10 000 Russos em entrevista: “Não sei se gastamos mais em café do que em portagens”

10 000 Russos em entrevista: “Não sei se gastamos mais em café do que em portagens”

| Setembro 18, 2017 11:59 pm

10 000 Russos em entrevista: “Não sei se gastamos mais em café do que em portagens”

| Setembro 18, 2017 11:59 pm

Os portuenses 10 000 Russos estão em mais uma digressão pela Europa, a segunda este ano, a qual teve início no passado dia 8 de setembro, no Reverence Festival. Ao todo são 52 concertos em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Croácia, Suíça, Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Polónia e Escócia. A tour de apresentação de Distress Distress, segundo álbum de estúdio do trio que editado em abril pela Fuzz Club, termina a 18 de novembro com a banda a fazer a primeira parte do concerto dos The Fall no Hard Club.


Estivemos à conversa com o Pedro Pestana, guitarrista da banda. 


Threshold Magazine (TM) – Como é que chegaram ao número 10 000?

Pedro Pestana (PP) – É uma piada com o Demis Rousos, basicamente. Soa bem.

TM – Foi rápido chegar a essa ideia?

PP – O pessoal estava na tanga numa noite de copos e esse nome surgiu.

TM – Quais é que são as maiores diferenças entre este disco novo, Distress Distress, editado em abril, e o álbum homónimo editado em 2015?

PP – Por um lado, está mais limpo mas está mais sujo. Já pareço o Martin Hannett a falar. Eu nem sequer sei se o gajo disse isso mas pode ser daquelas anedotas que contam sobre o pessoal, tipo histórias verídicas. O gajo virou-se para o baterista dos Joy Division e disse: “Toca mais depressa mas mais devagar”. 
No Distress Distress as malhas estão diferentes, mas os princípios são mais ou menos os mesmos. É mais equilibrado, com a gravação ao vivo, todos ao mesmo tempo, e com a gravação à vez, às pistas. Houve malhas que construímos no estúdio. 

TM – É a forma clássica que costuma ser gravada.

PP – Prefiro gravar com toda a gente ao mesmo tempo.

TM – Fica um resultado diferente. Têm um som mais “ao vivo” em estúdio.

PP – Com uma sala boa e bons micros, consegues reduzir esse bleed ao mínimo. Também ao volume que a malta toca, só podes eventualmente ter problemas com a bateria, com os bombos, mas não é nada que não se resolva. Ficas é com o que interessa, a pica de não seguir o metrónomo, de estar a malta ao mesmo tempo.

TM – Ficam também com alguma preparação para tocar ao vivo. Ao vivo necessitam ter outros elementos diferentes de estúdio, para uma pessoa não pensar que está em estúdio.

PP – Nós ao vivo não tocamos as coisas da mesma forma, muito menos as que foram feitas em estúdio. Há cenas que não dá mesmo.





TM – Como é que se sentem por fazerem parte de uma editora tão conceituada como Fuzz Club Records?

PP – Foi um ótimo convite da parte deles. Eles viram um concerto nosso no Reverence 2014 e gostaram. Eu achava que estás estórias só haviam nos anos 90. Foi um bom momento.

TM – Vão começar a vossa tour europeia no Reverence e acabaram uma há pouco tempo, em junho. Como é que conseguem arranjar tanta energia para duas tours europeias assim quase seguidas?

PP – Não sei se gastamos mais em café do que em portagens, agora que falas nisso (risos).

TM – Alguma vez tiveram medo de tocar nalgum país?

PP – (Risos) Nunca fomos a nenhum sítio em estado de guerra. Já fomos a sítios com códigos estranhos.

TM – E receio de por terem “russo” no vosso nome?

PP – Só por ser russo, quer dizer que é mais giro?

TM – Imagina que tocavam nos USA, como é que era? 

PP – Nos U.S.A. não, isso é outro empreendimento. A malta às vezes pergunta por causa do nome e nós vamos dando respostas da tanga.

TM – Já tocaram na Rússia?

PP – Não mas faz parte dos objetivos. Uma coisa de cada vez.

TM – E que reações é que esperam se lá atuarem?

PP – Que nos atirem pedras (risos).

TM – “Épa, estes gajos chamam-se russos e não cantam em russo sequer”.

TM – Gostavam de atuar em mais festivais em Portugal? Eu frequento vários festivais e nunca vos apanhei. Espero agora apanhar-vos a abrir para The Fall, mas não é festival.

PP – Depende. Às vezes é uma questão de calendário e outras vezes é uma questão de circunstância.

TM – Vocês têm uma história que envolve a ETA. Queres contar?

PP – Acho que isso é um mito. Não sei se o desmistifique ou aprofunde. 
Nós tocámos num festival no país basco. Era para apoio aos presos da ETA, de certa forma. O governo espanhol tem os presos da ETA na Andaluzia, e as famílias e os próprios presos queixam-se que não é fácil viajar em Espanha, são muitas horas de carro, por isso não vêem as famílias, etc. São considerados presos terroristas, segundo o governo espanhol. Isto é os bascos a reinvindicarem alguns direitos para os presos. Desmistificando, é só isto (risos). Fomos a única banda estrangeira a tocar nesse festival, o que teve piada.


TM – Como é que se sentem a abrir para The Fall no Hard Club, a 18 de novembro?

PP – É fixe, é uma banda que a gente curte e temos encontrado na estrada montes de gente cuja música ouvimos em casa. The Fall ouvimos desde a adolescência, o que torna a coisa com piada. Não estamos à espera de grandes festas. Já é fixe ver o concerto, espero que seja dos bons.

TM – Estás à espera de fazer parte de The Fall?

PP – Achas que sim?! Não sou maluco, meu! (risos). Acho fixe a banda mas não tenho essas cenas adolescentes.

TM – Olha que o Mark E. Smith diz que basta ser ele e a tua avó para ser The Fall.

PP – Aquilo é uma banda de malucos. Tens de ler um livro sobre os membros dos The Fall,  The Fallen: Life In and Out of Britain’s Most Insane Group. Em 30 e tal anos, os The Fall tiveram uns 50 ou 60 membros. Só o Mark E. Smith é que ficou a tocar, aquilo é o projeto dele. Mete sempre a namorada a tocar, teve um baixista a tocar durante muitos anos, o Steve Hanley. Recruta pessoal no pub que não sabe tocar e que não conhece a cena dele. Ele não está numa de aturar gente normal. O gajo não quer fãs, é fixe isso.

O manager dos Chemical Brothers é que já tocou nos The Fall. Deu um concerto com a banda porque o gajo tinha despedido o baterista nesse dia. Então andaram no festival a procurar alguém para tocar bateria. Esse manager disse que era ganda fã, e perguntou que músicas é que queriam que ele tocasse, ao que o Mark E. Smith respondeu: Não te preocupes, o material é todo novo. Toca um beat.

TM – O que tens andado a ouvir nestas últimas semanas?

PP – Tenho andado em misturas, por isso não tenho ouvido muita música, para ver se poupo os ouvidos. Estou a misturar o disco dos dreamweapon, vai ser pela Fuzz Club também para o ano ou ainda este ano. Tenho também de misturar um disco ao vivo nosso. Vamos lançar um agora, um concerto em Dusseldorf. 



 As datas completas da digressão europeia podem ser consultadas abaixo.

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