Reportagem: MIL – Lisbon International Music Network [Cais do Sodré, Lisboa]

Reportagem: MIL – Lisbon International Music Network [Cais do Sodré, Lisboa]

| Junho 23, 2017 11:48 pm

Reportagem: MIL – Lisbon International Music Network [Cais do Sodré, Lisboa]

| Junho 23, 2017 11:48 pm

No principio deste mês de junho, o Cais do Sodré recebeu a primeira edição do MIL – Lisbon International Music Network. Por aqui passaram mais de 50 nomes da música portuguesa, e várias conferências para os profissionais desta área cultural em Portugal. Em relação ao festival propriamente dito, estivemos presentes nos concertos para relatar o que se passou.
O dia de abertura do MIL chegou depois de uma tarde cheia de conferências, com a noite a abarrotar completamente de concertos. Fomos abençoados pelo bom tempo, a temperatura era ideal para se passear pelo Cais. Os grupos de amigos conviviam, felizes e a sorrir, o que nos faz lembrar de todas as coisas que a música traz de bom a este mundo perdido.




Dia 1

Começamos as festividades desta noite no Sabotage Club. Quando chegamos lá, o recinto ainda estava vazio, isto porque os concertos começavam cedo. Mas às 21h30 da noite, hora a que os Galgo subiram ao palco, a casa já estava praticamente lotada. Esta banda lisboeta estreou-se nos álbuns há quase um ano, com Pensar Faz Emagrecer, editado pela Blitz Records. Um disco enorme e consistente, que soa ainda melhor (muito melhor) ao vivo. Foi por aqui que a sua setlist passou, com destaque para os singles “Pivot” e “Skela”, que estiveram na origem de um moshpit pelo público mais jovem. Desde cedo que o ambiente no MIL foi, como podem ver, de grande festa. 

Logo de seguida a Galgo, vieram os também lisboetas BISPO, que mais tarde iriam tocar no Musicbox como Capitão Fausto. O que saltava logo à vista, mesmo antes do concerto começar, era o palco do Sabotage parecer demasiado pequeno para tantos instrumentos e membros desta banda. Quando eles começaram a tocar, o Cais foi inundado com a electrónica 8-bit dos BISPO, e o público respondeu o melhor que pode. Apesar deles não terem nenhum álbum, a banda lisboeta foi lançando várias músicas soltas. Como por exemplo “Cancun”, “Timeless Neon” e “Mamluks”, que foram tocadas ao vivo neste concerto. Destaques a fazer não existem nenhuns, foi tudo muito bom. Apesar de Capitão Fausto ser mais conhecido pelos portugueses, BISPO é um projeto muito especial que merece ser mais reconhecido pelas pessoas. Um grande concerto que esta banda deu no Sabotage. Enorme mesmo.

Minutos antes de BISPO acabar, tivemos de sair para ir para a fila do Musicbox, em espírito de Vodafone Mexefest. Apesar da imprensa poder entrar livremente (agora falando na primeira pessoa), eu estava com pessoas que tinham passe normal. E como não abandono os meus amigos, ou entravamos todos ou não entravamos de todo. A lotação do Musicbox já é pequena para uma banda como os Capitão Fausto, houve muitas pessoas que infelizmente perderam este concerto. Mas como nós fomos para a fila cedo, lá conseguimos entrar antes deles começarem. 

Foi às 00h30 da noite, num Musicbox completamente esgotado, que os Capitão Fausto subiram ao palco. “Morro na Praia” foi a primeira música que tocaram, como já é habitual desde que lançaram Capitão Fausto tem os Dias Contados. O público ia cantando as partes que sabia, alguns sabiam a letra toda, os outros tentavam acompanhar com sons meio estranhos. O concerto foi um bocado monótono durante os próximos minutos, para ser honesto, um bocado secante. Mas isso mudou quando tocaram “Amanha Tou Melhor”, e de seguida, a explosiva “Celebre Batalha de Formariz. Nesta última malha o ambiente mudou completamente de humor. Um moshpit naturalmente rebentou no Musicbox, com os seguranças a fazer de tudo para o impedir, o que de nada serviu. As próximas músicas foram todas neste espírito, como os antigos Capitão Fausto nos habituaram. “Verdade” e “Tem De Ser” foram as últimas músicas de um concerto que começou monótono, e acabou num crescendo.

Depois disto a maior parte das pessoas foi para casa, devido a ser tarde e no próximo dia ainda haver mais. Como eu sou da Margem Sul, tive de ficar à espera às 5h40 pelo primeiro cacilheiro. Mas tanto eu como a minha companhia não fomos obrigados, podíamos ter ido embora depois de Capitão Fausto, mas havia uma última coisa a fazer. Não íamos embora sem ver o DJ Firmeza.

O B’Leza estava quase vazio infelizmente. A maior parte dos resistentes deixaram-se estar pelo Musicbox depois de Capitão Fausto, nem sabiam eles o que estavam prestes a perder. O DJ Firmeza faz parte do império electrónico da Príncipe, um império cada vez maior não só em Portugal como na Europa inteira, onde produtores como DJ Marfox, DJ Nigga Fox e DJ Nervoso têm vindo a crescer exponencialmente. Quando este set começou, as poucas pessoas que estavam no B’Leza levantaram-se para dançar intensivamente. Os ritmos africanos electrónicos a que a Príncipe nos habituou, aqui pelas mãos do DJ Firmeza, a ser um exemplo do que um perfeito after pode ser. Um dos pontos altos do festival foi o remix de Zeca Afonso pelo Camarada Firmeza, a nossa “Grândola Vila Morena”, um momento inesperado mas muitíssimo festejado. A noite que acabou em grande no B’Leza. Depois disto, foi esperar pelo primeiro cacilheiro.

Dia 2

A tarde deste segundo dia decorreu de forma semelhante ao primeiro. À noite tudo estava igual, a temperatura e as mesmas pessoas sorridentes juntas para mais um dia de festa. A nossa noite começou novamente no Sabotage Club, às 21h30, desta vez para ver The Sunflowers. O duo portuense andou pela Europa a apresentar o seu primeiro LP, The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy, editado no ano passado pelo Cão da Garagem. O concerto foi como costumam ser os Sunflowers, uma explosão de distorção e reverb, que de certeza fez mexer os pratos no restaurante acima do Sabotage. A setlist andou por volta do álbum, “Charlie Don’t Surf” e “Mountain” foram algumas das músicas que eles nos apresentaram aqui. O ambiente neste segundo dia do MIL era um bocado mais cansado, por causa da noite anterior, mas ainda assim o Sabotage esteve bem composto para ver os “girassóis“.

Depois deste concerto fomos para a fila do Musicbox, Linda Martini era o que se seguia nesta noite. Mas infelizmente, e falando outra vez na primeira pessoa, os meus amigos não conseguiram entrar. E como também não ia ver o concerto sozinho, fomos passear pelo Bairro Alto. Ficou assim concluída esta primeira edição do MIL para nós. Uma estreia bem-sucedida para a dimensão que foi este festival. Agora é esperar pelo próximo ano. Adeus e até abril de 2018.



Texto: Tiago Farinha
Fotografias cedidas pelo MIL
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