Reportagem: EDP Vilar de Mouros 2017

Reportagem: EDP Vilar de Mouros 2017

| Setembro 18, 2017 6:27 pm

Reportagem: EDP Vilar de Mouros 2017

| Setembro 18, 2017 6:27 pm

No passado dia 24 de agosto arrancou a edição de 2017 do mítico festival Vilar de Mouros. Este ano com o patrocínio da EDP e com a mesma organização que, apesar de não muito experiente, garantiu o enorme sucesso de duas edições consecutivas do festival. Os principais destaques musicais deste ano eram os Primal Scream, The Jesus And Mary Chain e The Psychedelic Furs, mas a gastronomia também foi bastante destacada como, por exemplo, as tão anunciadas papas de Sarrabulho (que apenas estiveram disponíveis no último dia e em quantidades muito limitadas).


Esta reportagem segue como um conjunto de memórias e do que perdurou de mais uma edição bem sucedida do festival.



Dia 1

The Veils

A abertura da edição de 2017 do EDP Vilar de Mouros coube aos The Veils. Apesar da sua carreira com mais de 15 anos, a banda optou por se focar no mais recente trabalho, Total Depravity. Um concerto onde os principais destaques foram “Axolotl”, tema que a banda também executou num dos episódios da mais recente temporada de Twin Peaks, “Low Lays The Devil” e o chapéu característico de Finn Andrews. Um concerto bom que, infelizmente, passou muito despercebido por ter sido inserido no dia com os melhores concertos. 



The Young Gods



Num registo em nada semelhante ao do concerto anterior, os helvéticos The Young Gods lançaram um ambiente de rock industrial sobre o recinto. Na memória ficou, sobretudo, a lanterna na base do suporte do microfone do vocalista que o mesmo apontava ocasionalmente para o público e o ambiente denso que, por mais estranho que pareça, convidava à dança, uma vontade de dançar só mais tarde rivalizada pelo último concerto da noite.



The Mission

Formados por antigos membros de Sisters Of Mercy, em 1986, e cedo criando uma identidade e canções poderosas, os The Mission marcaram uma geração. O concerto que apresentaram em Vilar de Mouros pode ser visto como um “best of” (ainda que com uma duração muito limitada) da banda. 

As canções ouvidas eram as que os presentes queriam ouvir, as que os marcaram e que os fazem regressar à juventude. Isto aliado ao facto da banda realmente as executar com muita qualidade, criou um concerto memorável mesmo para aqueles a quem a banda pouco significa (como é o meu caso). Pensando no concerto, são muitas as memórias que surgem: um grupo de fãs que lançou confetis durante “Wasteland”, Wayne Hussey a anunciar saber falar um pouco de português e as canções “Met-Amor-Phosis” e “Deliverance”.



The Jesus and Mary Chain

Apesar do novo álbum, depois de uma espera de 19 anos, Damage And Joy, ter desiludido muitos fãs, o primeiro dia do festival foi o que registou maior afluência e a principal causa foram os The Jesus and Mary Chain.

Iniciando com “Amputation” do novo disco e, sem perder tempo, passando para o clássico “April Skies”, a banda conseguiu fazer com que metade do concerto fossem músicas novas que, no meio dos clássicos, não pareceram destoar. Se o concerto tivesse terminado após “I Hate Rock’n’Roll” duvido que alguém fosse para casa descontente mas os irmãos Reid decidiram presentear os fãs de Psychocandy com 3 músicas do disco (entre elas “Just Like Honey”, como é óbvio) e um momento inédito em que o baterista original da banda, Bobby Gillespie, vocalista de Primal Scream, se juntou para auxiliar na percussão destes temas.

Primal Scream

A noite não estaria completa sem a actuação de Primal Scream. Depois da entrada de palco da banda e uns minutos de conversa por parte de Bobby Gillespie, começaram a tocar um dos seus maiores êxitos “Movin’ On Up” que viria a ser interrompido por uma falha no amplificador da guitarra. Após uns minutos de espera este foi trocado e o single de Screamadelica foi reiniciado. 

Num concerto não muito longo, como infelizmente é habito no Vilar de Mouros, os Primal Scream visitaram especialmente o seu icónico disco Screamadelica, mas também alguns singles como “Rocks” ou “Swastika Eyes” e a relativamente recente “It’s Alright, It’s OK”. Um espétaculo que ficou marcado pela simpatia de Bobby e pela crescente vontade de dançar que culminou em “Come Together”, terminando, assim, da melhor forma.



EDP Vilar de Mouros 2017 - Dia 1



Dia 2 

Golden Slumbers

Iniciando o “dia festival da canção” (por haver actuações de dois projectos presentes neste concurso), ou o que se espectava ser o dia mais fraco, subiram ao palco as Golden Slumbers. As irmãs Falcão partilharam o folk de New Messiah para uma plateia ainda quase vazia e poucos terão sido os momentos memoráveis deste concerto, talvez o único mencionável será o single homónimo ao disco.

Peter Bjorn and John

Conhecidos pelo single “Young Folk” e usando roupas que me fizeram lembram as de Tintin em “Rumo À Lua”, o trio sueco deu um concerto bastante energético, principalmente Peter que passou a maior parte do concerto a saltar. Infelizmente, o single que mais se esperava ouvir desiludiu um bocado mas os temas “Amsterdam” e “Let’s Call It Off” mostraram merecer, pelo menos, uma parte da fama de “Young Folk”.



