Os melhores álbuns internacionais de 2014

| Dezembro 22, 2014 9:30 pm
Muitos foram os álbuns que ouvimos neste ano de 2014, mas nem todos podem figurar nas listas de final de ano. Desta forma, e tendo em conta os gostos díspares e comuns, fica em baixo a lista dos 30 melhores álbuns no geral para a redacção da Threshold Magazine.
30- Thee Silver Mt- Zion Memorial Orchestra – Fuck Off Get Free We Pour Light On Everything
29- The Drums – Encyclopedia
28- Julian Casablancas + The Voidz – Tyranny
27- La Dispute – The Rooms of the House
26- Thee Oh Sees – Drop
25- Future Islands – Singles
24- L’Orange – The Orchid Days
23- Owen Pallet – In Conflict
22- St-Vincent – St-Vincent
21- Sun Kil Moon – Benji

20- King Gizzard and The Lizard Wizard – I’m In Your Mind Fuzz

19- The Wytches – Annabel Dream Reader

18- Run The Jewels – Run The Jewels 2

17- Aphex Twin – Syro

16- Timber Timbre – Hot Dreams

15- Liars – Mess

14- Perfume Genius – Too Bright

13- Have a Nice Life – The Unnatural World

12- Ariel Pink – Pom Pom

11- Sharon Van Etten – Are We There

10- Ought – More than Any Other Day

9- Angel Olsen – Burn Your Fire For No Witness

8-Mac DeMarco – Salad Days

7-Goat – Commune

6- Ty Segall – Manipulator

5- Iceage – Plowing Into the Field of Love

Depois de lançarem dois dos álbuns mais agressivos da
década, em Plowing Into The Field Of Love, os Iceage conseguiram não
só manter toda essa agressividade como também elevá-lo uns
patamares acima, adicionando arranjos de piano, orgão, trompetes, entre outros instrumentos. Ao
alargar o leque de influências da banda, indo buscar elementos da música
country, folk e rockabilly, este álbum é uma prova da maturidade que os Iceage
foram ganhando desde o lançamento de New Brigade em 2011 e é sem dúvida um
enorme passo em frente na carreira dos dinamarqueses.
Helder Lemos

4- Flying Lotus – You’re Dead!

Este novo
trabalho de Steven Ellison AKA Flying Lotus (produtor, MC e o fundador da
Brainfeeder, label incontornável no panorama musical que mistura o dançável, o
Hip Hop, o EDM e o IDM) é pautado por algumas mudanças em relação aos seus
anteriores. Mudanças que o autor considera frutíferas e positivas, o que não
significa que os anteriores 1983, Cosmogramma e Los Angeles não sejam álbuns de
mão cheia, porque o são (o Until The Quiet Comes nem tanto). Mas o que aqui está em questão é a evolução notória da complexidade no som de
Fly Lo. E isso é evidente. Vamos aos factos.
O universo até então relativamente calmo de Fly Lo surge neste You’re Dead!
contaminado por Captain Murphy (o seu narcisista alter-ego MC) cuja influência
directa surge em duas faixas e, indirectamente, parece pairar sobre o restante
álbum.
Isto faz com que por vezes haja uma aproximação ao hip hop mais “comum”
chamemos-lhe assim, no qual há um MC a rimar sobre uma faixa sonora. Essa
aproximação ao “comum” — no caso deste You’re Dead! — sai recompensada pela
qualidade do elenco convidado para rimar (o prodigioso Kendrick Lamar, o
supracitado Captain Murphy e o veterano Snoop Dogg) mas também pela mestria de
produção de Ellison.
Em certos aspectos, também se nota uma aproximação ao universo do cartoon: a
capa do álbum; a distorção e sobreposição de vozes; o contributo sonoro de Fly
Lo na série Adventure Time; a sua participação como radialista no videojogo GTAV. Tudo isto sugere uma aproximação cada vez maior da personagem real (Ellison)
a estes universos irreais, onde personagens como o seu alter ego Captain Murphy
são livres de deambular e de fazer o que bem entendem, sem reais limites.
Ellison também se parece sentir assim: livre e descomprometido na sua estética,
prestando homenagem a este Universo e ao outro — o plano astral mencionado na
faixa “Dead Man’s Tetris” é uma homenagem á faixa “Do The Astral Plane” do
Cosmogramma, aqui usada como metáfora para o espaço do pós-vida, no qual Murphy
convive com Freddie Mercury e J Dilla, outra influência assumida de Ellison.
Metafisicismos à parte, Fly Lo não esquece as suas raízes de Jazz (não tivesse
Ellison sangue dos Coltrane) prestando uma homenagem às mesmas com samples de
saxofones, percussão e baixos espalhados e organizados em arranjos minuciosos
em várias das suas faixas. Há aqui um género de reinterpretação do Jazz de
improvisação, no qual se subtrai a banda mas se multiplica a criatividade no
único músico presente (Ellison). A participação de Herbie Hancock na “Moment of
Hesitation” é um dos momentos mais felizes de You’re Dead! e uma homenagem
maior ao universo do Jazz.
Os risos de Captain Murphy — a sua mão é omnipresente, por inevitáveis
circunstancias — ao longo deste You’re Dead!, os samples de saxofones,
percussão, algumas linhas de baixo que fazem lembrar Amon Tobin, uma dose q.b.
de psicadelismo e a aproximação ao soul — por força dos baixos e das graves
vozes femininas — em algumas faixas constroem uma parede sonora muito
particular para este You’re Dead!, muito distinta dos anteriores álbuns de
Ellison.
No entanto, é nesta distinção que encontramos um ponto em comum: a complexidade
do som. Esta característica faz com que, à imagem dos álbuns anteriores de
Ellison, a audição do mesmo deva ser feita na integra, do início ao fim. Os álbuns
de Flying Lotus não foram projectados para serem decompostos e ouvidos faixa a
faixa. Estes devem ser entendidos como um todo e pelo todo, por forma a serem
entendidos de todo.

