Os discos que podem ter perdido no primeiro semestre do ano #1

| Julho 21, 2016 2:25 am
Todos os anos há álbuns que andam nas “bocas” de toda a gente, mas há sempre aqueles discos a quem a imprensa não dá grande destaque e por isso chegam ao alcance de muito poucos. Deste modo, os redatores da Threshold Magazine selecionaram alguns desses álbuns esquecidos de 2016 e deixam-nos abaixo, juntamente com a justificação para os ouvirem.


Sunflower Bean – Human Ceremony





Dizer que o garage rock sofreu uma explosão nesta viragem de século não é dizer nada de novo. Dizer que bandas como Black Lips, Thee Oh Sees relembraram o mundo da existência deste entusiasmante género. Entra em cena Sunflower Bean.

Quando ouvimos o álbum Human Ceremony é impossível não reparar na forma peculiar como estes jovens escolheram as suas influências. Desde clássicos como Black Sabbath e Velvet Underground, passando por Sonic Youth e Spacemen 3, até chegarmos à actualidade e citarmos trabalhos mais recentes como DIIV ou Ty Segall. Resumidamente, se lhes fosse entregue um exame sobre cultura musical feito pelos hipsters mais ranhosos deste planeta eles facilmente conseguiam um 20. Posto isto, o processo de criação musical deste trio passa por abrir o seu livro de referências e escolher onde melhor encaixa aquele riff dos Black Sabbath ou onde colocar as paisagens mais sonhadoras retiradas dos Spiritualized.

Igualmente louvável é a ecleticidade das faixas. “Come on” é uma tormenta em forma de garage rock que obriga qualquer individuo a saltar da sua cadeira em euforia, “Wall Watcher” a banda seguiu todas as instruções para criar um êxito Psych-Pop e na faixa “Easier Said” podemos ouvir uns lindíssimos arpégios que criam o ambiente Dream-Pop perfeito.

No fundo, o que temos em mãos é um álbum de estreia bastante positivo de uma banda que apesar de ainda ter muito para melhorar (e crescer) já apresenta algum material bastante interessante e de qualidade.



Hugo Geada

>>>> ouvir aqui >>>>


Pantha Du Prince –The Triad


Este álbum podia vir na capa com o aviso “Na próxima hora vão experienciar a melhor banda sonora para meditação que alguma vez irão ouvir”. Isto tudo porque o álbum lançado em Maio por Pantha du Prince, Triad traz-nos sons hipnóticos que nos fazem rapidamente transcender e ficar a flutuar num vazio, num vazio colorido.

Começamos a nossa meditação com “The Winter Hymn” uma faixa tão leve como uma pena, com coros simples. Simples é o que descreve esta faixa, e todo este álbum que muitos irão agora ouvir com atenção, não fosse o artista um grande apreciador de musica minimal, sem muitas tretas e muito experimental.

Este álbum faz-nos duvidar das nossas capacidades auditivas, muitas vezes, dei por mim a pensar se não estaria Pantha du Prince a orquestrar uma banda, mas não, tudo feito através das sua caixa mágica, do seu computador. Uma valente sova auditiva oferecida a partir da segunda faixa, “You What? Euphoria!” que nos aquece e nos põe a mexer com o som do tilintar de inúmeros objectos.

Neste álbum é possível ouvir muito bem explorados os sons da natureza, como sons de pássaros, do ventos nas ramificações das árvores e também reparar em alguns traços de krautrock mas mais electrónico, com o exemplo da faixa “In an Open Space” que acaba por ser a faixa melhor obtida no álbum talvez por ter algumas parecenças a NEU! ou artistas dentro da música electrónica como Four Tet ou mesmo Jamie XX.

Porque é que foi um álbum pouco falado? Não sei. Mas a partir de hoje espero que entre na vossa tabela de álbuns do ano, como entrou na minha.



Duarte Fortuna

A Dead Forest Index – In All That Drifts from Summit Down


In All That Drifts From Summit Down marca a estreia da banda neo zelandesa, A Dead Forest Index, nos discos longa duração. O duo, atualmente formado pelos irmãos Adam Sherry (voz e guitarra) e Sam Sherry (teclas e bateria), começou como o projeto a solo de Adam Sherry por volta de 2008. Em 2010 tornou-se um projeto colaborativo entre irmãos com Sam Sherry a assegurar a percussão. Entre 2012 e 2014 a banda lançou dois EP’s – Antique e Cast Of Lines – sendo o último produzido por Jehnny Beth das Savages e lançado pelo selo Pop Noire

Agora a jogar pela Sargent House os A Dead Forest Index trazem música que não foge às sonoridades exploradas nos primeiros EP’s. A voz é o ponto forte da dupla, uma vez que Adam Sherry tem uma voz cheia de tonalidades agudas. In All That Drifts From Summit Down é um álbum carregado de sentimentos variados desde a nostalgia e solidão à paz de espírito. A abrir, “Tide Walks”, uma excelente escolha de início visto ser difícil não se ficar com vontade de ouvir mais, após o seu desenvolvimento e finalização. 

