Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto

| Agosto 25, 2018 3:07 pm

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto

| Agosto 25, 2018 3:07 pm
Slowdive

Sexta-feira contou com o regresso dos Slowdive ao festival, a vinda dos muito aguardados DIIV e um concerto em que os …And You Will Know Us by the Trail of Dead tocaram na íntegra o seu álbum Source Tags & Codes. Um dos dias com concertos mais interessantes. No entanto, antes da abertura do recinto, as primeiras bandas que se fizeram ouvir foram, no palco Jazz na Relva (este ano sem nenhum artista de jazz, curiosamente), QUADRA e Vaarwel.

Aquando da minha chegada ao recinto tocavam os portugueses smartini., que apresentaram o seu rock alternativo e noise rock no palco secundário do festival. Não houve muito tempo para assistir à sua performance pois Lucy Dacus estava prestes a subir ao outro palco no que foi o primeiro concerto da sua tour europeia. A cantautora americana tem uma sonoridade que passa pelo indie rock, mas conta com algumas canções mais longas do que se costuma encontrar no género, como por exemplo “Night Shift”, uma das melhores. A sua atuação contou com crescendos bem conseguidos, bonitos pormenores em frases de guitarra e boas transições entre partes mais calmas e mais barulhentas, como acontece em “Timefighter”. “Yours & Mine” e “Pillar of Truth” estiveram também entre as melhores canções que integraram a setlist. O concerto foi melhorando ao longo da sua duração e acabou por me surpreender pela positiva, deixando-me curioso por ouvir o mais recente álbum da artista, Historian.

Lucy Dacus

Assisti depois a parte do concerto dos tuaregues Imarhan. A banda da Argélia deu um bom concerto, mas não tem uma sonoridade que me agrade especialmente. Esta é comparável à de outros artistas que já passaram pelo nosso país, nomeadamente Tinariwen e Bombino. Uma cara ainda mais conhecida em Portugal deu o concerto a seguir: Kevin Morby. Sem a camisola do FC Porto que tinha prometido no Instagram usar durante o concerto, o autor de “City Music”, “Crybaby” e “Dry Your Eyes” apresentou essas e outras canções e demonstrou o seu amor pela cidade do Porto. Aproximou-se do público, contribuiu para um bom ambiente e ainda segurou num cartaz em que um fã tinha escrito “<3 Kevin Normie”. As melhores músicas foram aquelas que beneficiaram de arranjos mais trabalhados, enquanto que as que os tinham mais simples mais rapidamente se tornaram desinteressantes. Foi, no geral, um bom concerto. Ficamos à espera do seu regresso a Portugal, não deve faltar muito.

Quem nunca tinha vindo cá era Frankie Cosmos, que contou com um baterista que sabe falar português, tendo ido ao microfone agradecer ao público e ao festival. Este, aparentemente por estar doente, não tocou em todas as músicas, com Frankie a ser acompanhada apenas pela teclista em várias delas. O público tratou da percussão, batendo palmas em todas ou quase todas elas. Foi um concerto agradável, marcado negativamente apenas pelas repentinas mudanças de tempo que aconteceram em muitas das músicas. Estas nem sempre funcionavam bem, interrompendo demasiadas vezes o ritmo que se instalava anteriormente em cada canção.

DIIV

Os DIIV de Zachary Cole Smith, uma banda certamente influenciada pelo shoegaze e dream pop dos Slowdive, cabeças de cartaz deste dia, tocaram músicas dos seus dois álbuns e estrearam também uma canção nova. Infelizmente, sofreram de um equilíbrio de som que deixou um bocado a desejar, mas foram muito divertidos e competentes. Foram sem dúvida a banda que esteve melhor nas pausas entre músicas, tendo demonstrado um excelente sentido de humor. Entre as músicas tocadas estiveram “Doused”, “Under the Sun”, “Bent (Roi’s Song)” e “Wait”.

Os …And You Will Know Us by the Trail of Dead vieram apresentar o seu álbum mais conceituado, Source Tags & Codes, de 2002. A banda tocou-o de uma ponta à outra antes de se ouvir “Will You Smile Again?”, de Worlds Apart. Com malhas como “How Near How Far”, “Relative Ways” e “Source Tags & Codes”, a banda deu um dos concertos mais energéticos do festival. O público fez mosh e crowdsurfing e o baixista elogiou o festival. Ao longo do concerto, Conrad Keely e Jason Reece alternaram inúmeras vezes entre o papel de vocalista e guitarrista e o papel de baterista. Infelizmente, a performance vocal de Conrad foi decepcionante e impediu que algumas das melhores músicas estivessem ao nível das versões de estúdio. Tirando isso, a banda fez um bom trabalho e deve ter saído de palco com mais fãs do que anteriormente.

…And You Will Know Us by the Trail of Dead

Após um concerto excelente na edição de 2015, os Slowdive regressaram a Coura. Desta vez com um novo álbum, a banda deu um concerto estranhamente fraco para os seus standards. Esteve longe de ser mau, mas foi a primeira vez que não sai espantado de um concerto da banda britânica. Houve alguns feedbacks muito agudos ao longo do concerto, algo que não tinha visto acontecer, foi tocada a pior versão ao vivo que ouvi de “Souvlaki Space Station”, houve alguns erros (o baterista, por exemplo, atrasou-se várias vezes) e as músicas novas “Slomo” e “No Longer Making Time” não mostram a banda no seu melhor. “Alison”, como é habitual, também não foi tão boa como em Souvlaki. No entanto, “Golden Hair” soou quase tão bem como sempre (foi pena os feedbacks terem acontecido ainda nesta música) e “Star Roving” (a fazer lembrar DIIV), “Sugar for the Pill” e “When the Sun Hits” tiveram os seus bons momentos.

Após este concerto as primeiras filas ficaram livres, antes de encherem de novo com os fãs de Skepta. Bastante desenquadrado do resto do cartaz do festival, o artista de grime conquistou parte do público com a sua energia, os beats frenéticos e rítmicos das suas músicas e alguns hooks bastante catchy. Tudo corria normalmente até, a certa altura, sair do palco por o público estar a atirar objetos para cima do palco. Acabou por regressar após um aviso e lá ficar até ao fim da setlist. Entre os destaques estiveram “It Ain’t Safe” e a icónica “Shutdown”. Pela negativa, foi notável o exagero do uso de alguns samples (o DJ Maximum muito gosta do som de air horn) e a interrupção de várias músicas alguns segundos após o seu início para depois serem começadas de novo, o que não faz sentido nenhum.

Pussy Riot

Após este razoável concerto começou o after no palco secundário com Pussy Riot. Introduziram-se com um (exageradamente) longo vídeo a criticar o capitalismo e Putin antes de passarem uma música de hardbass. Já estava a ser uma performance muito confusa por esta altura, mas ao menos era também engraçada e divertida. O pior estava para vir, quando se começou a ouvir rap e pop extremamente fraco e banal. Não fiquei até ao fim. Para uma banda com uma personalidade tão forte, as Pussy Riot fazem música mesmo genérica. 
Texto: Rui Santos
Fotografia: Hugo Lima
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