Cinco Discos, Cinco Críticas #8

| Setembro 2, 2015 11:34 pm
Dissemble // Tough Love // agosto de 2015
7.3/10

Dissemble marca a estreia dos ingleses Autobahn nos discos depois de dois EP’s que chamaram a atenção da crítica pela sonoridade punk que apresentavam, merecendo comparações aos primeiros trabalhos de Public Image Limited. Agora mais “crescidos” e voltados para um revivalismo do post-punk, com influências de Bauhaus confirmadas, os Autobahn apresentam um álbum com singles bastante interessantes do ponto de vista sonoro, em que se encontra uma conjugação dos acordes dos anos 80, com o toque ressurgente da atualidade. Um dos singles a tomar de impacto o ouvinte encontra-se no homónimo “Dissemble”, onde a aura do início do post-punk e rock gótico que tomavam de assalto a imprensa musical nos finais da década de 70 serve como uma mas valia na sua composição. Posteriormente, encontram-se “Society” e “Ostententation” dois malhões de punk que mostram uma proximidade à sonoridade apresentada nos dois primeiros curta-duração. Posteriormente em “Passion” é possível voltar a encontrar esta identificação inicial. Um dos pontos altos a reter de Dissemble é a voz bastante característica de Craig Johnson, que se adequa perfeitamente ao estilo e o eleva a comparações que vão de Andrew Eldritch a Ian Curtis. No entanto, no geral, o álbum de estreia dos Autobahn não tece algo que não se esperasse. Sabe-se apenas que, enquanto mantiverem o teclado afastado das composições, merecem ser uma banda a ter em atenção.

Sónia Felizardo

 

Weed For The Parrots // Luv Luv Luv // junho de 2015
7.8/10

Os The Parrots são uma banda espanhola de garage rock, que no passado dia 22 de junho editaram mais um EP, Weed For The Parrots. Os madrilenos, que passaram por Portugal ainda há pouco tempo, pelo Maus Hábitos (no Porto) e pela Galeria Zé dos Bois (em Lisboa), apresentaram assim o seu último EP antes de começarem as gravações do seu primeiro álbum, no qual o trio já está a trabalhar, conforme divulgado no facebook da banda. Os The Parrots conseguem neste EP um trabalho sólido, onde podemos destacar todas as músicas de forma consistente, havendo um contraste entre uns Parrots mais calmos, como por exemplo, em “To The People Who Showed Me Their Love While I Was Here” e “White Fang”, e uns Parrots mais enérgicos, em “Terror” e “All My Loving” (cover dos The Almighty Defenders). O trio madrileno mostrou que conseguiu preparar bem o seu primeiro álbum, através deste EP bem conseguido, o que nos deixa ansiosos por esse primeiro longa duração, e também, depois dos enérgicos concertos que a banda deu quando passou por cá pela primeira vez, pelo regresso a Portugal.

 

Tiago Farinha

DEATH MAGIC // Loma Vista // agosto de 2015
8.0/10

Depois da brilhante banda sonora do Max Payne 3, os HEALTH voltaram às edições com DEATH MAGIC, o seu mais recente LP.
DEATH MAGIC é, na sua essência, uma prova à nossa resistência. Durante 40 minutos do LP, somos massacrados por um corpo sonoro que oscila entre a disco, o noise, o industrial a pop, intercalado com os vocais monocórdicos de Jake Duzsik. Podíamos pegar nesses factos e dizer que DEATH MAGIC não contém muito de valor porque a experiência se resume a isto. Mas estaríamos a fazer uma leitura muito superficial daquilo que se passa neste LP. Afinal de contas, só os HEALTH são capazes de manter a harmonia da forma ao combinar valores tão dispares na sua composição sonora. O angelical com o profano, o sedutor com o hediondo, o amor com a violência, a carícia com a agressão. Combinações chocantes e aparentemente contraditórias. Mas afinal, é de extremos que se pauta toda a obra dos HEALTH. A voz angelical de Jake Duzsik é interposta com o rugido dos sintetizadores, as cordas dilacerantes e a força musculada da (por vezes) dupla percussão. A tensão é um elemento de constante presença neste álbum. O ritmo é possante. A lírica é visceral. E a experiência deste disco é, em última instância, massacrante. Resistam interpretar DEATH MAGIC como uma batalha, na qual os nossos sentidos têm que resistir para transpor todas as diferentes fases de violência e imundície do LP. Interpretem sim todo o processo de audição do LP como uma espécie de catarse, uma limpeza espiritual necessária para se descobrir a beleza que jaz por detrás do horrendo neste DEATH MAGIC.

Eduardo Silva



Hallelujah // Ad Noiseum // dezembro de 2012
7.5/10

Já há vários anos que a música clássica e o metal andam de mãos dadas, no entanto, encontrar uma caótica mistura de death-metal, música barroca e breakcore já não é tão comum. Em Hallelujah, o último longa-duração de estúdio do compositor e multi-instrumentalista francês Gautier Serre, mais conhecido por Igorrr, pode-se encontrar um complexo espectro sonoro protagonizado por riffs pesados, sons eletrónicos, growls, canto clássico e até uma galinha. Os momentos mais intensos são frequentemente cortados de forma inesperada por seções suaves que, por sua vez, são interrompidas abruptamente por mais caos, deixando o ouvinte permanentemente numa expectativa do que virá a seguir. Hallelujah não é um álbum para todos, apenas para os mais aventureiros e aqueles que não temam perde-se na insanidade do universo musical de Igorrr.

Martinho Mota



Through // Self-released // setembro de 2015
6.7/10

Far Warmth é o projeto de Afonso Ferreira, jovem estudante de Produção Artística em Lisboa, e que, com apenas 17 anos, já lança o seu primeiro disco de longa duração. Through é um álbum muito melancólico que gira todo em torno de um ambiental sombrio em que, no seu desenrolar, sente-se aquele mal-estar, que temos quando uma relação não resulta, desenvolver-se e tomar forma de uma grande depressão que nos devora por dentro floreada com lindas melodias de teclado: isto nota-se muito bem na terceira faixa de Through (curiosamente a mais longa do disco com quase 9 minutos), “Never Satisfying”, porque a maneira de como Afonso cria uma atmosfera quase que de esperança no ínicio da música que pouco depois se transforma num típico cenário do final de “Romeu e Julieta”, é a perfeita descrição do que se sente quando alguém nunca se acha suficiente. Apesar disso o álbum ainda é muito verde, pormenores que poderiam ter sido aperfeiçoados infelizmente não foram e depois uma problemática constante de toda a música ambiental ainda não completamente cozida que é a semelhança muito grande entre faixas. Isso, no entanto, não é razão para dizer que Through é um mau álbum, pelo contrário, foi por esse mesmo caminho que grandes artistas teceram o seu fado e se Far Warmth continuar neste caminho acredito que venha a ser um dos grandes músicos portugueses da cena ambiental/experimental.
Through estará disponível para download e compra digital dia 8 de Setembro mas se querem já matar alguma curiosidade oiçam já aqui o seu primeiro single, “Again”, faixa que fecha o álbum com todo o frio que seria de esperar, o voltar outra vez à mesma merda.

Para terem mais um acrescento de como o álbum soa podem visitar o Bandcamp do artista aqui!

Júlio de Lucena


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