Reportagem: Herra Makikuisma + Filho da Mãe [Festival FUMO – Setúbal]

Reportagem: Herra Makikuisma + Filho da Mãe [Festival FUMO – Setúbal]

| Abril 12, 2016 7:01 pm

Reportagem: Herra Makikuisma + Filho da Mãe [Festival FUMO – Setúbal]

| Abril 12, 2016 7:01 pm
Cheguei à cidade ainda caía a tarde, com muito tempo pela
frente fomos até à Casa da Cultura beber uns finos para aquecer antes dos
concertos que iriam acontecer na Casa da Avenida em Setúbal.

A baixa da cidade já começava a ficar vazia, a bonita baixa
de Setúbal perde o seu encanto neste momento, quando fica abandonada e poucas
pessoas começam a circular por ela.
Fomos até ao local do concerto e ainda tive tempo de
estar à conversa com o promotor do ciclo de concertos FUMO e dirigente da
Experimentáculo, Pedro Soares, que vai tocando à campainha da Casa da Avenida
procurando adiantar algum trabalho.

As expectativas estavam em cima, na noite em que Filho da Mãe
regressava a Setúbal. Poder-se-ia dizer que esta afirmação é normal mas,
estando numa cidade como Setúbal é difícil atrair público e isso faz-se notar
pela concentração de pessoas à entrada do recinto. 
Entrámos e ainda ajudámos a preencher uns bilhetes para
vender, começavam-se a ouvir mais vozes, mais pessoas a bater à porta e a ver
se a bilheteira abria.

Após a “ajudinha” a preencher bilhetes, subi até ao bar
para beber mais um “copinho”. 
O bar da Casa da Avenida é um bar/cozinha/tudo menos bar, é
acolhedor como todo o edifício, é a nossa própria casa e isso é que leva também
as pessoas a irem a concertos do ciclo da
FUMO.

Começavam a chegar as primeiras pessoas à sala batiam
as 21 e poucos, quase a hora do primeiro concerto, Herra Makikuisma, com quem
tive oportunidade de falar um pouco e saber a sua experiência em Portugal. Soube que era a sua terceira vez no nosso país e que adorava o público. Segundo ele, somos dos melhores
públicos pois conseguimos manter-nos atentos durante o concerto e
por sermos “very talkative”. De resto, Herra diz-nos que Portugal é muito bom ou
nas palavras do próprio: “Good country, different from Finland, very warm I
like it a lot”.

O seu concerto começou pouco passava das 22 horas, algumas pessoas
ainda na varanda da Casa a conversar, a fumar o seu cigarro, outra sempre mais
atentas, na sala de concerto a ver actuar o finlandês que nos trouxe uma mala
cheia de experiência. 
Assim que comecei a ouvir, lembrei-me de nomes como Bonnie ‘Prince’ Billy, Bill Callahan, e deixei-me levar.
A cada música que passava e soavam as palmas, o finlandês
sempre muito humilde, retirava o seu chapéu em sinal de agradecimento. 
Foi um bom aquecimento para Filho da Mãe, nome pelo qual
toda a gente esperava. 
Chega muito descontraído e senta-se, o concerto começa e, desta vez, estou no centro da sala. Queria estar mesmo a sentir o concerto. Não falhou.

Assim que o concerto se inicia, começa-se a ver o público reunido na Casa
da Avenida, a fechar os olhos e a abanar a cabeça, a sentir o concerto. Filho
da Mãe
começa então a dar uma lição de música a todos. F
iquei sempre de olhos fechados e cada vez que acabava uma
música era sempre inesperado. 
Sem fôlego. O público aplaudia.
Rui Carvalho ou Filho da Mãe é um entertainer para além das
várias qualidades que tem e isso fez-se notar durante todo o concerto. Logo na
terceira música apresenta-nos uma faixa do seu primeiro álbum e diz-nos: “Não
sei se me lembro mas vou tocar com uma outra textura. Ah! Calma, a música
chama-se Sobretudo e não Textura!”, pelo que o público consegue soltar umas
gargalhadas. 
Nessa mesma faixa, o artista apercebeu-se que estava a ser fotografado, pelo que diz: “Não, não! Vou continuar a olhar para ti até parares,
malta como eu não fica bem em fotos pá”. 
E de novo ouvem-se alguns risos.

O concerto estava a correr mesmo bem, existia harmonia entre
o artista e o seu público. Filho da Mãe conseguiu dominar do início ao fim com as suas
guitarradas fortes, o dedilhar fervoroso. 
Apercebemo-nos de que o concerto estava a chegar ao fim quando numa das
paragens,
Filho da Mãe começa a fazer um pouco de propaganda, claro que com
motivos para o fazer, nunca deixando de dedilhar ouve-se: 
“Então trouxe uns cds para vender, estão aí, comprem que eu
tenho esta guitarra e já está assim velha, dizem que sou bom nisto e preciso
duma guitarra nova”.

Ouvem-se aplausos e risos e prossegue mais uma vez o
concerto. A última música chegava e para
Filho da Mãe, poderia chamar-se “Vamos
Dormir, já está na hora, muito obrigado da minha parte, obrigado por terem
estado aqui”. 
Mas não, acaba o concerto com uma chapada musical, guitarra
forte, a levar o público a suspirar no final e a aplaudir.

O concerto podia ter terminado aqui. Ouviam-se os suspiros fortes, pessoas sem fôlego. Tudo menos isso, regressa então ao “palco” e presenteia-nos
com mais uma música do seu primeiro álbum. 
Após isso sim, acabou. Foi bonita a festa pá, ficámos todos contentes, viam-se os
rostos estupefactos e extasiados, ouviam-se: “Que sova, foi brutal, muito
diferente do que esperava”.

Setúbal tem disto, leva o “poucos mas bons” a sério. Falta
na cidade um espaço para mais concertos, que valorize a música de locais que
estiveram presentes e com quem falámos como por exemplo Tio Rex. Faz falta a
Setúbal algo mais sem ser as costumeiras discotecas comerciais que enchem
durante o fim-de-semana, faz falta dignificar a música rock, um espaço para o
rock em Setúbal.

A Casa da Avenida tem sido excelente, apresentando-nos 
Trips
e agora Filho da Mãe que no mesmo espaço não desiludiu. Mas e se quisermos ver
uma banda de estilo diferente? Decerto que não punham bandas rock a tocar num
espaço como a Casa da Avenida.

É preciso atrair e agarrar público na zona de Setúbal, não
dar a impressão que temos de ir a Lisboa para ter um bom concerto, temos
condições é tempo de acordar a cidade adormecida. 
Concluindo, foi mais uma noite de FUMO, que hajam mais e
sempre assim, a subir na consideração de todos.
  Fotografia: João Santos
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