Lebanon Hanover
Besides The Abyss

| Março 9, 2015 7:34 pm



Besides The Abyss // Fabrika Records // Março de 2015

8.3/10


Os Lebanon Hanover estão mais maduros e Besides The Abyss, o seu quarto trabalho de estúdio, retrata-o na perfeição. Em Dezembro quando tive oportunidade de entrevistar o William Maybelline, metade do duo juntamente com Larissa Iceglass, este avançou que o novo trabalho teria algo diferente, aquilo “que ambos aspiramos em fazer sempre em cada álbum que lançamos. Não esperem que uma banda em florescimento fique a mesma ao longo do tempo”. E este novo trabalho comprova-o na medida em que se apresenta inovador face à habitual sonoridade dos Lebanon Hanover, mas é igualmente uma optimização dos ritmos presentes em Tomb For Two (2013) e Why Not Just Be Solo (2013), mas na sua vertente mais experimental e de certo modo minimalista. A métrica vocal de Larissa Iceglass mantém-se semelhante, e a grande inovação – que talvez leve a um choque nas primeiras audições – encontra-se na implementação de novos instrumentos, como a guitarra acústica em “Broken Characters”, do saxofone em “The Moor” e da manipulação sonora, incrível, ao nível dos sintetizadores, no geral.

É importante referir também que esta nova experimentação, nomeadamente na manipulação do som dos sintetizadores sombrios de “Fall Industrial Wall”, resume este trabalho a um álbum mais sombrio e o resultado de um isolamento social e processo de auto-reflexão. Como já tinha sido adiantado, o álbum foi escrito em Atenas, em Maio de 2013 e estes dois anos de aperfeiçoamento, e gravação num estúdio profissional pela primeira vez, retratam esta maturidade que Besides The Abyss contém. Se em “Hollow Sky”, o primeiro single de avanço deste quarto longa duração, o duo dividido entre Berlim e New Castle, mostrava uma aposta muito mais forte no som da guitarra e eventualmente no aumento do pitch no baixo, no referido “Fall Industrial Wall” o duo continua a apostar na mesma, embora através de riffs em loop e numa atmosfera bem mais grotesca, mas ao mesmo tempo igualmente confortante e notável no prolongamento das notas do sintetizador. Afinal  o que seria dos Lebanon Hanover sem este instrumento? Ainda no campo da novidade que é este novo álbum, encontra-se o single “The Well”,  um dos grandes singles a marcar 2015, que mostra algumas influências de Bauhaus, mas sempre difundidas por sobre uma camada da coldwave contemporânea.


“Dark Hill” é também um dos singles a sublinhar esta mudança sonora, a abertura traz uma sonoridade, nos tons agudos, a nível dos teclados, com breves parecenças às composições dos Metronomy. No entanto a sua base mostra o habitual lado mais obscuro, pelas bases da percussão “post-punkiana”, embora apresentado igualmente uma versão electrónica com um pormenor bastante actual. Outro dos factores que mostra que os Lebanon Hanover são uma das bandas mais consistentes da actualidade, encontra-se em ambos conseguirem manter um lado muito sombrio a níveis vocais ao mesmo tempo que transferem esse sentimento através de uma sonoridade incrivelmente bem conjugada. E depois encontra-se a lírica, que a cada tempo que passa desmitifica mais a essência da vida, da própria banda e essencialmente do presente trabalho em análise. Em “Chimerical” Larissa diz “My womb is not a gloomy as this bed // It’s more like a tomb when you’re on earth”, e anteriormente em “The Chamber” já nos havia descrito a síntese do título deste novo LP, “Besides The Abyss We Love Beauty // Besides A Mind We Have a Heart // Besides Warmth We Love Clarity” enquanto que nas profundezas do quarto tentou-se arduamente ver o céu. “From Here We Can Sink So Deep // And The Move Up So Very High” (…) “If We Alucinate We Can’t See Light”. E um álbum não desilude só pela mudança brusca de sonoridade, afinal esta até está a ser bem aceite nas consequentes reproduções.

A antiga sonoridade dos Lebanon Hanover parece no entanto não ter sido deixada de parte, William Maybeline continua a explorá-la através do seu projecto a solo QUAL. Untitled, o nome do primeiro curta-duração deste projecto é o retrato dos sintetizadores presentes nos três anteriores trabalhos do duo, e aqui inausentes. Inausentes no sentido que são tão pouco denotados comparativamente aos de The World Is Getting Colder(2012) e posteriores abordagens. Mas fora projectos paralelos, uma das grandes conquistas deste novo trabalho encontra-se exactamente nesta percussão, mais contida, há assim espaço para uma exploração sentimentalista que é guardada na alma, ao invés de mostrada em tom de revolta na percussão constante, sentida anteriormente. É na insistida reprodução de Besides The Abyss que se percebe que este novo trabalho não se trata de apenas uma modificação dos antigos trabalhos, mas de uma evolução bastante positiva no que o duo houvera feito até então. Agora é despir o som do que não resultou, nomeadamente a guitarra de “Broken Characters” e o saxofone de “The Moor”, e apostar numa sonoridade mais melancólica à semelhança da enorme “Spirals”.

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