Marissa Nadler
Strangers

| Maio 15, 2016 10:30 pm
Strangers // Sacred Bones Records/Bella Union // maio de 2016
8.0/10

Quando comecei a ouvir a Marissa Nadler, pelas primeiras vezes, fiz uma comparação inevitável do seu trabalho ao da Lana Del Rey, mal sabia eu que a Marissa já não era uma adolescente na cena musical. Claro que não comecei pelos primeiros discos; como parte de uma sociedade que deseja tudo de forma rápida, não consegui começar pelas primeiras coisas, queria era ouvir o que estava na calha – que na altura era o July (2014). E fiz essa comparação automática pela voz melancólica das duas e pela atmosfera obscura envolta nas suas composições. A diferença é que a Marissa Nadler já vem de mãos dadas com os ideais góticos e induz a sua veia folk à composição resultante. Foi então que descobri que a singer-songwriter americana lança discos no mercado musical desde 2004 e que tem coisas bem mais interessantes a explorar. 

Tendo-se graduado em pintura e mestrado em ilustração, o primeiro disco não oficial de Marissa Nadler foi gravado em 2002 sob o nome de Autumn Rose. Para além deste disco, houve outros materiais que nunca foram editados. A Eclipse Records foi a primeira editora a lançar os trabalhos de Nadler através dos primeiros discos Ballads of Living and Dying (2004) e The Saga of Mayflower May (2005). Entre 2005 e 2012 Marissa editou mais seis álbuns de forma independente e outros três em formato oficial. Dois anos depois de July (2014), disco que assinala o primeiro lançamento pelos selos Bella Union e Sacred Bones Records, Marissa Nadler regressa agora com Strangers, sétimo disco de estúdio. Produzido por Randal Dunn (Sun O))), Earth, Black Mountain), este novo trabalho de estúdio apresenta uma sonoridade mais resistente face à apresentada anteriormente.


Depois de um trabalho de pesquisa mais abrangente, na quantidade tamanha de música que a Marissa Nadler tem posto cá para fora, e de ter percebido que a compositora americana apresenta uma característica muito própria no dedilhar da guitarra, descobri igualmente que o hype sentido sob o July já vem de coisas anteriores, nomeadamente do belíssimo, e já referido, The Saga of Mayflower May. O resultado, é encontrado logo no primeiro single que serviu de antecipação a este sétimo trabalho, “Janie In Love”, uma das melhores, senão a melhor malha, deste disco. Profundo, com uma produção arrojada e a aproximar-se mais das bases à la Chelsea Wolfe.






Quanto a Strangers é um álbum que se foca na guitarra clássica, usando como acessórios sintetizadores, violinos, o piano e como projeção fundamental a voz de Marissa. “Divers of the Dust” mostra esta influência do estilo gótico no seu resultado, através de uma lírica existencialista: “How did we end up here and how did we meet?“. “Katie I Know”, mais um avanço deste novo trabalho, denota mais uma vez a produção afincada e, apesar de manter os seus vocais sonhadores e inconfundíveis, há já uma distanciação que se nota face ao produzido anteriormente, e ao trabalhado agora. Além da bela “All The Colors Of The Dark”, outra música a merecer destaque é “Hungry Is The Ghost”, há uma aposta nos sons sintetizados e uma atmosfera com um quê de Youth Lagoon em Wondrous Bughouse.


Marissa Nadler amadureceu, e com esse crescimento interpessoal também o seu trabalho artístico tem acompanhado algumas mudanças – o que é bom – dado que estas são notadas de forma positiva e mostram uma não estagnação como artista musical. Strangers é um álbum muito bonito e cheio de uma grandiosidade sonora na sua aura: um álbum a guardar na lista dos melhores do ano.

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