Pega Monstro
Alfarroba

| Julho 24, 2015 9:35 pm
Alfarroba // Upset The Rhythm // julho de 2015
8.3/10

As Pega Monstro, dupla composta pelas irmãs Júlia (bateria) e Maria Reis (voz, guitarra, teclados), estrearam-se este ano com a londrina Upset The Rhythm, editora pela qual editam agora Alfarroba, segundo disco de estúdio, após a estreia com o homónimo Pega Monstro em 2012 pela Cafetra Records, selo fundado em parceria com amigos para retratar a cena garage punk em Lisboa. Conhecidas pela seu garage-rock em gravação lo-fi (eish, o Juno-60 Nunca Teve Fita), as Pega Monstro fazem música de adolescentes com letras de adolescentes e o segredo da coesão, que têm vindo mostrado ao longo destes últimos cinco anos encontra-se na simplicidade. Se no início, em “Paredes de Coura”, a voz de Maria era tímida e introspetiva (a Moxila riu-se) cinco anos depois, em “Fiz Esta Canção” a voz reverberada passa a ser o ponto foco e abre-se à guitarra, que engloba um protagonismo tamanho.

Depois de uma produção na estreia com assinatura de B Fachada, a ser aclamado por muitos, esperava-se do seu sucessor uma boa defesa do trono. E em “És Tudo O Que Eu Queria” as Pega Monstro fazem-no tão bem através desse resultado da influente do tio B. O nome deste segundo longa duração deve-se ao facto de haver um número considerável de árvores de alfarrobas em Lagos, onde parte da família materna do duo era natural, e as férias de verão de infância terem sido passadas lá. E assim Alfarroba, produzido por Leonardo Bindilatti (Putas Bêbadas, Iguanas), pega em diversos assuntos desde o amor, crescimento, escrever músicas e apresenta uma sonoridade mais pensada, mas igualmente impulsiva. Em “Braço de Ferro”, canção de avanço, ouve-se Maria a cantar “Tudo o que faço sem saber/ Não fiz nada”  e continua com “De ti não quero saber de ti”, uma boa música para quem acaba de terminar relacionamentos, ou somente para servir de banda sonora, enquanto se choram umas lágrimas (Ouvir “Fado d’Água”).


Alfarroba é um disco extremamente reflexivo na lírica, mostrado através de uma sonoridade que, ironicamente, por si, transmite vibrações mais positivas e menos pensadas. “Amêndoa Amarga” volta a reforçar essa reflexão, mas num modo adolescente revoltado. Há guitarras clássicas, elétricas com uma energia tamanha, riffs solidificados e uma voz a chamar pelo feedback da bateria, positivo, onde os acordes que a acompanham soam a fresco. 


As Pega Monstro continuam fiéis aos sentimentos instáveis, sentidos na construção da personalidade, e tecem, neste segundo longa duração, um disco que mostra que em Portugal se tem vindo a fazer muito boa música, na cena independente, nos últimos anos, e, que se continuam a produzir álbuns que merecem destaque pelo selo de qualidade. Talvez por isso, a fórmula de encerramento “Voltas Para Trás”, seja tão bem aplicada, afinal Alfarroba é um disco para ouvir em loop, num verão que tarda em chegar e os desgostos amorosos são já coisas aborrecidas.

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