Cinco Discos, Cinco Críticas #13

| Março 2, 2016 2:51 am
Stable As The Earth Stops Spinning // edição de autor // outubro de 2015
8.0/10

Os Then They Flew são um promissor quinteto de post-rock instrumental, localizado em Lisboa, que se estreou a 24 de outubro com o seu primeiro registo Stable as the Earth Stops Spinning. É talvez difícil caracterizar este álbum como um álbum de ‘post-rock puro’, uma vez que este está recheado de ritmos lentos e melodias delicadas, reminiscentes de ambient rock, que contrastam fortemente com trechos pesados e intensos, onde as três guitarras criam um ambiente musical denso. Aqui as músicas não seguem uma estrutura tradicional, vão sim evoluindo como se contassem histórias de viagens repletas de ricos cenários e momentos dramáticos, deixando o resto à imaginação do ouvinte. Tudo isto pode ser sentido e ouvido em Stable As The Earth Stops Spinning, disco que pode ser descarregado gratuitamente do bandcamp oficial. De destacar as músicas “Rooftop” e “Owls” como um bom ponto de partida à audição deste primeiro registo.

Martinho Mota



New View // Frenchkiss Records //Janeiro de 2016
6.0/10
New View é o novo álbum de Eleanor Friedberger, cantautora
americana que fez parte do duo The Fiery Furnaces. A sonoridade do álbum é a
mesma do seu antecessor, um indie pop agradável, mas pouco original.
Infelizmente, não há tantas canções a destacar como em Personal Record. Nenhuma
das músicas consegue estar ao nível de, por exemplo, “Stare At the Sun” e “I Am
the Past”. “He Didn’t Mention His Mother”, “Cathy With the Curly Hair” e “Two
Versions of Tomorrow” são os principais pontos positivos de um conjunto de canções
repetitivo e, no geral, nada memorável. Não é um mau álbum, a voz de Eleanor Friedberger é
tão agradável como sempre e não há nenhuma música que dê vontade de passar à
frente, mas muitas delas não são realmente boas. Faltam melhores melodias e mais inovação. New View é um disco que pode agradar aos
fãs de indie pop simples e genérico, mas se já não gostam de Eleanor
Friedberger
, não é com este álbum que vão passar a gostar.
Rui Santos




WALL EP // Wharf Cat Records // janeiro de 2016
8.3/10


WALL é uma banda de Nova Iorque, que transporta
qualquer um dos seus ouvintes de volta aos anos 70/80, devido ao seu post-punk
bastante característico desta época. 
Estrearam-se no passado mês de janeiro com o EP homónimo
que, apesar da sonoridade “antiga”, aborda temas modernos como podemos perceber
em “Fit The Part” em que Sam York canta sobre os vários papeis que temos de
desempenhar na vida quotidiana, as várias “caras” que uma pessoa tem de usar
para se integrar na sociedade “How many faces worn in one day?”, “My
blood’s the same I know it is just the exterior changes
” e “Looking in
the mirror to the face of a stranger, know the heart but not the face

ou, por exemplo, em “Cuban Cigars” que critica a imunidade perante a lei dos
mais poderosos e ricos “These guys, they think they’re the modern(…)
They think they’re safe
from the law cause they think they are the modern(…)these guys, they’ve got the
money”. 
Todas as músicas deste
EP podem caracterizar-se pela sua rapidez e curta duração, características comuns
ao movimento punk com a diferença de os seus instrumentais serem bastante
harmoniosos. Não é difícil de comparar vocais de “Cuban Cigars”, apesar de mais
agressivos, a certas passagens de “Whip It”, a famosa música dos
Devo. WALL são
uma banda a seguir atentamente pois, com este EP, conseguem mostrar a
capacidade de resgatar uma sonoridade quase esquecida e introduzir-lhe
elementos modernos. 

