Reportagem: Karma To Burn + Sun Mammuth [Cave 45 – Porto]

Reportagem: Karma To Burn + Sun Mammuth [Cave 45 – Porto]

| Julho 7, 2016 1:31 am

Reportagem: Karma To Burn + Sun Mammuth [Cave 45 – Porto]

| Julho 7, 2016 1:31 am
Na noite de 3 de julho de 2016 a Cave 45 decidiu prendar os seus visitantes com um serão dedicado a todos os apreciadores de stoner metal. 

Depois de ter sido o pior co-piloto da zona de Aveiro e ter feito o meu condutor perder-se pelo menos três vezes antes de chegarmos ao Porto e de ter tornado uma viagem que podia ter sido feita em quarenta minutos em pelo menos meia hora mais longa, foi um alívio quando entrei na Cave e dei de caras com uns amplificadores gigantes já montados e com os instrumentos espalhados em cima do palco.

O espaço não se encontrava com um grande número de pessoas, o completo oposto de uma lata de sardinhas, mas os indivíduos que estavam apresentavam boa disposição e vontade de ouvir musica. É isto que a Cave 45 oferece às pessoas.

Após um pequeno atraso (“Eles atrasaram-se a jantar”, explicava o senhor que nos entregava os bilhetes) os Sun Mammuth foram os primeiros a subir ao palco. António Magalhães (baixista), João Ferreira (baterista), Nuno Henriques (guitarrista solo) e Mário Fonseca (guitarrista ritmo) são quatro músicos de Lousada que prometem ter um grande futuro na cena stoner portuguesa.

Estes jovens que fazem parte da editora Pointlist, destacam-se do restante arsenal da editora pelo peso dos seus instrumentais e foram sem dúvida uma das surpresas da noite. Apesar de ainda não terem nada do seu trabalho disponível no spotify podem sempre dirigir-se à página de facebook deles ou ao seu bandcamp e comprovarem como é ficar agradável ao som deste quarteto português. Com uma postura humilde e simples (não tão simples como a pedaleira que apresentavam aos seus pés) estes subiram ao palco e deram início à festa.

Apesar de terem “Sun” no nome o astro que melhor os descreve é o planeta Vénus. A música deles apresenta uma aura mística e cósmica nas partes mais calmas. O público questiona-se sobre o que está a ouvir mas quer ainda mais. Mas claro que, como Vénus, a banda não é feita só de paisagens psicadélicas para serem apreciadas de olhos fechados pois quando menos esperamos e são ligadas as distorções, vulcões entram em erupção e sismos são sentidos no Japão.

Depois de uma atuação que não durou mais de uma hora, onde a banda apresentou o seu LP de estreia, Cosmo, estes despediram-se e agradeceram ao público, saindo de palco (depois de arrumarem os seus instrumentos). Missão bem sucedida. Grandes feitos esperam estes Mamutes de Lousada.

A Cave da casa já estava mais composta quando os Karma to Burn ainda montavam o seu estaminé. Era com água na boca e com um fino na mão que aguardava por um concerto que prometia ter tudo para ser memorável.

Karma to Burn é uma banda de Morgantown que fica em West Virginia, sendo das mais influentes da cena instrumental do Stoner Metal. Eles contam com William Mecum como único membro de origem da banda e como seu líder. Após acabar de afinar a última corda desafinada da sua guitarra, mandou uma cabeçada numa coluna que estava afixada no tecto, e saiu do palco para ir pedir um fino. Esta postura despreocupada e descontraída verificou-se durante todo o concerto. Sem grandes aparatos, merdas ou pedaleiras gigantes, tive oportunidade de assistir a uma hora e meia de um recital de música pesada.

Robert Mechum é um gigante no palco. Sem os maneirismos típicos de um exibicionista vocalista mas com uma inabalável confiança, todos os olhos estavam postos na sua guitarra. A primeira música que a banda tocou foi “Eight” e foi acompanhado por um headbang geral. O trio não precisou de pedir permissão a ninguém para meter a casa abaixo. Durante todo o concerto este dominou as hostes. Com um estilo simples e pratico, contudo efectivo, Robert Mechum certamente não deixou ninguém decepcionado.

Durante o concerto tivemos oportunidade de ouvir grande parte da discografia da banda desde os primeiros três álbuns da banda, homónimo (1997), Wild Wonderful Purgatory (1999) e Almost Heathen (2001) mas também houve tempo para os dois mais recentes trabalhos, Arch Station (2014) e Mountain Czar (2016).

A secção rítmica da banda, apesar de não ser tão extrovertida como o guitarrista, compensava com a mestria de como dominavam os seus instrumentos. A sincronização era uma beleza de ser apreciada. É sempre bom assistir a concertos onde os músicos que estão em cima do palco dominam a sua arte.

Após acabarem de beber as suas Super Bock e as bebidas brancas oferecidas por um dedicado fã a banda decidiu retirar-se de palco, contudo perante uma plateia efusiva de fãs que aclamavam por mais estes acabaram por ceder e tocaram ainda mais uma música para os fãs. Tanto os fãs como os músicos acabaram por ficar satisfeitos com este encore.
Após o concerto tive oportunidade de agradecer à banda de West Virginia (de uma forma um pouco atabalhoada dado o facto de ainda estar a processar o concerto que tinha acabado de ouvir) pelo enorme concerto e elogiar a sua performance. De forma rápida mas sentida este apertou-me a mão. Atitude de um músico de verdade.

Texto: Hugo Geada
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