Edu Silva


3- BadBadNotGood – III

III é o retrato de uns
BadBadNotGood bastante maduros, onde a fórmula utilizada na produção deste terceiro
trabalho de estúdio apresenta uma banda mais confiante e madura, talvez por se tratar do
primeiro disco composto por músicas inéditas e sob a assinatura da Innovative
Leisure.
Singles como “Since You Asked Kindly” e “CS60” mostram a inocência dos
canadianos através das suas introduções numa percussão bastante suave, embora
com um fim bastante mais poderoso. III é em suma um álbum onde a nostalgia e a
pressão do trabalho dão as mãos e o resultado é tecido em dez músicas cobertas
de jazz de fusão.
Sónia Felizardo

2- Swans – To Be Kind
Muitos avaliam o décimo terceiro álbum dos Swans – eu aceito
parcialmente – como uma espécie de continuação sucessora do The Seer, com as
pouco mais de duas horas a que a banda já nos tem vindo a habituar. Embora,
numa primeira audição diagonal, pareça mais leve e acessível, as faixas
submetem-nos a uma tensão constante, pautada de melodias com energias obscuras
e ritualescas, tecidas numa simbiose entre o transcendente sonoro e a narrativa
desejosa de ser expelida, profunda e inquietante. Consideramos To Be Kind um
dos melhores álbuns do ano pela inteligência com que nos concede um estado de
espírito distintamente elevado e nos submerge numa dualidade de músicas cruas,
agressivas e nervosas, bem como ritmos mais pausadas, ascéticas e minimais, sem
nunca por em causa a coesão do todo – “Bring The Sun/ Toussaint L’Ouverture” e “Oxygen” ilustram bem este sentimento dual.
Joana Pardal

1- Cloud Nothings – Here and Nowhere Else
Here and Nowhere Else é o quarto álbum do projecto de Dylan Baldi e
até à data o melhor já editado sob o nome de Cloud Nothings.  A verdade é que pouco mudou desde Attack On Memory,  com um sonoridade que funde mais uma vez indie
rock e post-hardcore. São 31 minutos de quase apneia, raiva, noise e vocais que
nos lembram os tempos do Grunge.  O
sobrerbo malhão de 7 minutos “Pattern Walks” representa  o clímax deste novo álbum e a prova disso foi
a sua interpretação no NOS Primavera Sound. O disco fecha com a mais
introspectiva “I’m Not Part of Me”, com a sua sonoridade mais pop punk, e
mostra-nos que Dylan finalmente se encontrou. Isto é notório pela maior maturidade apresentada neste novo trabalho.

P.S: “Wasted Days” do anterior Attack on Memory assentaria que nem uma
luva em
Here and Nowhere Else

Rui Gameiro
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