A Place to Bury Strangers em entrevista: “Adoro Portugal. As duas vezes que tocámos lá foram uma loucura!”

A Place to Bury Strangers em entrevista: “Adoro Portugal. As duas vezes que tocámos lá foram uma loucura!”

| Abril 27, 2015 9:23 pm

A Place to Bury Strangers em entrevista: “Adoro Portugal. As duas vezes que tocámos lá foram uma loucura!”

| Abril 27, 2015 9:23 pm

No passado dia 18 fomos ao Bad Bonn ver os A Place to Bury Strangers e aproveitámos para entrevistar Oliver Ackermann, guitarrista e cantor da banda, depois do excelente concerto que deram. 

Threshold Magazine: Parabéns, o concerto foi mesmo muito bom! Deve ter sido o concerto mais pequeno desta digressão, não?

Oliver Ackermann: Obrigado! Hmm, não tenho a certeza. Também tocámos num barco em França há uns dias, e só cabiam lá umas 150 pessoas. Parecia que estávamos a tocar num submarino.

TM: E também tocam em grandes festivais…

OA: Ya, às vezes. Tocamos tudo em todo o tipo de sítios. Festivais, salas grandes, salas pequenas… Países diferentes, pessoas diferentes, há países onde o pessoal curte ouvir música meia “fodida”, noutros nem tanto.

TM: E preferem dar concertos mais pequenos como é o caso deste, ou festivais?

OA: Para mim é-me igual, desde que sinta que o público está a gostar de nos ver. Às vezes posso estar mesmo cansado e achar que vai ser um concerto de merda, mas depois o público é brutal, e outras vezes é ao contrário, estou super entusiasmado, chego lá e o concerto é uma merda (risos).

TM: Li numa entrevista qualquer que estão fartos de serem comparados a bandas shoegaze, mas durante o vosso concerto lembrei-me do concerto que vi dos My Bloody Valentine, principalmente por causa do volume a que tocam. 

OA: Eu não me importo. Os outros membros é que não acham muita piada porque eles não são lá muito fãs desse tipo de música, mas eu cresci a ouvir cenas dessas. Quando era novo e comecei a tocar guitarra era obcecado pelos My Bloody Valentine, Slowdive, Jesus and Mary Chain, The Cure, Cocteau Twins e essas bandas todas, por isso consigo perceber porque é que somos tão comparados a esse tipo de bandas, e até concordo que em certos aspetos somos parecidos. Também vi os My Bloody Valentine algumas vezes em 2013 ou em 2014 e eles abusam (risos). 

TM: Vêem-se como uma banda do mainstream do underground, ou crêem que já não existe um “underground”?

OA: (risos) Eu acho que nós ainda somos uma banda underground, nem me consigo imaginar a tocar numa banda “mainstream”. Se for esse o caso [sermos uma banda mainstream do underground] é uma loucura (risos). A minha forma de pensar ainda é a mesma de quando eu era um puto e gravava música em casa. Nós nunca tentamos fazer música para agradar ao público, tentamos fazer sempre uma cena que nos soe bem a nós. 

TM: Sim, mas mesmo assim, no Reverence Valada do ano passado por exemplo, foram headliners. 

OA: Ya, foi brutal, ainda nem acredito que isso aconteceu. 

TM: Uma das coisas que nós destacámos na review do vosso último trabalho — o Transfixiation — e talvez esta seja uma característica transversal a todos os vossos temas foi o uso do ruído como metáfora para a vida. 

Basicamente, descrevemos as vossas músicas enquanto ruidosas porque a vida é também o é. Ruidosa, suja, barulhenta e violenta, e o único escape que temos é lutar, gritar e fazer ver a nossa causa até ao fim. Estamos correctos na nossa leitura? 
OA: Por acaso nunca tinha pensado nisso (risos), mas sim. Às vezes a vida é lixada e acho que isso se reflecte na nossa música. Nós nunca tentamos que a nossa música soe a uma coisa específica, é tudo muito puro e natural.

TM: O que vos influenciou durante a escrita deste Transfixiation?

OA: Tchi, tanta coisa. Vimos muitos concertos excelentes na Death by Audio. Os The Dreams deram um concerto brutal lá. Os Yonatan Gat também, que é uma banda do gajo dos Monotonix. Hm… não sei, fomos influenciados por muitas coisas diferentes.

TM: Como é que vocês escrevem? Todos juntos, ou um de vocês tem uma ideia e trabalham a partir daí?

OA: Neste álbum tentámos escrever tudo todos juntos. Achamos que é a melhor maneira de fazer um álbum porque cada um toca partes que lhes dizem muito pessoalmente. O Robbie, por exemplo, adora tocar bateria e se fosse eu a tocar de certeza que não ia soar tão bem porque ele é um monstro. Por isso sim, este álbum foi praticamente todo escrito por nós os três. E sinceramente até prefiro assim, faz-me sentir que faço mesmo parte duma banda e isso para mim é uma cena tão romântica e espectacular.

