Cinco Discos, Cinco Críticas #23

Cinco Discos, Cinco Críticas #23

| Março 5, 2017 7:19 pm

Cinco Discos, Cinco Críticas #23

| Março 5, 2017 7:19 pm
Os novos trabalhos de PriestsMatthew E. White & Florence Morrissey, Kairon; IRSE!, John Garcia e Has A Shadow foram alvos de atenção em mais uma rubrica “Cinco Discos, Cinco Críticas”. A opinião da redação relativamente aos mesmos segue abaixo.





Nothing Feels Natural // Syster Polygon Records // janeiro de 2017

7.0/10


Os americanos Priests editaram a 27 de janeiro o seu primeiro disco de estúdio que sucede o bastante aclamado Bodies and Control and Money and Power EP (2014). Nothing Feels Natural é um disco com uma aura essencialmente punk mas tipicamente obscura e encaixada em sentimentos como raiva, frustração, revolta e angústia, que são essencialmente expressos pela forma como a vocalista Katie Alice Greer pronuncia as letras das músicas. 
É de notar (e agradecer) a presença e conjugação de instrumentos alternativos às cordas e percussão, nomeadamente o saxofone que enriquece e torna faixas como “Suck” numa das mais bem sucedidas do disco. Outras faixas interessantes incluem “Leila 20”, “Appropriate”, “Nicki” e “JJ”.
Nothing Feels Natural retrata de alguma forma o clima político vivenciado na América com a eleição de um novo presidente. A instabilidade resultante de uma decisão que tem repercussões mundiais leva a que o post-punk volte a ganhar voz e que a mesma se faça ouvir nos novos registos com vertentes mais obscuras. Nothing Feels Natural é um bom disco para uma estreia, mas ainda deixa margens para melhorias em trabalhos futuros.


Sónia Felizardo






Gentlewoman, Ruby Man // Glassnote Records // janeiro de 2017
7.5/10

Gentlewoman, Ruby Man é o resultado da colaboração entre
Matthew E. White (Fight The Big Bull) e Florence Morrissey. Num registo de cerca
de 40 minutos são reinterpretados (sem género musical base especifico) clássicos como o tema principal de Grease e “Suzanne”
de Leonard Cohen mas também canções mais recentes, é o caso de “The Colour In
Anything” de James Blake.
Este disco tem como principal foco a obtenção de harmonia e
até alguma fusão entre a voz masculina e a voz feminina. Isto é perfeitamente ilustrado
na capa do registo e, de facto, os vocais de Flo e Matthew conseguem
proporcionar momentos muito agradáveis. Não sendo o foco principal
também os instrumentais são reinterpretados e não devem ser, de todo, ignorados.

Gentlewoman, Ruby Man não será, com certeza, um dos discos grandes
do ano mas deve ser dada a oportunidade a esta experiência por conhecedores e
não conhecedores das canções originais
.



Francisco Lobo de Ávila

Ruination // Svart Records // fevereiro de 2017
7.9/10


Os
finlandeses Kairon; IRSE! alcançaram algum sucesso internacional na internet
quando lançaram o seu segundo álbum, Ujubasajuba, em 2014. Uma review do disco
foi parar à página inicial do site rateyourmusic, e o quarteto ganhou vários
novos fãs. O álbum apresentava uma sonoridade shoegaze diferente do habitual, com
elementos de pós-rock e canções longas.

Em Ruination, os Kairon; IRSE!
têm um som diferente, mais psicadélico, espacial e progressivo. As canções contêm
várias longas secções instrumentais, onde guitarras, teclados, um saxofone e
outros instrumentos se aventuram por composições dinâmicas que tanto podem ser
atmosféricas e pouco intensas, como barulhentas e poderosas. No entanto, isso não desvaloriza as partes com voz, apropriadas e
eficazes, que não roubam espaço e protagonismo aos instrumentais. O álbum é
coerente e bastante criativo, tendo-se destacado nas primeiras audições “Sinister
Waters II” e “Starik” como as melhores faixas. “Llullaillaco” é o momento mais
desinteressante e claramente o ponto mais fraco do disco. As músicas são
complexas e densas e beneficiam de uma boa produção, realizada por Juho Vanhanen (vocalista dos Oranssi Pazuzu). 
Ruination não irá agradar igualmente a todos os fãs de Ujubasajuba, devido às diferenças de estilos explorados, mas é um disco bem conseguido que não deve passar
despercebido a qualquer fã de space rock, rock psicadélico ou rock progressivo.





Rui Santos


The Coyote Who Spoke In Tongues // Napalm Records // janeiro de 2017
7.5/10

O nome John Garcia é um nome que não passa despercebido aos amantes de desert/stoner rock visto que este homem é responsável pelos vocais em algumas das mais importantes bandas dentro do género, como Kyuss, Slo Burn, Unida, Hermano e Vista Chino
O músico que tinha lançado o seu último álbum a solo em 2014 decidiu interromper o silêncio e lançar um álbum completamente diferente do seu registo. Um álbum completamente em acústico. Neste disco podemos encontrar não só musicas novas como “Kylie” e “Give Me 250 ML”, mas também versões à lá “unplugged” de 4 músicas dos seus tempos áureos nos Kyuss. “Gardenia”, “Green Machine”, “Space Cadet” e “El Rodeu” foram as músicas escolhidas para levar este tratamento. 
Embora não possamos colocar este álbum acima das suas incursões anteriores, este pode ser considerado um álbum bastante interessante e de agradável audição, os novos arranjos das musicas antigas encaixam na perfeição e concede uma nova vida a estas faixas e as originais nota-se que tem trabalho por trás e não foram incluídas por acaso. É bom saber que mais de 20 anos depois de Kyuss ter acabado, John Garcia continua a fazer música de qualidade e cheia de vida. Longa vida ao deserto.



Hugo Geada

Sorrow Tomorrow // Fuzz Club Records // janeiro de 2017
7.0/10

Sorrow Tomorrow é o segundo trabalho de estúdio da banda mexicana Has A Shadow, O disco, que traz o selo da editora londrina Fuzz Club Records e dá sucessão a Sky Is Hell Black (2013), apresenta uma atmosfera obscura, com influências dos movimentos psych-rock e post-punk. Gravado e produzido por The Obsolete (dos Lorelle Meets The Obsolete), Sorrow Tomorrow apresenta um total de nove cancões, tendo visto como primeiros singles de avanço “The Flesh” e “Vampire Kiss”, duas músicas que afinam a identidade musical dos Has a Shadow entre o neo-psych de bandas como Föllakzoid, Lorelle Meets The Obsolete, The Underground Youth, entre outros, e o post-punk obscuro de bandas como Red Lorry, Yellow Lorry e Pink Turns Blue
Em cerca de 40 minutos, os Has a Shadow proporcionam uma viagem ao ouvinte nos campos espácio-temporal com muito noise e reverb à mistura.A ouvir recomendam-se ainda os singles “Sorrow”, “Attack On The Junkie”, “Cul De Sac” e “Not Even Human”.


Sónia Felizardo
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