Composto por 13 músicas, o disco de estreia dos neo-zelandenses A Dead Forest Index é um disco muito bem conseguido pela excelente exploração vocal sobre guitarra e percussão. Há uma coesão sonora que constrói em In All That Drifts From Summit Down, um disco que conta uma história da primeira canção à última. Em destaque ficam essencialmente “Summit Down”, “In Greyness the Water” e “Myth Retraced”.

Sónia Felizardo

LNZNDRF – LNZNDRF


Os Lanzendorf são um trio composto pelos irmãos Devendorf (o Bryan e o Scott que são, actualmente e respectivamente, o baixo e a bateria dos National) e pelo Ben Lanz, um músico que já passou pelos Beirut, pela banda do Sufjan Stevens e também pelos National, isto para enunciar alguns nomes. 

Este trio iniciou actividade no ano 2011, e surgiu para preencher uma necessidade que despontou na véspera de um concerto dos National: a ausência de uma banda para abrir a noite. Dos poucos concertos que os Lanzendorf (Lanz + (Dev)endorf, perceberam?) tocaram na sua fase mais embrionária, eles não tinham uma setlist para cumprir. O trio preferia entregar a sua entidade corpórea à manifestação instrumental pelos meandros do space e do kraut, qual acto de pura derivação. “There’s not much intention there…It just ends up becoming whatever it is.” dixit Bryan Devendorf em entrevista à Stereogum

Desde o início, um projeto interessante. Mas eis que em 2016, esse mesmo trio edita um disco. Um disco que não é propriamente coeso e que tampouco procura percorrer novos trilhos em termos de sonoridade. Este LP homónimo é, à imagem da anterior expressão sonora dos LNZNDRF, um convite à dispersão de pensamento. Motorik meets space: a fórmula do costume, mas agora em formato disco.

De alguma forma, este disco é um contra-senso ao manifesto de experimentalismo instantâneo, não programado e irrepetível dos LNZNDRF. Mas a “redução” da fórmula tem um objetivo claro: a difusão da mesma. Posto isto e não havendo registos prévios sonoros dos LNZNDRF (ou pelo menos nenhum que eu encontrasse), a “redução” da fórmula é a única crítica que eu aposto a este disco, com a clara noção de que era impossível traduzir essa faceta experimental adequadamente na faixa temporal de um LP. 

Essa faceta está, naturalmente, reservada para as suas actuações em tempo real. Prevejo um bom futuro para os LNZNDRF. Se estiver enganado, quanto mais não seja, há aqui kraut e space rock do bom para ouvir, no presente.



Edu Silva

Jessy Lanza – Oh No





Jessy Lanza é um dos nomes em ascensão da nova música electrónica e lançou este ano o seu segundo disco pela conceituada Hyperdub, editora de nomes como Burial e Dean Blunt. Depois de um bom primeiro disco com Pull My Hair Back em 2013, que contou com a produção de Jeremy Greenspan dos Junior Boys, a artista canadiana regressou com toda a força com Oh No, um disco que demonstra uma maior maturidade em relação ao seu antecessor e uma produção mais aperfeiçoada e de sonoridade bastante pop e influenciada pelos mais diversos estilos como a R&B e o footwork. 

A sua sonoridade é pop, mas a sua música não é propriamente direta e acessível, com músicas que variam desde os ritmos mais downtempo e sensuais de “I Talk BB” até à pop orelhuda e jovial de “VV Violence”, mas o claro destaque vai para “It Means I Love You”, aquela que é, na minha opinião, uma das melhores faixas do ano, com um beat muito ao estilo do footwork de Chicago e um dos refrões mais memoráveis do disco.

Oh No é um dos álbuns mais interessantes editados este ano, rico em ritmos quentes e sensuais que poderão servir como banda sonora ideal para este verão acabado de começar, e se ainda não ouviram “It Means I Love You”, recomendo que o façam o mais rápido possível.



Filipe Costa

Deakin – Sleep Cycle




Josh Dibb, mais conhecido por Deakin, é membro dos Animal Collective. Não contribuiu para o mais recente álbum da banda, Painting With, mas, no entanto, rumou noutra direcção e lançou o seu primeiro álbum a solo, Sleep Cycle. Gravado entre 2009 e 2015, este disco apresenta aproximadamente meia hora de música de qualidade, não muito diferente daquela a que o artista nos habituou com a sua banda.

Tudo começa com “Golden Chords”, uma canção simples onde não há muito mais que uma guitarra acústica e voz. Não é uma das faixas mais interessantes do álbum, mas a música seguinte, “Just Am”, é muito mais interessante e complexa, com várias camadas de sons e uma abordagem mais electrónica. Esta é um dos dois principais destaques de Sleep Cycle. O outro é “Footy”, uma viagem psicadélica onde diferentes instrumentos se misturam de maneira frenética. “Shadow Mine” e “Seed Song” são bons interlúdios ambiente e “Good House” é um relaxante e atmosférico final de álbum.

De uma maneira ou outra, tudo se aproveita neste disco, que qualquer fã de Animal Collective e/ou música psicadélica deve ouvir.



FacebookTwitter