Salvador Sobral

O herói da Eurovisão foi mais um dos artistas que aparentavam estar bastante deslocadas do que é (ou do que costuma) ser o foco festival, chegando mesmo a brincar dizendo que provavelmente a sua actuação tinha sido um “erro de casting”. 

O recinto encheu-se de fãs de “Amar Pelos Dois”, não necessariamente fãs de Salvador Sobral, e talvez tenha sido o único momento em que o recinto esteve bastante composto no segundo dia do festival. Não sendo o artista mais indicado para actuar no festival conseguiu oferecer um dos melhores momentos do mesmo com a sua interpretação do poema “Presságio” de Fernando Pessoa.
George Ezra
Após um concerto que me surpreendeu seguiu-se o verdadeiro “erro de casting”. À semelhança dos Milky Chance, em 2016, George Ezra é um artista completamente deslocado no contexto do Vilar de Mouros ao qual, ainda assim, e apesar de não apreciar o seu trabalho em estúdio, decidi dar uma oportunidade. O músico britânico fez-me, rapidamente, lembrar Sam Smith, cimentando a minha opinião de que é um artista que não deveria actuar neste festival.

Capitão Fausto


Antes de subirem ao palco ouviu-se  “T 3 R 3 4 5” dos Bispo, a cover 8 bit de “Teresa” a música mais pedida em todos os concertos mas que raramente é tocada. A banda lisboeta deu um concerto competente mas talvez o alinhamento pudesse ter sido melhor. O disco editado no ano passado foi tocado quase na integra o que fez com que o tempo disponível para as canções mais antigas e mais energéticas fosse menor. O principal destaque do concerto vai para a canção “Lameira” pois são poucos os concertos em que se pode ouvir a canção que, na minha opinião, é a melhor do segundo álbum de Capitão Fausto.



EDP Vilar de Mouros 2017 - Dia 2



Dia 3

Zanibar Aliens 

A banda mais jovem do alinhamento do festival foi, para muitos, a maior surpresa. Apesar do vocalista não ter grande aptidão para a interacção com o público (não por falta de tentativa), os “putos” de Lisboa mostraram ter o necessário para não destoar no Vilar de Mouros mesmo com uma banda recente. 

Os vocais e instrumentais a lembrar muito os Led Zeppelin conquistaram, logo ao fim das primeiras músicas, principalmente o público mais adulto do recinto. Em cerca de 45 minutos ouviu-se um concerto que merecia ser mais prolongado pois conseguiu ter bastante mais interesse que outras bandas internacionais. No final do concerto, junto à cabine de som foram vendidas várias cópias de Space Pigeon, o mais recente disco do grupo, mais um sinal que o espectáculo foi do agrado do público em geral.


Avec 


Depois da pancada que o rock dos Zanibar Aliens deu no público subiu ao palco Avec, mais um momento infeliz na escolha do alinhamento do festival. A artista apresentou um estilo muito semelhante ao da banda Daughter que, neste dia, não era o procurado pelos presentes. Mesmo assim foram mistas as opiniões gerais em relação a este concerto.

The Boomtown Rats
Com a entrada efusiva e a energia de Bob Geldorf, os The Boomtown Rats, cedo conquistaram o público. Com um visual arrojado e fazendo lembrar Christopher Lloyd em “Back To The Future”, Geldorf praticava o pouco português que sabia adicionando sempre um berro “Vilar de Mourosh” entre as músicas que, mesmo sendo todas muito semelhantes, mantiveram o público cativado. Como ponto alto é possível destacar o seu single de referencia “I Don’t Like Mondays” e o momento da despedida com “The Boomtown Rats”.
The Psychedelic Furs




The Psychedelic Furs eram a banda que eu mais queria ver neste festival. Logo de manhã e ainda dentro da tenda tive a oportunidade de ouvir, vindo soundcheck da banda, o icónico e inconfundível saxofone que inicia “Heartbeat” e também “President Gas” mas nada me fazia prever o enorme espectáculo que iria ter inicio umas horas mais tarde.

O concerto iniciou com “Dumb Waiters” e desde cedo foi possível reparar na enorme teatralidade com que Richard Butler interpreta as canções e na enorme química entre os membros da banda, levando a que cada música criasse um novo momento único e inesquecível. 

Infelizmente o público (ou pelo menos na sua grande maioria sendo que eu tive sorte no local em que estava) não parecia conhecer as músicas destes britânico, nem mesmo maiores clássicos como “Heaven” ou “Love My Way” e pouco aderiu a este concerto mas não por falta de tentativas da parte de Butler. 
2ManyDJs


O término do festival coube aos irmãos Dewaele com o seu projecto 2ManyDJs ainda que talvez tivesse sido mais pertinente uma actuação dos mesmos com o projecto Soulwax em formato live. Durante cerca de uma hora e meia (a actuação mais longa do festival) ouviram-se vários remixes e mashups de músicas recentes (como é o caso de “Everything Now” dos Arcade Fire) e clássicos (como por exemplo “Girls and Boys” dos Blur).



EDP Vilar de Mouros - Ambiente
Texto: Francisco Bandeira Lobo de Ávila
Fotografia: Francisco Manuel Lobo de Ávila

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