Cinco Discos, Cinco Críticas #19

| Setembro 26, 2016 1:53 pm

Fruitless Search // Soft Verse // agosto de 2016
7.0/10



Os New Horror são um trio natural do norte do Reino Unido, mais especificamente Newcastle, e lançaram no mês passado o seu EP de estreia, intitulado Fruitless Search. O disco, composto por seis canções, apresenta um post-punk lo-fi embebido pelo shoegaze dos anos 90 e marcado pela voz grave de Lewis Thompson. Fruitless Search tem uma peculiaridade interessante na medida em que abre com “Like a Child”, um single que serve para uma introdução bem contada, e encerra com “Mirror”, a música com a maior duração do EP e que encerra os conceitos do EP de forma sintética e eficaz.
Uma coisa há que admitir: os  New Horror trouxeram uma certa vivacidade ao post-punk que é produzido desde a década 10 do séc.XXI. Souberam conjugá-lo com uma aura dream pop, experienciada logo em “Like a Child”, e denegri-lo com o shoegaze dos 90’s em “In The Night”. Colocaram os sintetizadores de lado, e apostaram nas guitarras. O resultado final é bastante positivo e dá início à contagem decrescente pela espera de novos trabalhos.
Sónia Felizardo


GoRgO // Supernatural Cat // setembro de 2016
8.0/10

Os italianos MoRkObOt contam já com 12 anos de carreira e cinco álbuns de estúdio onde se inclui GoRgO, o novo disco do trio. Através de sete músicas os MoRkObOt trabalham um disco que se caracteriza na etiqueta do math-rock com algumas influências noise e se apresenta em formato instrumental. A tecnicidade musical é posta de lado e os italianos criam um emaranhado de sons díspares que se comunicam nos ritmos graves e ruídos psicadélicos resultantes. Dentro do género, este GoRgO é relevante pela inovação que lhe está intrínseca e é notória essencialmente ao nível da metodologia do duplo baixo e da percussão que apresenta uma força imparável e um objeto imovível. “Kromot” e “Ogrog” são dois singles interessantes a ouvir que apresentam uma personalidade mais próxima do pós-metal e surtem o efeito de hipnagogia pesada.
GoRgO foi produzido entre novembro de 2015 e janeiro de 2016 e testemunha uma coerência musical inteligente, através da criação de estruturas mais ambiciosas face aos trabalhos anteriores. Não é um disco para qualquer ouvido.

Sónia Felizardo



Rain Temple // Dream Catalogue // julho de 2016
8.0/10

Os 2814 abandonaram as
influências de vaporwave que se podiam encontrar no seu álbum anterior e, em
Rain Temple, misturaram música ambiente com géneros como downtempo e techno. O
uso de sintetizadores e a mistura de muitos sons criam diferentes atmosferas,
acompanhadas em várias músicas por percussão. Alguns dos ritmos usados
conseguem tornar certas músicas (quase) dançáveis. Rain Temple dura mais de uma
hora, mas consegue manter-se interessante durante toda a sua duração. Apesar de
ter alguns momentos mais fracos na sua primeira metade, nomeadamente em “Before
the Rain” e “Lost in a Dream”, estes são completamente compensados por músicas
como “Eyes of the Temple” e “Transference”, que aproveitam o potencial da
sonoridade explorada no álbum. Não faltam aqui boas melodias e ritmos e sons
bem misturados e produzidos. Podia ser a banda sonora alternativa do vosso JRPG
de ficção científica preferido, é provavelmente um dos melhores álbuns eletrónicos
dos últimos meses.



