Cinco Discos, Cinco Críticas #24

| Abril 11, 2017 10:36 pm


Em mais uma edição do Cinco Discos, Cinco Críticas falamos, desta feita, dos novos trabalhos de estúdio de HexenschussSpoonPrimitive ProgrammeBardo Pond PINS. Com datas de lançamento compreendidas entre março e abril do presente ano, fica abaixo uma opinião sobre os respetivos discos, bem como a sua disponibilização para audição na íntegra. 


Gobbledegock // self-released // abril de 2017
7.5/10

Os Hexenschuss são uma dupla composta por baixo-percussão que se encontra no ativo desde 2013. Com uma música tipicamente instrumental, rápida e por vezes “suja”, o duo conjuga a sua base composicional com os elementos da EBM, acrescentando-lhe sons contemporâneos e bastante interessantes (Oiça-se, por exemplo, “Fakakt”). O primeiro disco, homónimo, saiu em 2014 e a banda regressa agora aos trabalhos com Gobbledegock, um disco que explora maioritariamente as sonoridades do krautpop e do post-rock eletrónico. Os ritmos deste segundo álbum são complexos por serem envolvidos em batidas simples, repetições de linhas de baixo e, posteriormente, transformados numa aura obscura e cinematográfica, que acaba por torná-las muito caracterísitcas. A título de exemplo oiçam-se singles como “Dampfnudel of Doom” “Krautrockpastiche” ou “Insert”. Apesar da construção simplista das músicas, o ruído que os Hexenschuss fazem é geralmente hipnótico com efeitos psicadélicos e cuidadosamente estruturado, com esqueletos de músicas pequenos, comprimidos e minimais. A utilização da repetição nas frases musicais é essencialmente uma expressão que utilizam à semelhança de bandas como os Faust ou os The Fall
Gobbledegock é um disco facilmente assimilável, que ultrapassa as barreiras entre os diversos géneros e consegue atrair qualquer amante de música a escutá-lo na íntegra.





Sónia Felizardo




Hot Thoughts // Matador Records // março de 2017
6.0/10

O (atualmente)
quarteto de indie rock Spoon tem vindo a lançar regularmente álbuns desde 1996. O 9º
da sua discografia, Hot Thoughts, saiu o mês passado. Apesar de ter alguns
momentos interessantes, este está longe do nível de álbuns como Girls Can
Tell
, ou o mais recente They Want My Soul
É claramente um disco bem produzido e onde todos os
instrumentos soam bem, mas a composição das canções deixa a desejar. Embora existam alguns pormenores, sons diferentes e variações interessantes em
canções como “WhisperI’lllistentohearit”, talvez a melhor do disco, grande
parte das músicas não apresentam melodias, harmonias ou momentos especiais que
consigam elevá-las a um nível superior ao de indie rock decente e pouco
memorável, não se tornando no entanto desagradável. A longa “Pink Up” e o instrumental “Us” destacam-se pela diferença em relação à sonoridade mais comum da banda que se ouve
no resto do álbum, mas a experimentação percetível nessas faixas não consegue torná-las
especialmente cativantes. Em contrapartida, o single “Hot Thoughts” e a
dançável “First Caress” merecem ser ouvidas. Não diria que os Spoon precisam de se reinventar ou alterar de maneira mais drástica o seu som, pois este está bem definido, funciona e vai mudando naturalmente de maneira subtil, mas este ano sente-se a falta de canções mais catchy e memoráveis, como “Do You” e “Inside Out”, de há 3 anos atrás.

Rui Santos

Modern World EP // self-released // março de 2017
8.5/10

O revivalismo das sonoridades post-punk dos anos 80 nunca esteve tão em altas como nos últimos anos e os americanos Primitive Programme são mais um bom exemplo deste resgate. A justificação encontra-se no EP de estreia, Modern World, que traz um total de quatro canções extremamente interessantes para uma banda que só agora começa a dar as primeiras pisadas no mundo da música. Músicas como “Triangulate” fazem-nos viajar entre as praias dos The SoundRed Lorry Yellow Lorry, Bauhaus e Alien Sex Fiend, por sua vez, “Celebrate” junta a esta base um toque psicadélico, criando uma harmonia contemporânea, através de uma nova diretiva centrada no futuro incerto do homo sapiens. Descrevendo a sua música como retro futurista e de estética art-rock, os Primitive Programme apresentam em Modern World o enorme potencial e criatividade que têm e que não deve, de todo, ser ignorado. Um EP incrível para fazer uma viagem até aos passados anos 80, em menos de 15 minutos.


Sónia Felizardo

Under The Pines // Fire Records //março de 2017
7.0/10

Tal como um abraço num dia onde reina a melancolia, é assim que o ouvinte se sente a ouvir a música dos Bardo Pond. Estes experientes shoegazers, que têm vindo a partilhar a sua arte por mais de duas décadas, com Under the Pines contabilizam já 11 álbuns debaixo da sua alçada. 
Apesar de continuarem o som que tão bem dominam, e por isso não ser um álbum que apresente grandes surpresas para quem já conhece bem a banda, a consistência e qualidade tornam este uma forte adição à sua discografia. Os “slow burners” são um dos principais paradigmas na estrutura das músicas. Instrumentos mergulhados em fuzz, feedback e reverb abraçam-se em longas jams à la Neil Young e os Crazy Horse no seu auge psicadélico como “Cortez the Killer” ou “Down by the River”, com a voz de Isobel Sollenberger (com ou sem efeitos de delay a embelezar) a criar uma imagem de deusa cósmica ou até a tocar flauta evocando figuras mais primitivas de mitos nativo americanos. Por vezes esta mescla de sons torna-se demasiado confusa, contudo esta experimentação exagerada torna a audição desta banda uma experiência muito interessante. A forma como conjugam todos estes elementos numa música relaxada com belas paisagens sónicas é o que torna esta uma banda única e a distingue do restante universo psicadélico.


Hugo Geada
Bad Thing EP // Haus of PINS // março de 2017
8.0/10


Após o lançamento de Wild Nights, em 2015, as PINS regressam com Bad Thing. O primeiro single do EP contou com a participação do gigante Iggy Pop resultando numa excelente canção num estilo quase spoken word onde a voz, do mesmo, encaixa perfeitamente. 
Bad Thing EP consegue ser bastante imprevisível em termos de sonoridade pois as suas faixas pouco ou nada são relacionadas, mas nunca transmite um sentimento de quebra de continuidade. A forma como são intercalados temas mais “leves” como “Bad Thing” e “All Hail” com temas mais densos como “Aggrophobe” e “In Nightmares” evita a monotonia tornando este EP de muito fácil audição. A terminar o disco e muito bem executado temos uma versão de “Dead Souls” dos, também de Manchester (talvez a banda mais conhecida desta cidade), Joy Division.
Apesar de, infelizmente, só uma das canções contar com a participação de Iggy Pop (fico à espera de um disco colaborativo) Bad Thing é um EP simples mas competente e com bastante valor de repetição e deverá figurar em algumas listas desta categoria, no final do ano.


Francisco Lobo de Ávila


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