Reportagem: AVEIROSHIMA 2027 – 7ª Edição [GrETUA, Aveiro]

Reportagem: AVEIROSHIMA 2027 – 7ª Edição [GrETUA, Aveiro]

| Maio 23, 2018 5:45 pm

Reportagem: AVEIROSHIMA 2027 – 7ª Edição [GrETUA, Aveiro]

| Maio 23, 2018 5:45 pm

No passado sábado, dia 19 de maio, Aveiro recebeu mais turbilhão de emoções e sensações com a sétima edição do festival independente AVEIROSHIMA2027 que, há semelhança de edições passadas, voltou a invadir o GrETUA para mostrar mais uma mão cheia de nomes emergentes no panorama musical e artístico. Com um dos mais ambiciosos cartazes até à data, o festival que já trouxe à cidade aveirense nomes como Baleia Baleia Baleia, Holocausto Canibal, Estado de Sítio, Ângela Polícia e Ohxalá – além de nomes internacionais como os franceses Putan Club e o russo Guvibosch – destacava-se neste sétimo evento essencialmente pelo concerto de HHY & The Macumbas e da performance/concerto dos Lucifer’s Ensemble

Com início previsto para as 22h00 o novo AVEIROSHIMA2027 começou a horas com Dead Exploitation – projeto de Carlos Braz, locutor da Rádio Universitária de Coimbra – que trazia o seu DJ set em que o hip-hop, na sua faceta mais crua e agressiva, tanto da era old-school como da era moderna, foi rei e imperador da noite. Enquanto não se iniciavam as performances cá fora íamos ouvindo alguns dos temas que se tornaram hits nos anos 2000, nomeadamente alguns dos singles da tracklist do filme You Got Served. Este DJ set prolongaria-se noite fora até o AVEIROSHIMA2027 ter fim. 



O primeiro concerto/performance artística da noite ficou a cargo do coletivo Lucifer’s Ensemble, quinteto constituído por dois performers do colectivo DEMO, um compositor da Digitópia – Casa da Música e mais dois músicos a completar o ensemble. Marcado para as 23h00 a performance dos Lucifer’s Ensemle só arrancou pela 23h50 com uma batida de fundo automática, um jogo de luz enriquecido e uma primeira parte do espetáculo a ser marcada por uma performance, onde dois dos músicos começaram por se pintar de branco um ao outro, posteriormente desenharam duas cruzes no chão que foram sobrepostas por um círculo e mais pequenas cruzes dentro dos espaços vazios entre o círculo exterior e a cruz principal. Atirando pó ao ar aqui e ali foram fazendo um espetáculo ritualístico entre a noite e o anjo da luz, que garantiu inclusivé momentos de luta entre os dois performers. Com a luz a tornar-se tipicamente mais vermelha, vimos também em palco serem cuspidas rolhas de cortiça e uma bebida que, rapidamente, espalhou um aroma a álcool por toda a sala. Esta performance inicial durou cerca de 25 minutos até que os performers assumissem o papel de músicos. 

O espetáculo dos Lucifer’s Ensemble cruzou o teatro físico, as tecnologias interativas e a arte sonora a fim de garantir uma experiência ao espectador completamente abrasiva, impar e, eventualmente até caótica, como se sentiu nos minutos finais do concerto que encerrou por volta das 00h50. 

Entre o espetáculo dos Lucifer’s Ensemble e HHY & The Macumbas, Jorge Branco aproveitou a zona de convívio entre o bar para nos prendar com a sua performance sonora que moldou o ruído a seu bel-prazer, em prol da expressão do seu ponto de vista crítico sobre a era tecnológica. 


Sob alçada de conceituado músico Jonathan Uliel Saldanha, que se assume como construtor sonoro e cénico, os HHY & The Macumbas subiram ao palco pelas 01h44, em formato quinteto, para apresentarem em Aveiro as suas sonoridades que vão do dub ao kraut-rock passando pelo jazz exploratório e algum tropicalismo negro. Os HHY & The Macumbas são únicos ao vivo e atraíram muito pessoal jovem de Aveiro a dançar descoordenadamente entre os ritmos e sons que iam explorando. Nunca vimos a cara de um dos músicos, que tocou sempre voltado de costas para o público com uma máscara sinistra na cabeça, mas vimos a sua dança constante e imparável enquanto os seus companheiros iam criando um som desenfreado. Sem notórias pausas entre as canções os HHY & The Macumbas souberam entreter o público e, obviamente, garantir o melhor concerto daquela noite. 

O espetáculo dos HHY & The Macumbas teve fim por volta das 03h00 e por isso, quando o relógio já marcava 03h30 e ainda não era notória a aproximação do início da performance do projeto luso-russo ANTIPPODE, o sono e o cansaço bateram mais forte pelo que não podemos reportar o que se sucedeu posteriormente. Apesar disso uma coisa ficou clara: o AVEIROSHIMA2027 está a trazer toda uma nova vida cultural à cidade de Aveiro, não só explicada na afluência do público que tem vindo a receber nas últimas edições, mas igualmente na divergência de sonoridades que tem importado. Um bem-haja.


Texto: Sónia Felizardo
Fotografias: Ivo Madeira
FacebookTwitter