Rui Santos

Stasis // Ghost Box Records // agosto de 2016
7.0/10

Stasis é o mais recente LP de Pye Corner Audio. Segundo a press release da Ghost Box, este é uma continuação de Sleep Games. Alguns de vós podem conhecer o produtor pelo seu relativamente curto percurso na IDM, que começou em 2010. Outros, pelo remix que ele fez para os Mogwai no EP deles, o Music Industry 3. Fitness Industry 1. Mas o mais provável é que poucos de vós o conheçam. E numa altura em que anda tudo com tesão de mijo com o synthwave (“Uau! Onde é que esta música andou escondida estes anos todos?!”) muito por causa do Stranger Things e do seu tema de abertura, importa trazer à luz certos aspectos e verdades. Uma espécie de aviso à navegação, para sabermos que pistas devemos percorrer e outras que simplesmente podemos — e devemos — ignorar. 
1º – O synthwave existe desde os anos 80. Tem como inspiração a new wave e as bandas sonoras das grandes películas da época. O Vangelis, o John Carpenter e os Tangerine Dream são tidos pela pseudo-comunidade científico-musical como os inventores do género. (que o autor considera que não seria o mesmo sem Terry Riley). 
2º –  Ainda não vi nada de Stranger Things, por isso qualquer comentário que eu possa tecer é ignorante. Porém, já ouvi o tema. E sabem que mais? Eu já o tinha ouvido antes.
De certeza que os S U R V I V E não fizeram de propósito.  Mas se fizeram, limitaram-se a copiar um dos melhores estetas da sétima arte. Nada que Pye Corner Audio também não tenha feito com Stasis (e ainda por cima pegou logo no melhor filme do Refn).
3º – Se quiséssemos caracterizar o synthwave — e queremos — parte da definição invariavelmente teria que incluir “bandas sonoras de filmes sci-fi/horror dos anos 80”. A outra porção da definição é nostalgia. Uma espécie de homenagem às bandas sonoras que os grandes compositores dos anos 80 produziram para dar expressão sonora aos seus cenários distópicos. 
4º – Com Stasis, Pye Corner Audio nada acrescenta ao synthwave. Mas como poderia, se todo o melhor synthwave já foi feito? Ficou lá atrás, incorporado nos melhores filmes de sempre.O synthwave está estagnado. Morto.
Porém, com Stasis, Pye Corner Audio continua o legado do synthwave. Uma espécie de trabalho atual que serve de memória futura para dar a conhecer a uma geração faminta por boa música — e bom cinema — tudo aquilo que já foi feito anteriormente no synthwave. 
Ao fim ao cabo, tudo acaba por soar ao mesmo. E soa incrível. 

Longa vida ao synthwave.

Edu Silva




Los Niños Sin Miedo // Heavenly Recordings // agosto de 2016
7.4/10


Os The Parrots são uma banda espanhola, originária de Madrid, que se estreia agora nas longas edições com Los Niños Sin Miedo (via Heavenly Recordings). Esta banda já tem um historial algo longo por Portugal, vieram pela primeira vez ao Clube Z na Galeria Zé dos Bois (reportagem aqui), e a partir daí, o trio espanhol tem passado várias vezes pelo nosso país. 

Após vários EP’s bem recebidos tanto pela imprensa, como também pelo público, os The Parrots lançaram (finalmente) o seu primeiro disco no passado mês de agosto. As suas raízes continuam lá, as claras influências em The Almighty Defenders e Black Lips, e obviamente, as letras inspiradas pela boa velha marijuana. Esta última influência pode ser logo encontrada na primeira malha de Los Niños Sin Miedo, ‘Too High To Die’. Quem a ouve pode logo sentir a essência dos The Parrots, o que são e o que é a música deles, mas vamos deixar isso para o final. ‘Let’s Do It Again’ e ‘No Me Gustas, Te Quiero’, os singles que antecederam a este álbum, foram as músicas que marcaram o melhor momento deste consistente álbum, não sendo estranhas de todo aos fãs da banda espanhola. ‘Casper’, ‘ The Road That Brings You Home’, e ‘Windows 98’ são outros destaques de Los Niños Sin Miedo, que no fundo, acaba por ser um bocado monótono e não inovador, mas de uma maneira positiva. Os The Parrots não complicam muito na sua composição musical, o seu género exige mesmo isso deles, o que importa aqui são os sentimentos, que se exprimem nas letras e nos acordes sentidos bem lá dentro. Quem vive um concerto dos ‘papagaios’ sabe bem do que se está a falar aqui, os seus concertos são loucos, os seus fãs vivem a música de uma maneira existencialista. 

E isto acaba por resumir a essência dos The Parrots, a vida pode ser uma merda, mas isso não significa que não possamos divertir-nos e aproveitar a vida ao máximo. A sua próxima passagem por Portugal está marcada para o dia 15 de outubro, onde vêm apresentar Los Niños Sin Miedo ao Musicbox Lisboa (evento aqui). Quem quiser sentir isto tudo ao vivo, sabe bem o que tem a fazer.

Tiago Farinha
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