Cinco Discos, Cinco Críticas #21

| Dezembro 4, 2016 9:24 pm
Nesta vigésima primeira edição do “Cinco Discos, Cinco Críticas” falamos dos mais recentes trabalhos de estúdio de Clementine, Princess Nokia, The Early Years, The Warlocks e Soft Hair. As críticas e os discos, para reproduzir abaixo.

Tiger EP // self-released // novembro de 2016
7.0/10



A dupla lisboeta Clementine apresentou neste mês de novembro o seu EP de estreia, Tiger, sendo o primeiro material inédito de Shelley Barradas e Helena Fagundes desde as Bobadela Demo Sessions (2015). Sem espaço para dúvidas as Clementine mostram em Tiger EP, uma tamanha melhoria na qualidade sonora e um EP que mostra que a música portuguesa independente está cheia de futuro. A cover-art do EP também é um fator de destaque e faz todo o sentido quando se ouve, por exemplo, “Monga”.
Tiger EP é composto por cinco músicas que ao vivo prometem garantir um “ganda concerto” com a energia explosiva do garage-rock e aquele toque feminino que ainda se sente em falta no mercado nacional. Para ouvir, recomendam-se essencialmente os singles “Absolute Demolition” e “Street Walker”. O EP Tiger foi gravado por Gonçalo Formiga na cave dos Cave StoryOs fãs de Pega Monstro vão gostar.

Sónia Felizardo


1992 // self-released // setembro de 2016
8.9/10



Princess Nokia, o nome de palco de Destiny Frasqueri, uma rapariga que se introduziu no hip-hop com todo o seu poder feminino muito como Missy Elliott e Lil Kim, contando a história muldimensional da sua entidade através de um hip-hop mais alternativo que explora sons de jazz e R&B, tambores africanos e todo o spice porto-riquenho que pode tudo ser sumarizado no seu último disco, 1992
1992 é um projeto que explora muito a liberdidade feminina, a identidade da cantora enquanto uma mulher negra, porto-riquenha residente em Nova Iorque e, claro, uma glorificação às suas raízes. 
“Tomboy”, o primeiro single, desconstrói toda a noção de beleza de mulheres de cor, onde Destiny rappa que, mesmo com “litte titties” e uma “phat belly”, ela é capaz de ser tão bem sucedida como qualquer outra pessoa e que nada que a defina fisicamente a define enquanto pessoa. “Brujas” é, na minha opinião, das melhores faixas do disco, explorando a noção de identidade com um som bastante parecido a algo que Le1f ou Zebra Katz fariam, bastante místico com um undertone de não te metas comigo “Don’t you fuck with my energy”. 
Outras faixas importantes mencionar seriam “Saggy Denim” – a faixa que transmite uma vibe mais sexual ao disco, sempre na perspetiva da “Tomboy”, mas agora com o R&B – e “Mine” – que é uma faixa que no sentido literal é sobre o cabelo das mulheres de cor, mas enquanto metáfora é um empoderamento dessas mesmas através da sua liberdade de escolher como usar o seu cabelo (se isso faz algum sentido). No geral 1992 é uma amálgama bem sucedida de tudo o que é vibrante e importante no hip-hop hoje em dia; a experimentação e vanguardismo que vemos no queer-hop e o classicismo que foi construído nas ruas de Harlem. Realmente uma pérola a tomarmos atenção.



Júlio de Lucena




II // Sonic Cathedral // setembro de 2016
5.5/10



Passados quase 10 anos após a edição do disco de estreia homónimo, os rockers londrinos The Early Years estão de regresso às edições com II, que recebe o selo da editora inglesa Sonic Cathedral. Neste segundo disco de estúdio a banda londrina apresenta um disco recheado de psych-rock com quebras e pausas no ritmo que se vão tornando dominantes com o volver do disco.
A única música relevante de II é “For The Fallen” – que inicia num ritmo muito lento, abrindo espaço para uma poderosa malha de stoner rock com um toque psych. O restante disco perde-se na monotonia, e nem o single de início, “Nocturne”, com um ritmo mais energético, consegue seduzir o ouvinte.
II é um disco “ok”, mas não é “ok” o suficiente para ser memorável ou significativo nos lançamentos de 2016. No entanto, é uma boa prenda para todos os fãs que até então permaneceram no mundo da silenciosa espera. 

Sónia Felizardo


Songs From The Pale Eclipse // Cleopatra Records // setembro de 2016
7.5/10

Muito se passou desde o tempo em que o Bobby Hecksher deixou os Brian Jonestown Massacre. Este criou os The Warlocks, sua atual banda, com bastante sucesso, visitou inúmeros festivais, desde o Levitation (antigo Austin Psych Fest), até ao nosso Reverence e agora adicionou mais um álbum à sua já considerável discografia (este é o sétimo). 
Songs From the Pale Eclipse não foge muito do registo dos anteriores álbuns da banda, apresentando o seu som melancólico, apoiado em delay que cria umas paisagens inspiradas no shoegaze e dream pop.
Embora não seja um álbum que cause tanto impacto como instalações anteriores – por exemplo o Heavy Deady Skull Lover, que apresenta todo um registo consistente de boas musicas – é possível extrair umas boas músicas deste disco, por exemplo o single “Lonesome Bulldog” ou a faixa que encerra o álbum “The Arp Made Me Cry”. Contudo o grande destaque de Songs From the Pale Eclipse vai para a trilogia “We Took All The Acid / Drinking Song / I Warned You”, uma verdadeira viagem sobre excesso, decadência e as suas repercussões. Apesar de não ser o álbum mais consistente do repertório Songs From The Pale Eclipse mostra-se uma entrada forte com algumas músicas que merecem forte destaque para se evidenciar na setlist da banda. E, sem dúvida, que continuam a ser das melhores bandas para ouvir enquanto brincamos aos alucinogénios.

Hugo Geada


Soft Hair // Weird World // outubro 2016
7.9/10

Soft Hair são Connan Mockasin e Sam Dust (LA PRIEST e Late
of The Pier
). Editaram no passado mês de outubro um álbum homónimo colaborativo
após cinco anos de gravações espalhadas um pouco por todo o mundo,
especialmente pelo Reino Unido e a Nova Zelândia, país de onde é originário
Connan. Em Soft Hair temos a pop psicadélica e extravagante de Connan e a
eletrónica mais funky de Sam. Há músicas em que a influência de um dos artistas
sobressai, no entanto, este trabalho leva-nos a viajar num mundo exótico, formado
por sonoridades inconvencionais, sedutoras e imaginativas. Quanto à lírica,
essa é atrevida, conferindo um cariz sexual e afrodisíaco à musica. Os grandes
destaques vão para os interlúdios “i.v.” e “l.i.v.”, para o single de
apresentação “Lying has to Stop” e para a hipnótica “Goood Sign”. Em suma, este
projeto traz-nos algum divertimento e calor para este outono chuvoso.,
mostrando-se uma colaboração interessante de se ouvir. 




Rui Gameiro



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