Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 1º dia

Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 1º dia

| Setembro 1, 2016 12:09 am

Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 1º dia

| Setembro 1, 2016 12:09 am


Na passada quinta-feira, dia 25 de agosto, Leiria vestiu-se mais uma vez de preto para acolher a sétima edição do festival Entremuralhas. Apesar da concorrência se mostrar alta no fim-de-semana (com outros dois festivais a decorrer em simultâneo nos mesmos dias) isso não impediu o público já fidelizado de dar um salto e rumar entremuralhas, no icónico Castelo de Leiria. Como é habitual neste primeiro dia de festival o acesso ao Castelo de Leiria ficou limitado apenas ao recinto envolvente ao Palco Corpo. Era o primeiro dia de festival e havia muita curiosidade em ver Grausame Töchter ao vivo, e espreitar os concertos, também em estreia nacional, de Karin Park e Silent Runners


Silent Runners


Vestidinhos a rigor, que é como quem diz, todos de preto (à excepção do vocalista que se carcacterizava numa camisa azul escura com flores), os Silent Runners deram um concerto que seguiu a linha das expectativas que lhes tinham sido feitas. Em formato quarteto, os holandeses abriram o Palco Corpo por volta das 22h20 com “Human Capital”, ainda a aguardar a entrada do carismático vocalista Dolf Smolenaers. Com uma presença em palco denotada, Dolf e companhia começaram a envolver os primeiros festivaleiros com aquela que seria a primeira de seis músicas novas que traziam na manga. 
O primeiro grande momento do concerto deu-se com “Golden Nights”. Ao vivo a voz de Dolf Smolenaers é, de certa forma, despida da aura negra e consegue facilmente despertar interesse e empatia por aqueles que os ouviam. A simpatia do teclista Joep Gerrits e a cara de “mauzão” do guitarrista Stanley Op ‘t Root também despertavam facilmente curiosidade e uma empatia.
Após “I Walk Away” e “Fire Escape” o Entremuralhas preparava-se para receber o primeiro dos grandes momentos de voz “a solo”: Dolf Smolenaers finalizou “Again” com um vozeirão imparável que durou ainda uns longos segundos. Estava ali visto que os Silent Runners têm potencial apesar do seu pouco renome. 
Seguiu-se a já conhecida “Phantom Warrior” e, apesar de ser um concerto que numa versão encurtada teria um efeito muito positivo, os Silent Runners souberam encerrar muito bem o primeiro concerto do festival. Tocou “Forgotten”, mais um novo tema, para pôr fim à estreia dos holandeses no Palco Corpo.
A finalizar o concerto a banda aproveitou mote para dizer que as cópias do seu EP homónimo de estreia podiam ser adquiridas na banca de merchandising por “pay what you want. It could be 10 cents”.
Fofos.


Silent Runners


Karin Park



O concerto da Karin Park foi daquele tipo de concertos do Entremuralhas que normalmente só dá para suscitar duas reações: ou a experiência é positiva ou é negativa, não há grandes espaços para uma opinião intermédia. 
Com início apontado às 23h30 Karin Park sobe ao palco com dois bateristas (um deles David Park, o irmão) para mostrar a sua synthpop de pinceladas negras. A abrir com “Opium”, retirado do mais recente disco Apocalypse Pop, Karin Park começa a despertar uma certa atenção do público. A guardar os seus hits mais conhecidos para o meio e fim do concerto, Karin Park e companhia seguem espetáculo com “New Era”, “Everything” e “Restless”. Sem grandes alterações na performance, Karin Park mostrou uma atuação muito monótona, apesar das suas tentativas constantes de comunicação com o público. Demasiado pop para um público tão goth
A Karin Park em estúdio é mais poderosa que a Karin Park ao vivo e isso sente-se muito também ao nível da voz. Apesar do concerto uniforme, Karin Park  ainda teve tempo para revisitar alguns singles dos álbuns Ashes To Gold (2009) e Highwire Poetry (2012) e apresentar os músicos que a acompanhavam. 

Depois de “Look What You’ve Done” Karin Park perguntou ao público do Entremuralhas se conheciam as Pussy Riot e começou a contar uma história envolta ao tema, era a abertura para “Hard Liquor Man”. Para encerrar o concerto, Karin Park juntou-se aos dois bateristas no finalizar de “Thousand Loaded Guns”, naquela que ficou marcada como a parte alta do concerto: percussão, percussão, percussão.


Karin Park


Grausame Töchter

O espetáculo dos Grausame Töchter começou, para alguns, antes do tempo quando, no intervalo entre concertos, uma mão cheia de performers, ora de t-shirt ora semi nuas, passava por entre o meio do público rumo ao palco principal, ainda sem Aranea Peel no campo de visão. Já após esta primeira ocorrência foi colada uma projeção no palco de uns olhos quase sempre abertos e fixados no público, com um contador decrescente iniciado em 10m00. O Entremuralhas preparava-se assim para receber aquele que era cunhado como o concerto mais fora da cena. 
Os Grausame Töchter são oito e ao Palco Corpo subiram sete: a abrir o concerto com “Vagina Dentata”, em formato um baterista, uma guitarrista e três dançarinas ainda com t-shirts e alguns apetrechos sexuais, como máscaras, sutiãs de látex e saltos altos. A diva fetish Aranea Peel entra em palco poucos segundos depois coberta por um vestido de mangas brilhante para um aquecimento que seguiu com “Angst entstellt den Menschen” e um jogo de luzes muito interessante. Com uma performance muito marcante os alemães intrepertaram “Liebe will Beweise” e Aranea Peel parecia não ter muito para dizer ao público, a sua filosofia era mais a de “show, not tell”. E se era esperada um electropunk chocante Aranea Peel mostrou-o logo no início do concerto, chegando-se mais para a frente, levantado a saia e, sem cuecas, faz um “chichizão” (sim aquilo não era um chichi para meninos) em palco, enquanto canta. Música psicologicamente densa. Nudez no Entremuralhas. Um concerto que se esperava muito hardcore.


E pronto ali ficou um espetáculo marcado pelo “tudo a tirar a roupa”, “gajas a comerem-se”, a abraçarem-se e um elemento do público a levar umas bofetadas da loirinha que se assumiu como o elemento de comunicação entre público e banda (a diva fetish Aranea Peel decidiu poupar quaisquer diálogos com o público). Além do espetáculo performativo, a banda trouxe também uma projeção visual altamente apelativa e coordenada com o espetáculo, “Die ganze Welt ist ein Zirkus” foi um bom exemplo, com as bailarinas a trazerem máscaras de palhaço e a tocarem bombo. Ainda de relevo, Aranea Peel fez-se acompanhar de uma faca e uma arma em partes pontuais do espetáculo.
Com uma setlist a contemplar essencialmente Vagina Dentata, ainda houve tempo para ouvir temas de Glaube Liebe HoffnungAlles für Dich. Os Grausame Töchter depediram-se com a apresentação dos seus elementos, como banda, e “Ich Darf Das!” como pano de fundo: deusa e ninfas unidas.
O concerto dos Grausame Töchter foi o espetáculo do dia, embora tivesse as expectativas mais elevadas no seu início. No fim Era Kreuz ainda apontou fortemente a arma contra o público, embora nunca a chegasse a disparar. 


O primeiro dia do Entremuralhas, que decorreu no Palco Corpo com três bandas, teve um total de 15 músicos em palco. Não houve nenhuma ocorrência de encore no final dos concertos.



Dia1 @ ENTREMURALHAS 2016



—– fotogaleria completa primeiro dia —–


Texto: Sónia Felizardo
Fotografia: Virgílio Santos
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