Em Entrevista: André Barros

Em Entrevista: André Barros

| Junho 25, 2015 3:19 pm

Em Entrevista: André Barros

| Junho 25, 2015 3:19 pm
Estivemos à conversa com o André Barros, um dos melhores compositores nacionais, que em Maio 2015 editou pela Omnichord Records o seu segundo álbum Soundtracks Vol.I, onde reuniu as várias músicas que compôs para bandas sonoras.

Threshold Magazine: Olá André, tudo bem?

André Barros: Tudo óptimo! Obrigado pelo convite 🙂

TM: Como correram os concertos que deste na Casa da Música e no CCB agora em Junho?

AB: Os concertos correram bem e a reacção do público foi muito calorosa! Foi, de facto, um privilégio para mim poder pisar aqueles palcos, ainda para mais com as condições fantásticas que me proporcionaram, desde o desenho de luz ao técnico de som que me acompanhou, foram sem sombra de dúvida dois momentos que guardarei com muito carinho.

TM: O teu segundo disco Soundtracks Vol. I foi editado no final do mês passado. Como é que têm sido as reacções ao teu novo trabalho?

AB: Tenho tido a felicidade de ter uma forte promoção ao disco, o que desde logo permitiu receber várias opiniões sobre o mesmo e que têm sido, felizmente, bastante positivas! É extraordinário perceber que um disco “invulgar” (pois não é assim tão comum editar-se compilações de bandas sonoras em Portugal) pode ser tão bem acolhido pelo público em geral e despertar nele o interesse em assistirem às minhas actuações ao vivo. Têm sido umas semanas muito gratificantes para mim e para a minha editora.

TM: Ao ouvir Soundtracks Vol. I notamos algumas influências de Yann Tiersen, especialmente na música “The Passenger Who Never Left”, e Rodrigo Leão em “Babacar”. Podes-nos dizer quais as maiores influências na criação da tua música?

AB: Não tenho qualquer dúvida que esses, e tantos outros nomes de compositores conhecidos do público em geral, possam ser lembrados aquando do contacto com o meu trabalho, pois são, de facto, enormes influências minhas e que, invariavelmente e de forma muito intuitiva e irracional, contribuem para o meu processo criativo. Entre outros compositores/músicos que aprecio muito – dentro deste género musical – estão o Max Richter, Ólafur Arnalds, Wim Mertens, Clint Mansell, Philip Glass, Abel Korzeniowski, o agora falecido James Horner, entre tantos outros.

TM: Como é que normalmente funciona o processo criativo para produzir uma banda sonora? Segues as ordens do realizador e pegas na temática do filme para compor ou compões livremente e só depois a tua música é selecionada para fazer parte da banda sonora?

AB: O mais comum é ser-me enviado o guião do filme (antes mesmo de haver quaisquer filmagens) e eu começar, desde logo, a trabalhar em aquilo que poderá ser um possível tema principal. Vou também, logo aí, descobrindo qual a sonoridade geral que o filme procura e pensando na instrumentação a usar. De seguida, o realizador/produtora envia-me o chamado “rough cut” que poderá ser já do filme completo, ou apenas de algumas cenas em particular, e então aí começo a compor com mais detalhe, desenvolvendo possíveis temas de personagens e lentamente vamos sonorizando todo o filme até ter o aval final do realizador. Posso dizer que, normalmente, tenho imensa margem de manobra e que, invariavelmente (por sorte!), os realizadores têm gostado dos meus temas desde uma fase muito inicial, o que ajuda imenso no cumprir de prazos, sobrando mais tempo para afinar determinados detalhes antes da gravação final.

TM: Há algum realizador em especial com quem gostasses de trabalhar?

AB: Entre tantos e tantos nomes, posso destacar talvez o David Lynch se este voltasse a apostar num projecto semelhante ao The Straight Story (sendo que este foi um filme com uma toada bem diferente daquilo a que nos acostumou habitualmente)!

TM: E compositor ou músico? Por exemplo, The Legendary Tigerman e os escoceses Mogwai já participaram em algumas bandas sonoras…

AB: É uma resposta bem difícil de dar, pois há um sem número de músicos/projectos com quem adoraria trabalhar, portugueses e estrangeiros claro! Estes dois nomes seriam excelentes escolhas! Mas se tivesse de dar agora uma nome, talvez escolhesse o Kjartan Sveinsson, ex-pianista dos Sigur Rós, com quem aliás estive algumas vezes durante o meu estágio no Sundlaugin Studio, na Islândia. É um músico e compositor cujo trabalhou sempre me fascinou!

