O arrepio na pele de Iceage [Jameson Urban Routes – Musicbox, Lisboa]

O arrepio na pele de Iceage [Jameson Urban Routes – Musicbox, Lisboa]

| Novembro 6, 2018 6:48 pm

O arrepio na pele de Iceage [Jameson Urban Routes – Musicbox, Lisboa]

| Novembro 6, 2018 6:48 pm

Os dinamarqueses Iceage regressaram a Portugal depois de uma ausência de três anos para apresentar o novo disco Beyondless no Musicbox Lisboa.

Observar Elias Bender Rønnenfelt em cima de palco é uma visão incrível. O imprevisível vocalista brada a plenos pulmões a letra de “Hurrah”, primeira faixa do mais recente álbum Beyondless, enquanto os fãs gritam de volta para o dinamarquês e nem se apercebem que o microfone falhou mesmo antes de chegar ao refrão. Este caos foi uma boa amostra do turbilhão que se gerou dentro do Musicbox.

Os Iceage apresentaram-se em palco (para além dos tradicionais instrumentos de uma banda rock) com um violinista, que também tocava teclado, e um saxofonista. Esta nova formação pretendia emular os novos sons inseridos no mais recente álbum do conjunto, que continuou a evolução sonora de Plowing into the Field of Love. Se os primeiros álbuns idolatravam o punk hardcore de, por exemplo, Black Flag, nestes dois últimos álbuns o post-punk ganhou cada vez mais terreno.

As orquestrações conferem uns contornos que se podem encontrar no trabalho de Nick Cave & the Bad Seeds, contudo a mistura de som não ajudou muito a esta nova vida, uma vez que lá enterraram o violino e o saxofone. Os problemas no som não evitaram que os fãs deixassem de sentir as emoções à flor da pele e que entregassem todas as suas energias à banda. Ninguém se pareceu importar quando Elias cantou “Pain Killer” sem a ajuda da sua companheira Sky Ferreira, que participa na versão em estúdio.  Os fãs continuam com o mesmo nível de devoção e com os mesmos olhos esbugalhados que apresentaram no Vodafone Paredes de Coura 2015, e com o mesmo nível de excitação quando a banda rasga os acordes country punk de “The Lord’s Favorite”.

Se a banda regressava a Portugal três anos após o concerto atrás referido, a última visita de Elias tinha sido com os seus Marching Church em fevereiro de 2016, contudo a performance teatral e a energia fria continua toda lá, assim como o olhar de psicopata adolescente. As letras continuam cantadas com o mesmo niilismo de quem se está a borrifar para o que as pessoas pensam e a tensão do público com medo de levar um pontapé no telemóvel faz com que ninguém os ouse levantar nas filas da frente. Algumas músicas são mais arrastadas, como “Catch It”, outras são mais explosivas, “The Day That Music Dies”, que retirou inúmeras comparações aos The Stooges.

Como já têm habituado os espetadores, a interação durante o concerto foi nula (mas para que é que é necessário interação quando temos o homem a suar e a berrar em cima de nós o concerto todo?), dizendo apenas adeus quando abandonou o palco pela primeira vez. O público teve direito a um encore emocional com a faixa homónima do álbum anterior, “Plowing into the Fields of Love” e no fim ainda ouviram um segundo “adeus” com sotaque escandinavo.

A banda encarregue de abrir o concerto foi o trio punk rock das Caldas da Rainha, Palmers.


Texto: Hugo Geada
Fotografia: Ana Viotti
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