Reportagem: SonicBlast Moledo – Receção ao campista & Dia 1

Reportagem: SonicBlast Moledo – Receção ao campista & Dia 1

| Agosto 17, 2016 10:34 pm

Reportagem: SonicBlast Moledo – Receção ao campista & Dia 1

| Agosto 17, 2016 10:34 pm

Nunca fui a Moledo nem ao SonicBlast. Nunca tinha tido essa oportunidade, por isso este ano quando finalmente descobri que ia, as minhas expectativas ficaram bastante altas. Apesar de ser um festival consideravelmente recente a sua reputação e estatuto está mais que definido como um festival de culto. A viagem até Moledo fez-se bem, apesar de um certo Skoda ter andado feito barata tonta à procura do campismo.


Depois de montadas as tendas e de termos feito o ritual festivaleiro de almoçar massa com atum, a primeira paragem era no Paredão 476 onde acabei por ver o concerto de Ana Paris. Tal como indicava a camisola do Welcome to Sky Valley dos Kyuss que o vocalista usava, estes eram grandes adeptos das sonoridades do deserto e presentearam um agradável fim de tarde.

Mais tarde, depois da aventura de ir lavar a loiça do jantar no meio do mar, o destino era diferente, desta vez era em direcção ao Bar Ruivos para a continuação do aquecimento. O público ainda estava bastante composto apesar de o festival não ter começado oficialmente. A primeira banda a subir para cima do palco deduzi que fosse Milhomes, visto que estes não se apresentaram e não era nem o Kevin Pires nem a Joana Brito que estavam em cima do palco. Milhomes é uma banda espanhola que incorpora elementos stoner e sludge na sua música e punk no comportamento, uma vez que o guitarrista parece não conseguir ficar quieto por mais de 5 segundos no mesmo sítio do palco. Uma boa surpresa, o público reagiu positivamente à banda, demonstrado pelo headbang colectivo.

Depois de os espanhóis abandonarem o palco era hora de uma das mais interessantes bandas portuguesas subirem ao palco, os Big Red Panda iam levar a audiência numa das mais incríveis viagens de todo o festival. Um concerto que não só aqueceu a audiência como derreteu a mente de muitos. A sincronização e a perícia destes homens mostram o porquê de serem uma aposta cada vez mais forte da musica underground portuguesa. O ponto alto do concerto foi a música “Miles Davis” do primeiro álbum da banda.

Depois de os pandas vermelhos abandonarem o palco foi a vez de The Black Wizards subirem ao palco. Não vou entrar em muitos pormenores pois, para além de terem atuado no aquecimento, também estiveram a abrir o palco principal no segundo dia. Apesar de terem sido dois concertos diferentes, a banda está de parabéns pois cumpriu a sua tarefa em ambas as datas. A admiração da banda é sentida pela quantidade de pessoas que se juntou à frente do palco (ornamentado com uma caveira humana e umas velas) e pelo moche geral que levou a que muitos conhecessem o conforto do chão.

No final da noite todos saíram satisfeitos do Ruivos e o aquecimento deixou todos os corpos prontos para os dois dias que se seguiam.



Dia 1


O primeiro dia oficial do festival começou com as típicas tarefas de um festivaleiro, a compra de grades de cerveja. O ambiente por todo o Moledo era de uma leve ressaca que era esquecida pelo bom ambiente que se vivia. Reinava a boa disposição. Desta vez os concertos não eram em bares mas sim no recinto e todos os caminhos iam dar ao Pool Stage.

Depois de levantar a credencial e entrar no recinto os Maize já estavam a tocar as últimas notas. Pelo que percebi, a banda gosta de ritmos lentos e os festivaleiros desfrutaram do concerto ora deitados descontraídos na relva ora na piscina combatendo o insuportável.

Asimov

Os Asimov são uma banda do Cacém criada em 2011 composta por Carlos Ferreira e João Arsénio. Estes homens apresentam um instrumental único dominando os seus instrumentos como ninguém na sua maneira bastante pessoal de tocar. O concerto foi acompanhado pelo headbang geral, no entanto a estranheza surgiu no momento em que as primeiras vocais surgiram das colunas. Algo não parecia correto e fica a ideia de que o duo funcionava melhor se fosse inteiramente instrumental.

Possessor



Os Possessor são um trio inglês que apresentou um dos melhores concertos do palco piscina mas também pareceu ser uma das mais entusiasmadas por tocar neste festival. A sua música era uma mistura de trash metal com stoner rock e quem diria que combinava tão bem? Para quem estava à frente do palco conseguia sentir o poder do baixo e o trabalho que este tinha na sua interpretação. A bateria também merece destaque pela sua potência e foi sem dúvida um dos destaques da banda.






Os ingleses que vinham apresentar o seu novo álbum Dead by Dawn deram um espetáculo memorável e na última música o carismático guitarrista, que durante o concerto andou a fazer solos por todo o lado, incluindo no chão, decidiu chamar para palco um membro da audiência para tocar o resto da música enquanto este saía gloriosamente do palco. Não havia melhor maneira de acabar o concerto.



Correia

Correia pode não ter sido dos concertos mais memoráveis mas foi certamente dos mais intensos. A banda dos irmãos Mike Ghost (Men Eater, More Than A Thousand) e Poli (Devil In Me, Sam Alone) ficou marcado pelo pesado blues, pelas baladas com piano e pelo discurso de agradecimento aos bombeiros que tem combatido as chamas que vêm assolando o nosso país. Fica na memória a musica “Stepfather”, liderada por guitarra e o piano. Uma das prestações mais intensas desta edição do SonicBlast.

