Reportagem: Nothing + Ricardo Remédio [Cave 45, Porto]

| Outubro 16, 2016 1:43 pm



Foi no dia 8 de Outubro que os norte-americanos Nothing
passaram pelo
Cave 45, no Porto, para apresentar o segundo disco de estúdio
Tired of Tomorrow, depois da estreia nacional marcada no Musicbox no dia
anterior. Com um álbum poderoso para apresentar, os
Nothing trouxeram de volta
as sonoridades shoegaze presentes no disco
Guilty of Everything, mas com uma
paixão e dedicação notória e mais presente que o seu primeiro disco, com
letras mais sentidas e de grande carga emocional que refletem o passado negro
de
Palermo e as suas vivências ao longo destes quatro complicados anos após a
saída da prisão, onde esteve recluso durante dois anos. No entanto, a produção
deste novo disco trouxe uns
Nothing mais motivados, mais enérgicos e claramente mais dedicados, com a sua sonoridade a transmitir uma certa sensação de brilho e
esperança. Esta sensação de tranquilidade e frescura mostrou-se bastante
presente durante o concerto, com
Palermo bastante animado e feliz por se
encontrar no Porto pela primeira vez, comunicando com regularidade e com humor
sempre presente.


Ao som do piano de “Tired of Tomorrow”, uma das mais belas canções
do repertório da banda, os Nothing entraram então em palco para interpretar de
seguida dois dos melhores temas deste novo disco, com “Fever Queen” e a
inspiradora “Vertigo Flowers” a fazerem-se se sentir nos subterrâneos do Cave
45. Depois de uma breve passagem por “Chloroform”, tema pertencente ao split
colaborativo com os Whirr, de quem faz parte o baixista Nick
Basset
, os Nothing regressaram novamente aos temas do mais recente disco,
desta vez com a poderosa “The Deads Are Dumb”. Mas não foi só de “Tired of
Tomorrow” que se fez o concerto, com a banda a relembrar os temas de “Guilty of
Everything” com uma das maiores malhas deste disco. “Get Well” surgiu então
para criar alguma agitação no público com o único avistamento de crowdsurfing
da noite, provando que o público do Cave 45 não se fazia apenas de fãs desta
nova fase dos Nothing. Afinal, estamos a falar de uma das bandas mais desejadas e
sugeridas pelos seguidores da Amplificasom, que foi encarregue de trazer os
Nothing pela primeira vez a Portugal e que trouxe já este ano bandas como The Body, Full of Hell, Deafheaven, Sun Kill Moon, entre outros. “Eaten by Worms” seguiu-se, com os riffs
sujos e pesarosos a fazerem-se arrastar pelas paredes da sala, onde Palermo
desceu do palco para se juntar e cantar ao pé do público que o assistia. O som,
claro, encontrava-se bem alto e a distorção é elemento mais que presente na
música da banda, contribuindo para uma certa absorção por parte do público que
opta por sentir o concerto de modo mais introspetivo, apesar do som abrasivo de
passado claramente hardcore da banda. Já próximo do fim, ouve-se ainda “A.C.D
(Abcessive Compulsive Disorder)”, aquela que é, talvez, a música mais
representativa do último disco e uma das favoritas do público.  Depois de mais uma passagem pelo seu primeiro disco com “Bent Nail”, seguiu-se“Curse of The
Sun”, pondo fim a um concerto sem encore.

Os Nothing conseguiram assim uma passagem marcante e
memorável, afirmando-se mais uma vez como uma das maiores bandas do panorama da
nova música shoegaze, capazes de criar canções extremamente interessantes e
emotivas. A sua música é nos familiar e não traz algo de novo ao estilo, mas a
sua sonoridade é detentora de uma clara identidade e não cai no erro de se
tornar repetitiva e saturante. Os
Nothing estão mais consistentes e presentes
do que nunca, e a sua passagem pelo Porto foi prova disso mesmo.

Antes de Nothing houve ainda tempo para ouvir o set de Ricardo Remédio, que regressou aos palcos o ano passado e que se apresenta agora em nome próprio depois de atuar como RA. Membro dos recém-regressados LÖBO, Ricardo Remédio apresentou-se em palco num set curto para uma plateia ainda pouco composta e não muito atenta. Apesar de se demonstrar ainda um pouco verde e longe de atingir todas as suas potencialidades ao vivo, Ricardo Remédio conseguiu, mesmo assim, executar um set interessante onde as suas paisagens tenebrosas de uma ambient languida e negra se cruzou com devaneios synth bem definidos e baixos bem presentes.

A reportagem fotográfica é da autoria da WAV e podem consultá-la aqui.

Texto: Filipe Costa
Fotografia: Bruno Pereira (WAV)

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