Reportagem: Death In June [Hard Club, Porto]

Reportagem: Death In June [Hard Club, Porto]

| Outubro 15, 2016 12:08 am

Reportagem: Death In June [Hard Club, Porto]

| Outubro 15, 2016 12:08 am



Foi no passado dia 3 de Outubro que os Death In June
passaram pelo Porto em data única no nosso país para comemorar os 35 anos de
carreira do projeto. 
A noite começou a meio gás, com o Homem em Catarse a ocupar o palco na primeira parte do concerto. Apesar deste nos ter feito uma visita guiada ao Guarda-Rios — o seu mais recente LP — e nos ter mostrado a sua capacidade quase inata de desenvolver uma perfeita sinergia entre a voz e a guitarra, não se conseguiu impor perante uma plateia ruidosa e impaciente. 




O Homem em Catarse merecia melhor recepção e, quiçá, uma apresentação a título individual não fosse de todo descabido. Porém, há uma motivo que justifica comportamento algo juvenil e inconsequente: Douglas Pearson. Também conhecido por Douglas P., ele é o mentor dos Death In June, um projeto iniciado em 1981 que tem vindo, ao longo dos anos, a sobressair pelos seus episódios polémicos face às tendências simpatizantes neo nazi. As suas letras fazem alusão à Europa fascista do século XX e à Alemanha Nazi, gerando já diversos motins e cancelamentos de concertos em vários países. Mas não é só de polémica que se faz a história deste incrível projeto. Afinal, falamos de uma das bandas mais importantes da música neofolk. Depois de uma década de 80 mais direcionada para as sonoridades post punk e para a estética industrial de uns Throbbing Gristle, os Death in June assumiram-se nos anos 90 como um dos grupos mais caraterísticos da música neofolk, a par de bandas como Current 93 e Sol Invictus.




Depois do intervalo, a sala 2 do Hard Club apresentava-se completamente cheia. No palco assiste-se à entrada de um homem em trajes
militares e face ocultada por uma máscara branca. Ouvem-se samples de vozes e
cânticos acompanhados por belas melodias tocadas em piano que serviram como
introdução ao concerto. Após 15 minutos, Douglas P. entra finalmente em palco
ao som de uma sirene e uivando para o público como quem puxa por ele,  de camuflado e com a típica máscara a cobrir
a sua cara. A primeira parte do concerto dedicou-se ao lado mais tribal e
abrasivo da banda, com muita percussão a servir de acompanhamento às faixas dos
seus mais recentes discos.




Depois desta intensa primeira parte, Douglas P.
apresentou-se sozinho em palco, deixando o seu colega de parte para se dedicar
aos temas que o público mais desejava ouvir. Agora sem máscara e de guitarra na
mão, Douglas P. não tardou em tocar os seus temas clássicos, sem grandes pausas e
de ritmo bastante acelerado. A setlist percorreu boa parte da sua discografia,
com as músicas a não excederem muito mais que dois minutos, oferecendo um
alinhamento extensivo para agrado dos muitos fãs que o assistiam. A atenção e o
conhecimento por parte do público era notória, com muitos a acompanharem as
canções com as suas respetivas letras e aplaudindo com vivacidade. 




“He Said
Destroy” foi tocada a pedido do público, ainda bastante cedo para as
expectativas de Douglas P., que veio a conceder este privilégio mais algumas vezes
posteriormente. A partir daqui foi um desfile de clássicos. Não faltaram temas
fabulosos como “All Pigs Must Die”, “He’s Disabled” e “Hollows of Devotion”, todas elas recebidas com
muito fervor, assim como “Fall Apart” e “But, What Ends When The Symbols
Shatter”, as duas tocadas a pedido do público, novamente. Ao aproximar-se do
fim, Douglas P. abrandou o ritmo e aproveitou para interagir um pouco mais com
o público, falando sobre as diferentes reações que as bebidas alcoólicas lhe
provocavam, proporcionando um momento mais próximo e cómico ao concerto.
“Little Black Angel”, um dos temas mais representativos dos Death in June seguiu-se
pouco depois, com o público a agradecer com um forte aplauso. 
Um par de temas depois, Douglas P. despede-se e deixa o
palco. O encore não tardou a acontecer, como seria de esperar. De volta ao
palco e novamente acompanhado,
  seguiu-se
“C’est Un Rêve”, terminando o concerto novamente com o lado mais abrasivo da
banda, com uma precursão de ritmo certeiro e coordenando, tal como numa marcha
militar, proporcionando uma noite que se fez histórica e enorme em qualidade. Um
concerto que não terá deixado ninguém desiludido e que provou a qualidade de um
dos mais interessantes e ignorados grupos da música dos últimos anos, recebido
pelo público portuense de braços abertos e com todo o respeito que sempre
mereceram.




Texto: Filipe Costa
Fotografia: Edu Silva
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