Reportagem: Vodafone Paredes de Coura 2015

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura 2015

| Setembro 9, 2015 2:56 pm

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura 2015

| Setembro 9, 2015 2:56 pm



À 23ª edição, o Vodafone Paredes de Coura ficou marcado pelo esgotamento dos passes diários. A enchente de povo, a somar à “enchente” de música, fizeram história no Paredes de Coura e, só quem foi, pode guardar na memória as condições meteorológicas bruscas que se viveu lá, além dos excelentes momentos na praia fluvial. 

Primeiro  Dia


Quando  se chegou ao recinto, no primeiro dia, já estava a decorrer o concerto dos Ceremony, banda de post-punk californiana. Apesar de terem dado um concerto razoável, sentiu-se que o grupo não estava preparado para tocar num palco tão grande e, de certeza, que teriam beneficiado de um concerto mais tardio no palco secundário. De seguida foram os Blood Red Shoes a atuarem no mesmo palco e as coisas tomaram um rumo melhor. O rock energético da banda conseguiu contagiar o público que respondeu com ainda mais energia, não só com moshpits e crowdsurfs, mas também ao cantar algumas das canções mais populares da banda como “It’s Getting Boring By The Sea” e “I Wish I Was Someone Better”. 


Depois do concerto dos Blood Red Shoes veio o momento mais difícil do festival: esperar pelos Slowdive. A mítica banda de shoegaze dos anos 90 era, para muitos, a maior atração do festival e certamente que quem os nunca tinha visto não ficou desiludido. Com um começo bastante interessante, interpretando temas de Pygmalion e Just For A Day, como “Catch The Breeze” e “Crazy For You”, foi quando entraram no território de Souvlaki que atingiram o auge do concerto. As primeiras notas de “Machine Gun” deixaram logo os fãs eufóricos e, em “When The Sun Hits”, foi bonito ver as pessoas das primeiras filas a cantar como se não houvesse amanhã. Mas o momento mais especial foi quando o grupo tocou “Dagger” e “Alison” de seguida, momento esse que com certeza partiu muitos corações na audiência. 
Segundo Dia


No segundo dia de festival subiu-se mais cedo para poder assistir ao set das Hinds e as espanholas não desiludiram. Com uma espécie de garage rock divertido estilo Black Lips, as quatro raparigas souberam cativar os espectadores já presentes no festival com malhas catchy, e também interagindo com eles, chegando a convidá-los até ao seu acampamento perto das “duchas”. No final do concerto ainda houve espaço para uma cover da clássica “Davey Crockett” das xxx

Tim Presley, mais conhecido por White Fence, agora acompanhado por Cate Le Bon, também deu um bom concerto, apesar de não ter superado as expectativas. Um concerto demasiado centrado no último trabalho de estúdio e, mesmo assim, deixando de lado algumas das melhores músicas como “Like That” e “Wolf Gets Red Faced”. Valeu sobretudo pelo lado mais punk que apresenta com a banda ao vivo. 

Quem encerrou o palco Vodafone FM foram os Iceage, que já tinham atuado no festival em 2013. Agora com Plowing Into The Field Of Love na bagagem, os dinamarqueses meteram o palco secundário a abarrotar. Mas, tal como no concerto de White Fence, a banda focou-se demasiado no último álbum e deixou de fora grande parte de New Brigade e de You’re Nothing, o que fez com o que o concerto fosse menos agitado do que poderia ter sido. Os pontos altos da actuação foram sem dúvida “Ecstasy”, a última música do primeiro registo do grupo, e “Forever”, o primeiro single saído de Plowing Into The Field Of Love. De resto, durante grande parte do concerto, os Iceage pareciam estar sempre a criar tensão para depois acabarem com os temas antes deles explodirem, o que, passado uns tempos, tornou-se aborrecido.


