Em mais uma edição do Cinco Discos, Cinco Críticas falamos, desta feita, dos novos trabalhos de estúdio de Hexenschuss, Spoon, Primitive Programme, Bardo Pond e PINS. Com datas de lançamento compreendidas entre março e abril do presente ano, fica abaixo uma opinião sobre os respetivos discos, bem como a sua disponibilização para audição na íntegra.
Gobbledegock é um disco facilmente assimilável, que ultrapassa as barreiras entre os diversos géneros e consegue atrair qualquer amante de música a escutá-lo na íntegra.
quarteto de indie rock Spoon tem vindo a lançar regularmente álbuns desde 1996. O 9º
da sua discografia, Hot Thoughts, saiu o mês passado. Apesar de ter alguns
momentos interessantes, este está longe do nível de álbuns como Girls Can
Tell, ou o mais recente They Want My Soul. É claramente um disco bem produzido e onde todos os
instrumentos soam bem, mas a composição das canções deixa a desejar. Embora existam alguns pormenores, sons diferentes e variações interessantes em
canções como “WhisperI’lllistentohearit”, talvez a melhor do disco, grande
parte das músicas não apresentam melodias, harmonias ou momentos especiais que
consigam elevá-las a um nível superior ao de indie rock decente e pouco
memorável, não se tornando no entanto desagradável. A longa “Pink Up” e o instrumental “Us” destacam-se pela diferença em relação à sonoridade mais comum da banda que se ouve
no resto do álbum, mas a experimentação percetível nessas faixas não consegue torná-las
especialmente cativantes. Em contrapartida, o single “Hot Thoughts” e a
dançável “First Caress” merecem ser ouvidas. Não diria que os Spoon precisam de se reinventar ou alterar de maneira mais drástica o seu som, pois este está bem definido, funciona e vai mudando naturalmente de maneira subtil, mas este ano sente-se a falta de canções mais catchy e memoráveis, como “Do You” e “Inside Out”, de há 3 anos atrás.
Apesar de continuarem o som que tão bem dominam, e por isso não ser um álbum que apresente grandes surpresas para quem já conhece bem a banda, a consistência e qualidade tornam este uma forte adição à sua discografia. Os “slow burners” são um dos principais paradigmas na estrutura das músicas. Instrumentos mergulhados em fuzz, feedback e reverb abraçam-se em longas jams à la Neil Young e os Crazy Horse no seu auge psicadélico como “Cortez the Killer” ou “Down by the River”, com a voz de Isobel Sollenberger (com ou sem efeitos de delay a embelezar) a criar uma imagem de deusa cósmica ou até a tocar flauta evocando figuras mais primitivas de mitos nativo americanos. Por vezes esta mescla de sons torna-se demasiado confusa, contudo esta experimentação exagerada torna a audição desta banda uma experiência muito interessante. A forma como conjugam todos estes elementos numa música relaxada com belas paisagens sónicas é o que torna esta uma banda única e a distingue do restante universo psicadélico.
Bad Thing EP consegue ser bastante imprevisível em termos de sonoridade pois as suas faixas pouco ou nada são relacionadas, mas nunca transmite um sentimento de quebra de continuidade. A forma como são intercalados temas mais “leves” como “Bad Thing” e “All Hail” com temas mais densos como “Aggrophobe” e “In Nightmares” evita a monotonia tornando este EP de muito fácil audição. A terminar o disco e muito bem executado temos uma versão de “Dead Souls” dos, também de Manchester (talvez a banda mais conhecida desta cidade), Joy Division.
Apesar de, infelizmente, só uma das canções contar com a participação de Iggy Pop (fico à espera de um disco colaborativo) Bad Thing é um EP simples mas competente e com bastante valor de repetição e deverá figurar em algumas listas desta categoria, no final do ano.