TM: Gravaram-no na Death by Audio?

OA: Sim.

TM: Então foi o último álbum que gravaram lá, certo?

OA: Sim, infelizmente. Só o primeiro álbum é que gravei noutro sítio, os outros foram todos gravados lá. 

TM: Como é que foi quando vos anunciaram que iam ter que fechar? Tentaram lutar contra isso ou não valia a pena?

OA: Foi uma merda, fiquei mesmo triste. O que nós fazíamos ali era ilegal, e mesmo assim durou durante 9 anos. Tivemos muita sorte de ter a oportunidade de fazer todas as cenas maradas que lá fizemos durante tantos anos seguidos. Nós sempre soubemos que ia acabar por acontecer, só não sabíamos quando. Ainda tentamos lutar mas sem nenhuma esperança. Éramos nós contra a Vice, que têm bué dinheiro para advogados e essas cenas todas, e nós não. Durante os últimos tempos em que lá estivemos eles fizeram-nos cenas que nem lembram ao diabo, tentaram inundar-nos, houveram pessoas que vieram lá nos ameaçar com cenas horríveis. Chegaram a mandar com bué pó lá para dentro durante um concerto, e o pessoal ficou sem conseguir respirar. Às seis da manhã iam para a porta fazer barulho com buzinas e cenas do género sabendo que nós dormíamos lá. Destruíram montes de obras de arte de várias pessoas etc. Mas pronto, não pudemos fazer nada contra isso. Como disse há bocado eles têm bué dinheiro e nós não. Nós éramos uma associação sem fins lucrativos, todo o dinheiro das entradas ia para as bandas. Nós só estávamos lá para ajudar a cena e também porque em Nova Iorque não há grande coisa para fazer, os putos saem de casa e andam metidos em drogas duras e cenas do género, por isso acho que é importante haver espaços como este para combater esse tédio. 

TM: E vão tentar abrir outra cena do género?

OA: Sim, acho que sim, mas ainda é um bocado cedo demais para fazer isso. Nós mudámos as nossas cenas para outro armazém, mas por enquanto ainda não temos espaço para dar concertos lá. Mas quando esta digressão acabar vou tentar fazer com que isso aconteça.

TM: Têm medo que a cena DIY desapareça?

OA: Não, bem pelo contrário. Acho que cada vez que uma cena como a Death by Audio fechar, vai abrir outra ainda maior. As grandes corporações vão continuar a tentar meter a cena DIY abaixo, mas isso nunca vai acontecer. As pessoas vão continuar a querer fazer cenas elas próprias, quer seja agendar concertos ou outra cena qualquer. E uma das razões para eu o fazer também foi para mostrar a essas pessoas que elas são capazes de o fazer. Nós temos uma empresta, que nem é bem uma empresta, que agenda concertos, fabrica pedais de efeitos, edita álbuns e muito mais. Por isso se nós conseguimos, toda a gente consegue. 

TM: O que é que têm ouvido durante esta digressão? Vi no Facebook que fizeram um post com uma letra dos Smiths. São fãs da banda?

OA: (risos) Ya, gosto muito deles. Isso foi uma piada, só escrevemos isso porque estávamos em Manchester. Ouvimos bué cenas diferentes, depende da nossa disposição. Uma banda que se chama Babyland, da Califórnia. Guardian Alien, Creedence Clearwater Revival… (risos). Muita coisa. 

TM: O que se segue para os A Place To Bury Strangers? Quando é que estão a pensar gravar material novo outra vez?

OA: Desta vez vamos tentar gravar enquanto andamos em digressão. Duas músicas do último álbum foram gravadas na Noruega e foi muito fixe. Acho que era uma cena fixe de se fazer, tipo gravar o álbum em vários estúdios de amigos e assim e ver o que acontece. Vamos ver, se não funcionar vamos fazer tudo sozinhos outra vez. 

TM: Tipo os Foo Fighters? (risos) Acho que também gravaram uma música por cidade ou uma cena parecida.

OA: Não me acredito! (risos) Sendo assim retiro o que disse, acho que não vamos fazer isso. 

TM: Estão a pensar tocar em Portugal este ano?

OA: Espero bem que sim, acho que vamos lá tocar mas não tenho a certeza. Mas gostava muito, adoro Portugal. As duas vezes que tocámos lá foram uma loucura. 

TM: Sendo assim, ainda nos vemos por lá! Muito obrigado e até à próxima.

OA: Obrigado a vocês, até um dia destes!

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