Tomba Lobos
Adeus

| Março 11, 2015 7:21 pm
Adeus // Gentle Records // Fevereiro de 2015
7.7/10


Tomba Lobos é o projecto a solo de José Cardoso, um dos fundadores da Gentle Records, pela qual Adeus, álbum de estreia, recebe selo de edição. Este primeiro longa duração segue e seu EP FANNY+ (2013) e mostra uma maturidade face ao anterior trabalho, nomeadamente no que toca à exploração de novas sonoridades e conjugação de instrumentos. No entanto mantém igualmente, na sua base, algumas das características de FANNY+. “Medo de Água”, o single de abertura de Adeus, é uma revisita ao ambiente instrumental que se encontra presente nesse curta duração, e igualmente em muitos dos projectos da casa da Gentle Records. A voz e a guitarra são facilmente comparáveis ao som saudoso de Coelho Radioactivo, que volta a ser reafirmado posteriormente em “Anita Xunga” e, tocado num tom mais pessoal, em “Massa com Atum 1” e em “Soltem o Prisioneiro”, música de encerramento do álbum. Contudo não é deste Tomba Lobos que se falará adiante.

Referiu-se, em cima que, Adeus traz embutido em si uma exploração sonora, e é nesta exploração que se pretende mostrar o efeito surpresa que este álbum é. O tom saudoso, explorado nas mencionadas faixas acima, é deixado de lado, e vê-se em “Ferida” que o Tomba Lobos tem muita potencialidade em si, como compositor. Há distorção, som gravado em lo-fi e acima de tudo um ritmo acelerado que, juntamente à voz reverberada de José Cardoso, resulta em dois minutos e meio de garage-rock. É uma das melhores músicas do presente álbum, mas torna-se difícil escolher uma só, num álbum inteligente como este. E na monotonia Adeus nunca cairá. “Férias no Algarve” é outro dos singles a destacar-se pelo incrível riff de guitarra que se inicia aos dois minutos. “Empreendedor” consegue levar-nos numa viagem até à Califórnia através das guitarras que soam a Tomorrows Tulips, sempre com a percussão típica das terras das editoras como a lolipop ou a Burger Records. E depois há a incrível “Mensagens do Facebook” com um fim frenético. Tomba Lobos traz muitas influências na produção deste álbum, mas torna-o igualmente tão característico e ao mesmo tempo tão português. “Fera” é outro single que não pode deixar de ser mencionado. 

Adeus é o “LP de estreia e despedida” segundo a descrição do mesmo no bandcamp, e se de facto for mesmo o álbum de despedida, vai deixar ainda muitas portas por fechar. São difíceis os álbuns que no final deixam aquela vontade de ouvir mais e mais, e de facto Adeus deixa essa  vontade, marcada ao fim da maioria das faixas que o compõe. Esta nova exploração da guitarra em conjugação com as suas tamanhas influências resulta num bom álbum que eventualmente teria resultado melhor se aproveitasse as sonoridades de FANNY+ mas não as tendo deixado só a guitarra e voz. Tomba Lobos não deixa no entanto margem para dúvidas, a experiência de ouvir Adeus ao vivo deve ser incrível e, mesmo as canções só de guitarra e voz em falsete transmitirão certamente um ambiente inédito. Um álbum a ter em consideração na lista dos álbuns nacionais do ano.

Antes do Adeus e só para referir mais uma faixa:

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