Brain Pyramid

Os franceses Brain Pyramid ficaram encarregues de abrir o palco principal com um concerto encharcado em efeitos de guitarra. Nada muito memorável, à excepção da cover da “Summertime Blues” dos Blue Cheer (que por sua vez é uma cover da versão do Eddie Cochran) cantada com uma pronuncia incompreensível.

Acid Mess
Os Acid Mess são uma banda espanhola que não são estranhos aos territórios portugueses, o seu concerto revelou-se uma enorme surpresa, superando todas as expectativas. É certo confirmar que adquiriram imensos fãs novos em Valada. O baixista dos Acid Mess vale meia banda, um dos maiores talentos que podemos encontrar em cima dos palcos de Moledo. O concerto mostrou-se ser muito satisfatório e a cereja em cima do bolo foi mesmo a cover que estes fizeram da “I Want You (She’s So Heavy)”, dos Beatles, do álbum Abbey Road.

Miss Lava

Os Miss Lava foram a primeira banda portuguesa a subir para cima do palco principal. A experiente banda de Lisboa em cima do palco mostra a diferença que faz ao ter já alguns anos em cima das costas. O vocalista Johnny Lee é um furacão à frente da banda estando sempre aos saltos, a berrar ou a fazer uma dança interpretativa que ilustra a música que está a cantar.
O som da banda faz bastantes reminiscências ao trabalho dos Monster Magnet, tanto em níveis instrumentais como líricos. Grande parte da setlist consistiu em músicas do mais recente álbum Sonic Debris, mas também houve espaço para uma das preferidas do publico e aquela que é discutivelmente a faixa mais icónica da banda, “Ride”, que pecou devido ao excessivo volume do microfone da voz secundária.
Um concerto bastante competente e carismático repleto de musicas “catchy, daquela que foi a banda portuguesa que mais maneirismos e confiança apresentou em palco, criando uma imagem algo estranha na minha cabeça que leva a intitular os Miss Lava como os “Xutos e Pontapés do Stoner Português”.

Sacri Monti

A par de Acid Mess, Sacri Monti foi a maior surpresa do festival. Esta superbanda de California composta por membros dos Radio Moscow e dos Joy deu um dos concertos mais únicos a que alguma vez assisti. Nunca antes tinha assistido a um assombro tão grande e geral por parte da audiência. Um autêntico recital de guitarras. 
Era notável a química e a forma como os instrumentos se interligavam. Uma lição musical.
Logo a musica que abriu o concerto, ”Staggered in Lies”, música líder do álbum de estreia da banda, mostrava que a banda não vinha brincar ou desfrutar do campismo de Moledo. A experiência ia, a qualidade apenas se reforçavam a cada música que passava. Houve blues, stoner, psicadélico, secções musicais altamente progressivas e ainda krautrock. Uma verdadeira panóplia musical que resulta para melhor. Um dos melhores concertos do festival.

All Them Witches

Se Sacri Monti foi um dos melhores então seguiu-se aquele que foi o melhor. All Them Witches levou os fãs ao deserto, ao espaço e numa viagem inesquecível.
A setlist baseou-se em grande parte nos álbuns Dying Surfer Meets His Maker e Lightning at the Door e a experiência foi como ouvir o álbum em casa. A fidelidade e a qualidade de execução tornaram a execução do concerto um evento especial. A única crítica que pode ser feita é que a tamanha fidelidade não abria muito o espaço ao improviso, o que pode levar ao pensamento de que nada acrescenta à experiência do que é ouvir este álbum em casa.

Contudo o espirito e a intensidade que a banda usou na execução das canções adicionam um toque sentimental que apenas quem estava na audiência pode sentir. Com bastante humildade e poucos rodeios, All Them Witches deixaram tudo no palco e os fãs agradecem.





Não consigo escolher um elemento de destaque no meio de todo o concerto, mas sem dúvida que as faixas onde o guitarrista utiliza a técnica de dedilhado como a “Call Me Star” e “Open Passageways” foram muito especiais.








Valient Thorr


Valient Thorr tinha a cruel e injusta tarefa de substituir EyeHateGod e Windhand como cabeça de cartaz. Uma banda que em estilo não tem nada a ver com as anteriores e que não me apela muito, por isso, antes de o concerto começar desloquei-me sem grandes pressas para a barraca da cerveja. Estava na (enorme) fila quando a banda subiu ao palco. Virei para o palco com curiosidade para ver o que ia acontecer.
Chamou-me a atenção o vocalista com a sua barba ruiva gigante (porque a quem é que não ia chamar a atenção aquela irreverence) que se dirigiu ao centro do palco e colocou em cima de uma coluna a sua bota vermlha escarlate e apresentou a sua banda mais ou menos desta forma: “We are Valient Thorr and we are the kings of rock n’ roll”. Tal como a frase indica o concerto foi marcado pelo excesso, tanto nas guitarras como no comportamento do vocalista. 

Pessoalmente não foi um concerto que me marcou pela música mas sim pela postura da banda que providenciou um fim de noite alegre e descontraído a todos. E se houve alguma personagem que não passou indiferente a ninguém nesta edição do SonicBlast foi sem duvida o seu vocalista, seja pelos discursos da teoria da conspiração, quando dizia para o público acreditar em si próprios ou para se divertirem ao máximo, Valient Himself foi um dos Reis da noite.

Dia 1 @ SonicBlast Moledo 2016



Texto por Hugo Geada
Fotografia por Diogo M. Monteiro
FacebookTwitter