Reportagem: Carmina Festana [GrETUA, Aveiro]

Reportagem: Carmina Festana [GrETUA, Aveiro]

| Agosto 7, 2018 2:24 pm

Reportagem: Carmina Festana [GrETUA, Aveiro]

| Agosto 7, 2018 2:24 pm
© Vera Marmelo
O ciclo de música poliamorosa de Aveiro, mais conhecido por Carmina Festana, regressou a Aveiro no passado sábado, dia 4 de agosto, para celebrar a nova vaga de projetos emergentes no panorama musical português da atualidade. Com o GrETUA a servir de ponto de encontro, a camada mais jovem da cidade de Aveiro partilhou, na sala, o suor e na rua o convívio. A Cármen voltou a trazer mais uma saga de conquista numa noite quente, sentimental e penetrante estrelada pelos seis artistas que subiram a palco: Moon Preachers, Amaterazu, Claiana, Cosmic Mass, o grande David Bruno e, para fechar a noite, o já conhecido DJ Lynce

Moon Preachers © Vera Marmelo 

Marcado para as 22h00, quando chegámos à sala pelas 22h45, já os Moon Preachers faziam ecoar no palco do GrETUA a sua música meio punk meio garage-rock, de ritmo acelerado e de aura contagiante. A sala, apesar de ainda pouco composta, já fazia pairar um ar quente produzido pela animação do público. A Aveiro, a dupla formada por Rafael Santos e João Paulo Ferreira trazia o seu mais recente disco de estúdio, A Free Spirit Death (lançado em março do ano presente pelo Cão da Garagem) e as suas músicas rápidas, a funcionarem como uma injeção de adrenalina instantânea. Moon Preachers foi em suma um banho de rock, um público que parmenecia em mobilização constantante, umas cordas partidas e uma performance a findar num show de percussão e ruído, pelas 23h12. 

Amaterazu © Vera Marmelo

Pelas 23h30 os Amaterazu sobem ao palco. Em formato trio e com vestes características, a banda de Ricardo Bernardo (guitarra/voz), Ricardo Silva (baixo/voz) e João Lugatte (bateria) apresentou aos aveirenses o seu espetáculo meio ritualista de música psicologicamente densa a combinar elementos do metal e stoner-rock. Pelas características rítmicas, o concerto dos Amaterazu foi mais calmo que o dos antecessores Moon Preachers, ainda assim, especialmente preparado para ativar aquele zumbido no ouvido durante uns bons minutos após fim de performance. Como os próprios dizem, o universo musical dos Amaterzu transcende tempo e espaço. No GrETUA o concerto do trio de Viseu foi assim uma perda da noção de realidade, iluminada por um sol meio vermelho, meio dourado e conduzida por vozes epopeias. Ainda em destaque ficaram na memória as quebras e mudanças de ritmos de um concerto que acabou pelas 00h20. 

Claiana © Vera Marmelo

Ao contrário das anteriores, a performance de Claiana não se deu no palco do GrETUA mas sim na sala do bar. O projeto de Gui Lee, sediado no Porto e com edições pela Favela Discos trouxe até Aveiro a sua música de pura festa e entretenimento coletivo, fazendo-se acompanhar do icónico aveirense João Sarnadas, mais conhecido pelo seu projeto Coelho Radioactivo. Gui Lee apresentou o seu mais recente disco Claiana Vol.1 que na pista de dança se fez destacar por temas como “Bonsoir” ou “Bizu”. 

Cosmic Mass © Vera Marmelo

Pelas 01h20 a quarta performance da noite tem início, com três dos quatro membros dos Cosmic Mass em palco. Depois de uma introdução inicial entra em cena Miguel Menano (vocalista e guitarrista) que é recebido em ambiente de folia e fortes aplausos. Banda prata da casa e com álbum de estreia a chegar às prateleiras ainda este ano, os Cosmic Mass proporcionaram mais um dos grandes momentos da segunda edição do Carmina Festana. Influenciados pelo movimento psicadélico da década de 60, o quarteto apresentou a sua energia fervorosa e inesgotável que os fez suar (a eles e a nós público) de início ao fim. Com uma percussão muito peculiar, o ritmo dos Cosmic Mass é igualmente frenético e cativante, caracterizando-se ainda numa velocidade alfa pendular. Uma onda de calor que se fez sentir na sala do GrETUA, mais do que durante o dia em Aveiro, onde houve ainda espaço para apresentar os membros da banda e dedicar músicas a amigos. A temperatura da sala só começou a baixar depois das 02h12. 

David Bruno © Vera Marmelo

Estávamos no convívio cá fora quando, pelas 02h40, vêm avisar-nos de que o concerto do romântico David Bruno vai iniciar-se. Na sala, pelas 02h45, David Bruno acompanhado pelo guitarrista Marquito fazem já ouvir-se “Alfa, Romeu & Julieta”, um dos singles de promoção deste novo e muito acarinhado disco O Último Tango em Mafamude. Construindo os seus romances através de samples e trocando as frases por pistas de áudio, David Bruno deu o concerto que se esperava, apesar de ter parecido curtíssimo em comparação com os atos anteriores. Numa duração aproximada a 40 minutos David Bruno apresentou-nos algumas das referências visuais da nação, referentes às décadas de 80 e 90, o seu amor à cidade Vila Nova de Gaia e ainda um tema inédito que só pode ser ouvido ao vivo, “Lamborghini na Roulotte”, que além de se ter ouvido durante o concerto, voltou a repetir-se no encore. Além deste, temas como “Monte da Virgem Paltónico”, “Mesa Para os Dois no Carpa”, “Amor Anónimo” foram alguns dos destaques. David Bruno ainda distribui pelo público algumas bases de copos promocionais deste novo disco. Concertaço de amor máximo. 

Não apanhámos a performance do DJ Lynce mas, a julgar pelos comentários de quem ficou até ao final do evento, foi efetivamente a cereja no topo do bolo daquilo que o Carmina Festana nos tem habituado desde a sua primeira edição, em novembro de 2017. 

© Vera Marmelo

Assim em jeito de conclusão, o Carmina Festana é aquilo que os aveirenses esperavam há muito tempo e que agora podem ter: um minifestival ao jeito low-cost, que funciona como ponto de encontro e partilha de momentos inesquecíveis, em conjunto. O Carmina Festana é aquele festival que todos ansiávamos e que podemos finalmente celebrar.: um festival para poder mostrar novas sonoridades dos mais diversos estilos até aos amigos mais preguiçosos. Um bem-haja.

Texto: Sónia Felizardo

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