TM: Como é que te sentes ao saber que o teu nome já chegou a sítios tão conceituados como o festival de cinema de Cannes?

AB: É, acima de tudo, um privilégio poder ter já participado em projectos que têm tido excelentes críticas nos circuitos de festivais que fazem, e tudo isto funciona tão somente como um enorme estímulo para continuar com o bom trabalho e não desistir perante quaisquer adversidades, que infelizmente assolam a indústria da música e das artes em geral!

TM: Conta-nos como foi a tua experiência na Islândia. Como é viver num país tão diferente do nosso?

AB: Tive a possibilidade de estagiar no mítico Sundlaugin Studio (Álafoss, a cerca de 20/30 kms de Reykjavik), fundado pelo Sigur Rós, e é inegável que este tem uma mística qualquer que, inevitavelmente, passará pelo acolher os projectos desta banda que tem tido um impacto profundo no panorama actual da música. Desde a simplicidade, o rigor e a tranquilidade que reinam no estúdio durante as sessões de gravação, ajudando-me a amadurecer tantos aspectos da produção musical, à imponência visual profundamente deslumbrante daquele País passando pela vivência junto daquele povo tão peculiar e com quem podemos também muito aprender, tudo isto ficará para sempre comigo e influi naturalmente no meu processo criativo ainda hoje, ajudando-me a alimentar e a moldar a visão que procuro para o meu trabalho em geral. A experiência não poderia ter sido melhor! Nas diferenças culturais acentuadas e nas paisagens tão distintas das que estamos habituados, encontramos muitos pontos de contacto e, embora seja um pouco cliché dizer isto, acabamos por constatar que somos todos iguais independentemente da zona do globo onde vivemos!

TM: Pensas que se tivesses ficado em Portugal terias desenvolvido a tua educação musical como fizeste na Islândia? 

AB: Sim, acredito que sim. A experiência na Islândia foi de uma importância enorme para que pudesse estimular a minha vontade de singrar na música, embora ainda assim acredite que não haja sido decisiva nesta decisão. Absorvi ao máximo todo e qualquer ensinamento que me haja sido transmitido durante aquela estadia mas teria seguido este meu sonho independentemente do estágio ter acontecido ou não.

TM: Dada a situação atual da cultura portuguesa, pensas que se tivesses permanecido por cá terias tido a oportunidade de ter gravado o teu primeiro trabalho?

AB: Sim, claro que sim. É mais do que evidente que a indústria da música se encontra demasiado estrangulada pelas dificuldades notórias por que todos nós passamos, ainda assim com um investimento e empenho pessoais, tudo é concretizável, pelo menos até determinado momento… chegado este ponto – aquele em que temos de ser completamente autónomos e independentes sobrevivendo exclusivamente dá música – temos de tentar tudo por tudo para assegurar que a música não se tornou meramente um hobby mas sim algo do qual consigamos tirar o nosso sustento e, no meu caso, as bandas sonoras têm sido o meu balão de oxigénio.

TM: Quais são os planos para o futuro? Há já algumas músicas para bandas sonoras em mente?

AB: Terminei, muito recentemente, uma nova banda sonora – para a longa-metragem de ficção de Oliver Salk – e estou, neste momento, a trabalhar em mais duas bandas sonoras (para uma curta de ficção e para uma longa documental). De momento, para além de estar ocupado com o compor para bandas sonoras, estou também a ter alguns concertos de apresentação deste meu novo disco (tocando, no entanto, também vários temas do meu primeiro álbum Circustances), e vou ainda desenvolvendo o projecto que criei com a minha namorada, Joana Santos – os Melodium (www.melodiumproject.com), um projecto muito interessante que tem composições minhas para violoncelo a solo, interpretadas ao vivo por uma violoncelista e coreografadas e dançadas a solo pela Joana, tanto em dança clássica como contemporânea.

TM: Tens alguma banda sonora favorita?

AB: Tenho algumas que estão no mesmo patamar de eleição, mas destacaria talvez a de The Straight Story, do compositor Angelo Badalamenti.

TM: O que tens ouvido nas últimas semanas?

AB: Abel Korzeniowski e o português Valter Lobo!

TM: Esperamos que tenhas gostado da entrevista.
FacebookTwitter