Ele Ypsis
Meiosis

| Outubro 24, 2017 3:38 pm
Meiosis // m-tronic // outubro de 2017
9.0/10
Os Ele Ypsis estão de regresso às edições de estúdio, com Meiosis, aquele que vem a ser o terceiro disco oficial do duo, cuja edição física e digital acontece no final de outubro. A dupla, que une a vocalista e compositora Laure Le Prunenec (Rïcïnn, Igorrr, Corpo-Mente, Öxxö Xööx) ao compositor e produtor Stélian Derenne, formou-se em 2008 e até à data editou os discos SPIRALIS (2015) e EKSÜ (2013) pela 561743 Records DK que, de forma resumida, conjugam elementos da música neoclássica à eletrónica ligeira, construindo aquilo com que se definem, “tortured child of distant artistic lovers“. Agora na casa m-tronic, os Ele Ypsis trazem ao público Meiosis e um total de oito canções inéditas que apresentam essencialmente uma aura celestial, com ritmos ora rápidos e poderosos ora lentos e marcantes.

Quem conhece Laure Le Prunenec sabe que o seu nome está associado a projetos revolucionários – pelo seu carácter extremamente inventivo – no panorama musical contemporâneo. A sua voz, tipicamente grave, alcança timbres operáticos e angelicais que, com vocalização sem palavras e/ou linguagens imaginárias conseguem trazer algo completamente marcante e único. Em Ele Ypsis, Laure Le Prunenec, está muito bem acompanhada ao lado do produtor e compositor Stélian Derenne, que produz o som resultante contribuindo para a natureza abstrata e disfuncional que é projetada nos arranjos eletrónicos.

O álbum, anunciado oficialmente em maio, viu em julho serem anunciados os primeiros dois singles a integrar a obra, o homónimo “Meiosis” – que funciona como uma projeção de mundos mistos, expressada essencialmente através do som e nas características físicas que este apresenta – e “Pachytene” – que traz algumas semelhanças daquilo que se ouviu em Lïan, o primeiro trabalho a solo de Laure Le Prunenec como Rïcïnn. Esta influência é novamente mostrada em “Diakinesis”, cuja abertura traz automaticamente à memória o icónico “Orpheus”. O que muda então?

Em Meiosis as viagens proporcionadas pelos apetrechos eletrónicos de Stélian Derenne são muito intensas e carregam uma incontestável beleza na forma como são compostas. A prova disso surge logo em “Anaphase”, single de abertura e o mais longo tema do álbum. A introdução calma e éterea com cerca de dois minutos de duração é pontualmente substituída por beats acelerados que são acompanhados por gritos e coros atenuados, em pano de fundo. Por volta dos três minutos voltamos a ter o som relaxante de início que perdura, aproximadamente, até aos sete minutos e meio. Aqui, começa então a ganhar novas camadas e atinge o auge aos oito minutos e 54 segundos. Uma garantida viagem ultrassónica às bases do som. Outro single que se apresenta como uma enorme surpresa é “Prophase” que de alguma forma, no seu início, traz à memória a produtora islandesa Björk.

O grande tema de Meiosis é, sem dúvida, “Zygotene”. “Zygotene” é um tema muito especial, diria até divino. O que Stélian Derenne faz com a eletrónica por volta do primeiro minuto e 27 segundos é um dos sons mais bonitos de sempre, dura cerca de 20 segundos, mas são os 20 segundos mais perfeitos do disco. E o melhor é o desenvolvimento que o sucede. Aqueles violinos lindos a que o trabalho da vocalista está automaticamente associado voltam a ouvir-se, mas a forma como são apresentados é incrivelmente singular. Que single dominador! De alguma forma, a lembrar um pouco do processo de decomposição associado a projetos como Aaron Funk e Arvo Pärt. “Diplotene” também não lhe fica atrás e é uma das composições que também ganha destaque, especialmente pelos arranjos eletrónicos e explorativos que apresenta. A fechar, “Telophase”, o single mais curto do disco e outro malhão impecável.

Meiosis vem de encontro aos processos criativos produzidos de tão díspares nomes como Dead Can Dance ou Debussy, por exemplo, e afirma a dupla nas índoles da avant-garde music, com uma sonoridade incrivelmente única. A Laure Le Prunenec é definitivamente a melhor coisa que aconteceu à música neste século e um exemplo icónico de uma artista profissional que não consegue produzir trabalhos inferiores a excelente. Meiosis é mais um magnífico trabalho na sua discografia, composto ao lado do também não menos meritório Stélian Derenne. Um disco a que definitivamente se pode chamar obra.

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