Maurizio Abate
Standing Waters

| Maio 20, 2018 4:27 pm

Standing Waters // Boring Machines/Black Sweat Records // fevereiro de 2018 
8.0/10

Ativo desde os anos 2000, Maurizio Abate é um guitarrista que se distingue pela sua abordagem instintiva à experimentação, através da moldagem de uma fórmula pessoal que explora géneros desde o blues à folk de tons avant-garde, conduzidos pelas frases e cordas da guitarra e intrumentos de corda. Desde 2006 a lançar discos em nome próprio, entre outras sessões de gravação e grupos coletivos, Maurizio Abate regressou este ano às edições de estúdio com Standig Waters, um álbum profundamente instrumental que apresenta um total de cinco músicas inéditas e que vem dar sucessão a Loneliness, Desire and Revenge (2015). Nas palavras de Maurizio Abate em entrevista à Noisey,

Este álbum é construído em torno do conceito de estática, uma condição que na minha opinião tem uma interpretação dupla: ao mesmo tempo que evoca um imaginário percebido como negativo (…) por outro, é precisamente na aparente imobilidade que acredito que podemos aprofundar-nos, observar com mais cuidado e talvez descobrir recursos e energias inesperados“. 

O disco começou a ser desenvolvido em 2016, pela gravação das noções básicas na guitarra clássica em Rosazza, uma pequena cidade nos vales Biella, e acabou por contar posteriormente com a ajuda de outros músicos (Lucia Gasti no violino e Matteo Bennici no violoncelo), o que levou Maurizio a incluir ainda novos instrumentos como o piano. Em fevereiro de 2018 Standing Waters chegou às prateleiras pelos selos Boring Machines (CD) e Black Sweat Records (LP), apresentando-se como um trabalho essencialmente introspetivo, conduzido por diferentes ritmos, consoante os espetros emocionais que pretende atingir, e um belíssimo disco de folk com princípio meio e fim, numa abordagem tipicamente contemporânea. 

Em cinco cações que apresentam uma duração aproximada a 43 minutos, Maurizio Abate consegue, sem nunca recorrer à voz, fazer um disco puramente instrumental que apresenta um desenvolvimento tipicamente lento, mas muito bem estruturado e harmónico. Além disso, as músicas de Standing Waters – que aparentam ser bastante simples às primeiras audições – encontram-se envoltas pela riqueza na abrangência sonora e na implementação de pequenos elementos que criam um discurso musical muito complexo. Além de temas como “Odonata” ou “Nymphs Dance” – já a preparar-nos para fins inesperados – a faixa de encerramento “Standing Crumbling” é certamente a melhor surpresa deste disco. Através de um início e desenvolvimentos tipicamente previsíveis é, já por volta dos doze minutos, que Maurizio Abate cria uma nova sonoridade desconcertante com as suas experimentações em piano, para encerrar o disco de forma grandiosa. Standing Waters é, em suma, um disco bastante interessante e rico dentro da discografia do compositor e, acima disso, um disco que consegue transmitir ao ouvinte sentimentos desde a nostalgia até ao caos sempre em transições subtis.


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