The Horrors
V

| Novembro 28, 2017 8:51 pm
V // Wolf Tone/Caroline International // setembro de 2017
7.0/10

The Horrors vêm do Reino Unido, mais precisamente de Essex, e tiveram início em 2005. Da sua formação fazem parte o vocalista Faris Badwan, o guitarista Joshua Hayward, o teclista Tom Furse, o baixista Rhys Webb e o baterista Joe Spurgeon. Influenciados tanto por bandas do garage rock dos 1960s – The Sonics – como do post-punk – Bauhaus e The Birthday Party – lançaram o seu álbum de estreia em 2007, Strange House, em que as sonoridades góticas e punk garage estão bem patentes. Temas como “Sheena Is a Parasite” e “Jack The Ripper” colocaram a banda nos radares da música alternativa britânica, tendo aparecido na capa da NME em agosto de 2006. 

Em 2009 chega-nos Primary Colours. Sob a produção de Craig Silvey e Geoff Barrow (Portishead e Beak), abandonam a sonoridade mais rebelde e irreverente de 2007 e editam a sua obra-prima discográfica. Adotam um som distorcido, revestido de escuridão inquieta e agoniante, na vertente do shoegaze e post-punk, com várias inclusões de eletrónica e sintetizadores. Este disco valeu à banda a nomeação de melhor disco de 2009 para a NME e daqui saiu a sua melhor música (pelo menos para o autor desta crítica), “Sea Within a Sea”, não desfazendo da também malhona “Who Can Say”, primeiro contacto que tive com a banda em 2009 quando assistia ao extinto canal MTV Two.



A banda ganhou bastante notoriedade com este último disco e em 2011 surgiu Skying, tal como as primeiras incursões pelo neo-psicadelismo. Produzido pela própria banda, as guitarras ruidosas passaram para segundo plano, dando lugar aos sintetizadores e a algum reverb excessivo. De Skying surgiram hinos como “Still Life”, que se enquadraria perfeitamente na cena musical dos anos 80 como uma música dos Simple Minds.

Continuado o seu caminho, em 2014 a banda edita Luminous, aquele que é discutivelmente o seu álbum mais fraco. Não se nota evolução face a Skying, voltando a aposta a cair nos sintetizadores e a jogar pelo seguro. Luminous apresenta-nos uns Horrors mais “luminosos”, como diz o próprio título, alegres e dançáveis. Ainda assim, os singles não são de todo memoráveis, sendo “Jealous Sun” das poucas músicas que nos despertam qualquer interesse. 

Em junho deste ano, o quinteto anunciou que o seu quinto álbum de estúdio, V, chegaria a 22 de setembro, com produção de Paul Epworth, responsável por trabalhos de artistas como FKA Twigs, Lorde, Rihanna, Adele, Coldplay ou U2, entre outros. Foi a primeira vez desde que Primary Colours que a banda chamou um produtor externo.

O primeiro single de V a ser apresentado foi “Machine”, tema de sonoridades industriais, noise e shoegaze. Parecia um regresso às sensações de Primary Colours, aquela negridão sufocante. No entanto, o surpreendente single “Something to Remember Me By” mostrou que essa não era a direção que a banda iria tomar. Este single mostrou-nos uns Horrors a enveredar pelos campos do synthpop, com pitadas de balearic beat que se dança nas pistas de Ibiza. Uma aposta ambiciosa a relembrar-nos os míticos New Order. Apesar de às primeiras audições ter estranhado bastante o tema que encerra V, este resulta extraordinariamente bem quando vamos sair à noite, tornando-se um autêntico malhão nas pistas de dança. 



O tema que abre V, “Hologram”, é um bom indicador da mescla de sons que a banda procura neste novo álbum – industrial, algum psicadelismo, sintetizadores e percussão a lembrar os saudosos anos 80. A faixa que se segue, “Press Enter to Exit”, surge num contexto completamente isolado, uma espécie de dub rock que soa ao fenómeno Madchester, que assolou o UK nos anos 90. O tema “Ghost” segue o mesmo caminho que a faixa introdutória de V, sendo um dos temas que melhor resulta neste álbum. Por sua vez, “Weighed Down”, terceiro single de V, traz-nos mais uma vez as memórias de Primary Colours, com tonalidades mais sombrias do post-punk e alguma distorção à mistura a partir dos 4 minutos, totalmente adaptadas a esta fase mais eletrónica do grupo. 


Em “Gathering” ouvimos pela primeira vez na discografia da banda uma guitarra acústica, embebida em reverb, com influências do britpop dos 90s. Em V há também espaço para baladas, como é o exemplo de “It’s a Good Life”, tema que se destaca mais pelo facto de ter sido escrito sobre Peaches Geldof, socialite e modelo inglesa que faleceu em 2014 devido a uma overdose de opióides, com quem Badwan namorou brevemente. Tanto “Point Of No Reply” e “World Below” foram as músicas mais facilmente esquecíveis no conjunto das dez faixas que compõem V.


A fórmula da banda compor canções não mudou em V, no entanto arriscaram num som mais comercial ao jeito dos Depeche Mode e Human League e deram-se bem. As melodias são fortes e exploram vários territórios, desde o industrial, ao psicadelismo e synthpop, sem nunca perder a essência dos Horrors. Ao contrário dos outros trabalhos, em V a voz de Badwan está mais forte e audível que nunca, mas as letras continuam vagas e com pouco conteúdo, ofuscando o verdadeiro potencial da banda. 

A tour que a banda fez com New Order em novembro de 2015 parece ter influenciado estas novas sonoridades de V. Apesar de Webb ter dito que banda quis compor neste novo trabalho “something that sounded quite horrible and quite unsettling again”, uma espécie de regresso às raízes que parecia ser verdade com o single “Machine”, os Horrors prosseguiram nas suas aventuras mais eletrónicas, deixando mais uma vez para segundo plano as guitarras distorcidas de Primary Colours que tanta euforia nos despoletaram ao longo destes anos.
Os Horrors tem dois concertos agendados para Porto e Lisboa, primeiro no Hard Club, a 9 de dezembro, e depois no Lisboa Ao Vivo, a 10.


Texto por: Rui Gameiro
FacebookTwitter