento, está a prestar-lhe culto e a revelar o profundo amor por tudo aquilo que ela representa.


Hugo Geada

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