Flávio Torres em entrevista: “Cresci como cidadão de um mundo estranho, capitalista e invejoso”

Flávio Torres em entrevista: “Cresci como cidadão de um mundo estranho, capitalista e invejoso”

| Janeiro 4, 2018 9:22 pm

Flávio Torres em entrevista: “Cresci como cidadão de um mundo estranho, capitalista e invejoso”

| Janeiro 4, 2018 9:22 pm
© Marco Aurélio


O casamento da Covil com a Tago Mago é rijo como o aço e flexível como a pinga. Com o A.C. Mercado Negro como pano de fundo deste 2018 recheado de concertos, fomos conhecer melhor o Flávio Torres e as canções que poderão trautear no próximo Sábado, dia 6 de janeiro.


1 – Cinco anos depois da edição de Canções de Bolso, o que mudou no Flávio Torres e no país que tanto mencionas nos discos? 

Flávio Torres: Em mim muito mudou nestes últimos cinco anos, seja no aspecto criativo, ou na forma de ver o mundo e o país. Sinto-me também mais confiante na maneira de levar as minhas canções a um maior número de público, e quero muito que isso aconteça. Viajei e vivi durante os últimos anos por países do leste Europeu e África, o que fez com que enriquecesse e aprendesse outras formas de estar junto de outras culturas, ou mesmo outros estados da humanidade. Neste momento estou também dedicado a 100% à música, o que me faz lutar ainda mais pela mesma e criar com outro ritmo. Lidei também com a morte do meu pai e isso fez-me crescer como cidadão de um mundo estranho, capitalista e invejoso, e tento fazer o melhor que posso para inverter esses valores terríveis do ser humano. Quanto ao país, acho que Portugal continua num marasmo crítico, não por culpa da corja, mas sim do povo que continua a não se impor às estupidezes impostas. 

2 – 2012 foi o ano da troika, do aguçar da crise e da adoção do termo “austeridade” como se de um “bom dia” se tratasse. Serão estes momentos de retração mais propícios para à criação artística? 

Flávio Torres: Penso que são momentos criativos importantes para que um artista exponha o desagrado imposto por este tipo de situações. Uma canção, uma peça de teatro ou outras formas de expor arte, que se manifestem contra determinado conflito ou injustiça numa sociedade são, sem dúvida, uma força para que se abram diferentes espectros no povo. E é com esta linguagem que a mensagem pode motivar mais pessoas a irem contra algo que está mal. Não digo isto de forma a criar raiva nas pessoas mas pelo contrário, o efeito perfeito seria que houvesse um melhor entendimento para fazer o bem com a mudança. E sim, acho que vivemos numa fase complicada no mundo que efetivamente proporciona criar, fazer arte sincera em prol do melhor para nós e para a paz das nações. Os artistas têm o poder de fazê-lo e devem de o fazer sem medos.



3 – Em Canalha, último disco editado em 2014, continuas com a reflexão social em formato de canções. É algo que pensas manter no futuro, ou este governo da Geringonça acabou por acalmar as coisas? 

Flávio Torres: Irei falar de coisas que me incomodam, coisas que me fazem bem, amor, inquietação… enfim, tudo o que me apetecer. A “Geringonça” continua a fazer um trabalho muito bem feito para o lado deles, apenas larga alguns trunfos para que o povo continue calado e sem acção. Eu tenho esperança/fé de um futuro melhor para todos, mas, acho que o caminho continua a ser de corrupção, exploração e infantilidade propositada. Resta aqueles que têm consciência de fazer pelo bem e a “esperança” que falei mais atrás penso que parte daqui. 

4 – “Procuras a companhia perfeita para o teu dia”, é o verso inicial de “Assobio Bêbado”, tema deste disco. Se a malta da Covil não me puser na bilheteria, qual seria a melhor companhia para ver o teu concerto: tinto ou um bom whisky velho? (risos) 

Flávio Torres: Bom, acredito que sejas uma óptima companhia. Infelizmente ou felizmente, já não bebo bebidas brancas com regularidade. Aprecio um bom vinho tinto seja Douro, Alentejano, Dão ou Beiras, e essa será sempre a minha melhor opção. É também uma boa companhia espiritual e é, sem dúvida, o meu drink favorito. Quanto ao Whisky velho, já foi também um companheiro de longa data, e é óbvio que de vez em vez sabe muito bem. Seja de que forma for, faremos um brinde com toda a certeza. 

5 – Com ‘Homem da Montanha’, projeto de covers que tens em paralelo, navegas por entre os clássicos do blues e do folk. Sentes que andar pelo país a interpretar estas canções te dá uma certa bagagem no momento de compôr? 

Flávio Torres: Bom, eu sempre tive bandas de versões e foi com as músicas de outros artistas que aprendi muito. Desde miúdo que eles foram a minha escola e a minha inspiração para criar. O Homem da Montanha é um projeto que me faz regressar aos meus 14 anos: toco muitas coisas dos anos 60, 70 e 80 como Hendrix, Dylan, Nancy Sinatra, Tom Petty etc… e gosto de tocar aquelas que não foram os hits do momento. Mais do que tudo, faço as minhas versões em acústico com percussões de pé e alguns loops. Acho o projeto muito giro e divirto-me muito, e a malta também se diverte bastante. As minhas composições são fruto de tudo isto dos 20 anos ligados à música quase num anonimato: a muitos projetos, a muita coisa, à estrada, às viagens, às experiências de vida…tudo isto é a bagagem para compôr. 


6 – O que podemos esperar do disco que prometes lançar este ano? 

Flávio Torres: Nem eu sei bem o que vai sair daqui, mas novas experiências, outros instrumentos. Talvez saia um álbum mais ligado à World Music, mais roots e com ambientes diferentes do que já foi feito anteriormente, numa linguagem de proximidade e de união ao Universo e ao Cosmos. Mas os temas serão, com certeza, em bom Português. Vamos aguardar. Os bilhetes estarão disponíveis no dia do concerto, a 4€ cada. 

Informações do evento aqui.


Entrevista por: Luís Masquete




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