Reportagem: NOS Club [Casa da Música – Porto]

Reportagem: NOS Club [Casa da Música – Porto]

| Dezembro 31, 2014 12:26 pm

Reportagem: NOS Club [Casa da Música – Porto]

| Dezembro 31, 2014 12:26 pm



No dia 20 teve lugar mais uma edição do NOS Club. Esta ocorreu na Casa da Música e contou com concertos de Bombino, Underground Spiritual Band, Matt Elliott e The Legendary Tigerman.


Na Sala Suggia decorreram os concertos de Bombino e Underground Spiritual Band, enquanto na Sala 2 actuaram Matt Elliott e The Legendary Tigerman. 
O músico inglês foi o primeiro a entrar em palco. 




Acompanhado de uma guitarra acústica, alguns pedais e uma flauta, Matt Elliott começou o concerto com as longas e atmosféricas “Zugzwang” e “The Kursk”, dando uso aos pedais, criando loops e outros efeitos que contribuíam para a atmosfera melancólica destas duas canções. Para animar o ambiente, seguiu-se uma versão de “Misirlou”, canção grega dos anos 20 que se tornou mundialmente famosa em 1965, devido à versão surf rock realizada por Dick Dale
Como ainda tinha alguns minutos disponíveis, Matt Elliott acabou o concerto com um cover de “From Russia With Love”, da banda sonora do filme de James Bond com o mesmo nome
Foi um concerto bastante bom e bem recebido pelo público.




Apesar de tudo, o concerto mais aguardado pela maior parte das pessoas era claramente o de Paulo Furtado AKA The Legendary Tigerman. O músico pôs o público ao rubro, com uma setlist de 19 ou 20 canções, a contar com o encore. O foco foi o seu mais recente álbum, True
Tanto sozinho em palco, como com a ajuda de Paulo Segadães na bateria e João Cabrita no saxofone, Tigerman deu tudo num concerto que pareceu satisfazer os seus maiores fãs mas que, na minha opinião, foi repetitivo e, em várias alturas, aborrecido.  
A setlist continha algumas músicas interessantes que, infelizmente, constituíam a parte menor da mesma. Os blues de Paulo Furtado tornaram-se rapidamente repetitivos e, após o concerto de Matt Elliott, souberam a pouco.


Bombino, o virtuoso guitarrista do Niger, regressou a Portugal depois da sua passagem por Paredes de Coura o ano passado — data na qual veio apresentar o seu então novo LP Nomad

Além da sua data no Porto, Bombino esteve também no dia anterior em Lisboa, no B.Leza
Mas falemos daquilo que presenciámos na Casa da Música.

Antes de mais, dissertemos um pouco sobre a personagem:

Omar “Bombino” Moctar é um tuareg que, desde tenra idade — e provavelmente para distanciar a sua mente dos horrores da guerra e do exílio — é um músico auto-didata. Tendo crescido no seio de uma conjuntura complicado (e talvez por causa disso) Bombino é um músico focado no activismo geopolítico. Ele procura preservar a herança do seu povo e dos seus costumes. 
Muitos falam dele como sendo um homem voltado para a educação das novas gerações, uma nova voz do Saara.
E foi, de facto, para os jovens que Bombino se dirigiu maioritariamente na Casa da Música. 
A plateia era composta maioritariamente por gente nova e, desde os primeiros acordes foram enfeitiçados pela sua guitarra frenética e pelas repetições sonoras enérgicas que saiam de todos os instrumentos da banda. 


Entre cordas partidas e problemas na percussão, o espectáculo por nada parou.
Muito pelo contrário, foi crescendo em êxtase e os ânimos (esses, ao rubro) exaltaram-se e a plateia levantou-se para libertar o seu corpo das amarras da incapacidade de ouvir um concerto daqueles sentado. Foi difícil conter a vontade de dançar pelos 30m em que os seguranças de palco tentaram conter o público que tentava contornar esse entrave, com o pretexto de conseguir desfrutar daquele espectáculo na integra e em condições. E isso é impossível de fazer sentado, tais os espasmos provocados pela combinação de lírica de Bombino (os seus temas abordam muitas das vezes a paz e a fraternidade, evocando também elas a aproximação dos povos qual metáfora para a luta que estava a decorrer dentro da Sala Suggia entre o público e os seguranças) e pelos arranjos sonoros frenéticos e repetitivos, que não davam margem para descanso, emergindo a plateia neste êxtase durante mais do que uma hora.

A luta finalmente acabou quando uma enorme massa humana invadiu a frente do palco perante a impotente força e presença dos seguranças da Sala Suggia. Isto prova apenas que a força de um povo é tão forte quanto a sua vontade. talvez um dia vejamos este tipo de união em escalas maiores e em prol de outras causas. Até lá, sabem bem pequenas revoluções destas. 
E sabem bem concertos destes.

Volta sempre Bombino.

Seguiu-se os Undergound Spiritual Band, o verdadeiro e derradeiro tributo a Fela Kuti com cunho nacional.
Este projeto surgiu para prestar homenagem a Fela Kuti — compositor nigeriano que marcou os anos 60 lembrado como grande ativista dos direitos humanos. A sua origem, percurso e influências, dentro de um contexto político controverso, fizeram deste músico uma lenda, pelo respeito pela vida humana e utilizando a música como veículo para a reivindicação política. Kuti foi também o percursor do Afrobeat, um estilo musical que mistura diversos ritmos africanos, jazz e funk. 

Os Underground Spiritual Band  apresentaram-nos no passado dia 20 de Dezembro um concerto delicioso. A banda composta por treze elementos pertencentes a diversos projetos musicais nacionais, tais como o Dentinho & The Promised Band ou os Olive Tree Dance. Todos os elementos têm formação musical e presentearam o público no decorrer do concerto com a clara vénia a Fela Kuti mas também prestando homenagem a bandas como os Antibalas ou os Souljazz Orchestra. Ainda houve tempo para apresentarem dois temas originais.

Obrigada a estes verdadeiros músicos que fazem-nos acreditar que Portugal está na eminência do ressurgimento de grandes projetos, os quais o público português deveria estar atento. 



A música é, acima de tudo, cultura. E estes projetos são o espelho disso mesmo!










Texto e fotos: Rui Santos e Eduardo Silva e Margarida Canastro

FacebookTwitter