Francisco Lobo de Ávila




Too Much Flu Will Kill You // Adega Records // Fevereiro de 2016
7.5/10

Os Miami Flu são o mais recente embrião musical a ser parido pelo eixo São João da Madeira / Oliveira de Azeméis / Santa Maria da Feira/ Vale de Cambra. Bandas como os Al-Fujayrah e os Lululemon cruzam influências, instrumentação e ideia em Miami Flu, o biproduto de uma infância passada nos anos 90 a jogar jogos de vídeo, amadurecida à custa do consumo de doses copiosas de música psicadélica. A estética sonora lo-fi dos Miami Flu é acompanhada por uma capa de cd retro, inspirado nos jogos de vídeo dos anos 80-90, quando o 8-bit era rei, os telemóveis eram muito maiores e mais caros e quando a cocaína era a droga de eleição. Tudo isto evidencia muitas horas passadas a ver Miami Vice, muito polegares gastos a jogar Mega Drive. e muitas horas passadas a ouvir Brian Jonestown Massacre, os primeiros dos Pink Floyd e a fase mais psicadélica dos Beatles. Este não é um disco subtil no que toca a homenagear as suas referências. Aliás, a atmosfera tropical, quente e febril de uma Miami dos anos 80 na qual o colectivo nos quer envolver pode parecer-nos algo “forçada”, demasiado exagerada na estética e na forma para nos soar a algo de natural, verosímil. Mas o mais interessante é precisamente a espontaneidade deste projeto e o pouco pensamento que foi dado a procurar justificar a arte, tempo esse que foi gasto em PRODUZI-LA. Qual é o sentido em juntar anos 80, Miami, jogos de vídeo e música psicadélica? Qual é a grande explicação que sustenta e une todos estes conceitos num bolo coeso em vez de ser simplesmente um monte de referências nostálgicas, acordes orelhudos e letras juvenis? Mas mais importante, será que é mesmo necessária uma densa base de sustentação teórica, quando a música soa assim TÃO BEM? Nestes tempos conturbados da pós-internet comunista onde toda a informação e ferramentas digitais que a humanidade alguma vez produziu estão facilmente acessíveis aos seus utilizadores, é possível para um jovem nascido nos anos 90 fazer um disco que não só se inspira nos anos 80, mas que, de certa forma, VIVE nos anos 80. Não os anos 80 que viram a queda do muro de Berlim ou o Carlos Lopes a ganhar o ouro em LA enquanto os russos estavam a esburacar o Afeganistão, mas uma versão alternativa dos anos 80. Uma espécie de anos 80 2.0, quentes, febris e ainda mais psicadélicos, nascidos no contexto da pós-internet. O mundo precisa de mais gajos como os Miami Flu: gajos que fazem música simplesmente porque esta soa bem.

Continuem que eu quero ouvir mais. 

Eduardo Silva


A Coliseum Complex Museum // Jagjaguwar // Janeiro de 2016
7.3/10



Os canadianos The Besnard Lakes vêm de Montreal e chegam a 2016 com o seu quinto álbum de estúdio, A Coliseum Complex Museum. Começaram em 2003 pelas mãos do casal Jace Lasek e Olga Goreas, mantendo sempre uma sonoridade que vagueia entre o etéreo e a psicadelia, muito característica de géneros como o shoegaze e dreampop. Neste novo trabalho, juntaram-se ao alinhamento da banda um novo teclista e um novo guitarrista, mas a sonoridade da banda, rica em crescendos e texturas, permanece. O álbum tem como temática as obsessões pelo paranormal e artes negras, sendo povoada por criaturas mitológicas (“Bray Road Beast”, “Golden Lion”), ao mesmo tempo que se encanta com a beleza dos fenómenos naturais (“The Plain Moon”, “Nightingale”). As canções que se mais destacam neste disco são “Pressure Of Our Plans” e “The Plain Moon”, pela sua objetividade e distorção. A Coliseum Complex Museum é um álbum facilmente audível, mas que não ficará por muito tempo na memória. Produzido e gravado pela banda, apresenta uma sonoridade instalada na sua zona de conforto. Em edições futuras, seria bom que um colaborador externo levasse banda a outros terrenos. Em suma, a banda cumpre e a boa produção salva o álbum de ser genérico, no entanto fica aquém de The Besnard Lakes Are the Dark Horse (2007) e The Besnard Lakes Are the Roaring Night (2010).



Rui Gameiro
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