Já no palco principal, o concerto do lisboeta Paulo Furtado, mais conhecido por The Legendary Tigerman, foi repetitivo e aborrecido, tendo poucos momentos que se destacaram pela positiva. Mesmo assim conseguiu animar grande parte do público antes do concerto dos Tame Impala


Apesar de se terem focado demasiado no novo álbum, Currents, e de terem alterado desnecessariamente a sonoridade das musicas mais antigas, os Tame Impala deram um concerto muito bom. Músicas como “It is Not Meant to Be”, “Apocalypse Dreams” e “Elephant”, que pôs toda a gente a saltar, compensaram momentos mais fracos como a exageradamente longa “Let it Happen” e a extremamente aborrecida “Cause I’m a Man”. Ficaram a faltar, entre outras, “Solitude is Bliss” e “Half Full Glass of Wine”, mas Kevin Parker e companhia não desiludiram e mostraram que ainda estão em boa forma.



Terceiro Dia

A abrir o palco principal estiveram os X-Wife. A banda portuense, que já tinha atuado em Paredes de Coura em 2003, deu um concerto agradável que pareceu satisfazer os seus maiores fãs, mas que não convenceu completamente a maior parte do público. “Keep on the Dancing”, “On the Radio” e o novo single “Movin’ Up” foram os principais pontos positivos da atuação

Os Allah-Las, quarteto proveniente de LA, proporcionaram um belo pôr do sol aos espetadores já presentes no recinto. A pop psicadélica característica do sítio de onde vêm deu origem a um dos melhores concertos do dia 21, e foi especialmente bom voltar a ouvir temas como “Tell Me (What’s On Your Mind)” ou ainda “Catamaran”.  Já Mark Lanegan, ex-vocalista dos Queens Of The Stone Age, deu um concerto aborrecido no qual o único momento memorável foi uma cover da clássica “Atmosphere” dos Joy Division


Quarto Dia


Às 15h00, no Jazz na Relva, tocaram os Serushiô. O duo de blues rock do Porto foi uma das maiores surpresas do festival, dando um concerto muito bom que, mesmo com chuva, pôs o público ao rubro. Houve crowdsurfing, mosh e um encore não planeado que aconteceu apenas devido à insistência do público, que queria ouvir mais uma música. Com um alinhamento principalmente focado no mais recente dos três EP’s da banda, os Serushiô conseguiram animar uma tarde chuvosa com músicas como “Out for Love”, “Boogie Song” e “Bluesman of this Town” com um concerto muito superior ao de Legendary Tigerman, dois dias antes.

No Palco Principal, os Temples começaram bem, mas não demoraram muito tempo até se tornarem aborrecidos. As novas músicas não convenceram completamente e as já lançadas são melhores em estúdio do que ao vivo. Podia ter sido pior, mas devia ter sido melhor.

Os Fuzz, banda composta por Ty Segall, Charlie Moonheart (The Moonhearts, Ty Segall Band) e Chad Ubovich (Meatbodies, Mikal Cronin) apresentaram-se pela primeira vez em Portugal e, como era de esperar, foram um dos pontos altos do festival, se não O ponto alto do festival. Com uma setlist composta por maior parte do álbum de estreia e também com espaço para temas novos, o trio de garage/stoner-rock destruíu por completo o palco Vodafone FM, um pouco à imagem do que os Thee Oh Sees tinham feito o ano passado. E, tal como no ano passado, o público deu tudo, não só cantando cada nota de cada riff, mas também com moshpits e crowdsurfs constantes, chegando ao ponto em que até os membros da banda ficaram surpreendidos. Apesar de ser difícil escolher o melhor momento do concerto, a música “What’s In My Head”, com a audiência toda a cantar, foi sem dúvida um deles.


A fechar o palco principal estiveram os Ratatat. Repetitivos, aborrecidos e muito desinteressantes, destacaram-se mais pelos estranhos vídeos que passavam nos ecrãs e pelos bons efeitos de luz do que pela música. Uma boa altura para recarregar energias (e telemóveis) antes de The Soft Moon.




Texto: Hélder Lemos e Rui Santos
Fotografia: Ana Carvalho dos Santos
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