And Also The Trees
Born Into The Waves

| Abril 9, 2016 1:39 pm
Born Into The Waves // AATT // março de 2016
9.0/10

Os And Also The Trees formaram-se em 1979 na vila Inkberrow em Worcestershire, em Inglaterra por dois pares de irmãos – os atuais vocalista, Simon Huw Jones, e guitarrista, Justin JonesGraham Havas (ex baixista) e Nick Havas (ex baterista). Com um início de carreira marcado pela amizade da banda com os The Cure, em 1981 os And Also The Trees estavam a abrir palco para os concertos da banda de Robert Smith no Reino Unido e o primeiro disco de estúdio, o homónimo And Also The Trees (1983), viria a ser produzido por Laurence TolhurstCuriosamente, a relação com os The Cure não foi episódica. 

Muito aclamados pelas letras poéticas e música evocativa, fortemente influenciadas pelo seu país nativo, os And Also The Trees construíram uma discografia notável em 36 anos de carreira e regressam agora às edições com Born Into The Waves, o décimo quarto disco de estúdio, que vem três anos depois de Hunter Not The Hunted (2012) e trinta e três depois do homónimo. Para trás ficaram grandes marcos na cena do post-punk como o clássico Virus Meadow (1986), Farewell To The Shade (1989) e (Listen for) The Rag and Bone Man (2007).

A presente crítica não se estenderá a comparações no tempo dado que as ideias e os pensamentos de então certamente se encontram bastante diferentes aos de hoje em dia. A compreensão que se tem do mundo e as identidades sofreram alterações com a globalização, sentida nas últimas décadas, e obviamente isso influencia e repercute-se no trabalho de um artista. Para 2016 Born Into The Waves chega com um selo de qualidade semelhante aos dos trabalhos anteriores, face à data de edição, e com uma musicalidade que é apetecida, por se mostrar distinta no seu espírito neo-romântico.

Sem grandes apresentações Born Into The Waves foi anunciado através de um pequeno teaser com “Your Guess” como pano de fundo, música  já apresentada o ano passado, em versão ao vivo, no dia de encerramento do Entremuralhas. É também um dos singles do álbum mais semelhante à linha sonora base dos seus já editados discos. O desenvolvimento lento, com a guitarra dedilhada característica, faz viajar até aos recônditos dos anos 80 e lembrar que ainda há poetas na atualidade que apetrecham o seu trabalho na música.




Simon Jones tem uma voz incrível para a música que os And Also The Trees têm apresentado e isso, explorado afincadamente outrora, abre agora espaço para experimentações no campo instrumental. Embora caso único no disco, “Naito-Shinjuku” é uma belíssima composição que explora toda uma gama de sensações através da sonoridade conjugada entre baixo, guitarra e teclados e se vê imune de voz. Já “The Bells Of St Christopher’s” explora um certo ambiente eletrónico instrumental, mas sem dispensar o som vocal. Outro single que se apresenta marcante à primeira audição é “Winter Sea”, um colosso instrumental maravilhoso. Há uma exploração e implementação de diversos samples musicais, a guitarra apaixonada e a voz de um homem abandonado aos seus pensamentos num mar de Inverno. Uma música certamente maravilhosa para se ouvir em formato orquestra.


Born Into The Waves é um álbum saudoso. O seu desenvolvimento traz uma melancolia inerte que não escapa ao ouvinte. Mas é uma saudade feliz e que traz uma certa esperança aos amantes da música que se fazia ouvir nas rádios há umas três décadas atrás. Há uma maturidade indiscutível no volver de cada canção e um disco que tem a capacidade de influenciar as próximas bandas na cena do art-rock e as revivalistas do post-punk e subgéneros. Acima de tudo é memorável o facto de, com uma carreira já tão expansiva, os And Also The Trees  ainda produzirem um disco com uma qualidade tamanha como a de Born Into The Waves. Bastante apropriado para os fãs de Nick Cave e Scott Walker.

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