Reportagem: Flyying Colours [Cave 45 – Porto]

| Outubro 28, 2016 4:18 pm
Foi numa chuvosa noite de domingo (16 de outubro de 2016) que os australianos Flyying Colours subiram ao palco do Cave 45, naquela que foi a sua absoluta estreia em Portugal. Os Grainy Detours foram a primeira banda a subir ao palco com a sua mistura de pop rock jovial, uma doce pastilha elástica já mascámos demasiadas vezes antes. Um projeto com pernas para andar, mas que precisa de amadurecer e de se libertar das suas raízes.



Depois, foi a vez dos Flyying Colours. Os australianos que se encontram no roster da Club AC30, a casa de algumas das bandas que melhor figura têm feito na interpretação dessa tendência estilística que é o shoegaze. Destacamos do seu catálogo os Air Formation, os Ringo Deathstarr (ambos actuaram na primeira edição do Reverence Valada), os Pinkshinyultrablast e, é claro, os Flyying Colours. O percurso destes começou em 2013 com um EP — mais uma das bandas que surgiu nos anos da (re-)descoberta do shoegaze — e deste então editaram mais um EP, um LP este ano (o Mindfulness) e fizeram tours com os Pinkshinyultrablast, Brian Jonestown Massacre, A Place To Bury Strangers e o Johnny Marr. Serve esta resenha para mostrar que, no seu curto percurso enquanto banda, os Flyying Colours pouco ou nada têm a provar às massas em matéria de exposição mediática. 



Musicalmente, as comparações com as Lush, os Medicine e os My Bloody Valentine são um exercício inevitável. Quer em palco quer em estúdio, atestamos que os Flyying Colours usam os instrumentos para produzir camadas de ruído — por vezes a sua música em palco resume-se a ruído — o Brodie e a Gemma cantam a lírica saída de um qualquer período de escrita febril de um adolescente desajeitado e, no final, tudo resulta numa mistura homogénea entre voz e instrumentação. Homem e máquina trabalham em perfeita harmonia para produzir a derradeira camada de ruído. Esta é a base do shoegaze e é a partir dela que todas as explorações sonoras dos Flyying Colours derivam.



Apesar da música ser brilhante e da sua actuação no Cave 45 ter sido boa, a estreia dos Flyying Colours em Portugal não foi das mais positivas. A afluência ao concerto foi pouca, até mesmo para o evento de que se tratava: a estreia absoluta em Portugal de uma banda de shoegaze emergente (mais uma vez, um grande obrigado à MIMO por continuar a apostar na novidade e a manter os padrões de qualidade). Depois, a jovialidade de grande parte da audiência e a complexidade da mensagem que lhes estava a ser passada impediu que a banda conseguisse estabelecer com esta um diálogo, culminando no tal efeito de distanciamento cunhado por Brecht. Isto porque o shoegaze — um movimento envolvido e por vezes confundido com “a cena que se celebra a si mesma— continua a ser, à sua maneira, um sub-género controverso. Alguns esforços já estão a ser feitos para tentar cartografar o shoegaze, mas os limites deste movimento ainda não se encontram definidos. Mas para quê perdermo-nos em ruidosas discussões, quando podemos simplesmente perder-nos no ruído?

Flyying Colours @ Cave 45 - Porto
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