Igorrr
Savage Sinusoid

| Junho 28, 2017 2:30 pm
Savage Sinusoid // Metal Blade Records // junho de 2017
9.0/10

Ao quinto disco de estúdio os Igorrr apostaram numa forte campanha promocional, ao nível dos meios digitais, que teve um impacto inegável na projeção deste novo disco. Savage Sinusoid viu os seus primeiros traços serem confirmados em setembro de 2016 quando a banda tornou público que tinha quase prontos os 11 singles que compõem o álbum e mais três videoclips a caminho (ver aqui). Contudo, apesar de terem divulgado os pormenores do disco antecipadamente, o primeiro single de avanço, “ieuD”, só chegou a público em abril de 2017. Lançado em formato audiovisual, “ieuD” começava por mostrar um Gautier Serre interessado em apostar num design de comunicação externo à música, que envolvesse o espetador ao nível visual e projetasse o conceito deste Savage Sinusoid.



Savage Sinusoid começou a ser gravado em fevereiro de 2014. Estes três anos de espera são justificados nas três partes da curta “The Making of Savage Sinusoid”, disponíveis no canal do Youtube da banda. Estas três fases retratam, audiovisualmente, o processo de gravação e esforço colaborativo dos membros envolvidos neste trabalho, expondo os inúmeros instrumentos e ferramentas que foram utilizados na sua produção – desde o cravo, sitar, saxofone, acordeão, 8bits – e obviamente os arranjos e mistura de Gautier Serre, o mentor dos Igorrr. A maioria dos músicos envolvidos na gravação do álbum – além dos vocalistas Laure Le Prunenec (Rïcïnn) e Laurent Lunoir (Öxxö Xööx) – faz parte de outros projetos paralelos, nomeadamente Corpo-Mente, os próprios Öxxö Xööx e Pryapisme (Nils Cheville e Antony Miranda). As fórmulas aplicadas nos díspares projetos colidem neste novo Savage Sinusoid, criando uma coesão sonora e certeira com a mesa de mistura de Gautier Serre. A qualidade da produção está à vista.



Este novo disco dá sucessão a Hallelujah(2012) e Maigre(2014), EP colaborativo com Ruby My Dear e mostra uma clara evolução e progresso ao nível da composição, produção e obviamente promoção, com destaque enorme para os vídeos de “ieuD” e “Opus Brain”. Se já em “ieuD” os ouvintes tinham sido surpreendidos com algumas alterações a níveis da composição, “Opus Brain” vem demonstrar que os Igorrr estão claramente num patamar acima do que já alguma vez estiveram, aplicando algumas fórmulas de trabalhos anteriores, mas incluindo novos instrumentos, escalas e ritmos, o que resulta num álbum com um valor aumentado ao produto final e para o próprio ouvinte.

A inventividade e criatividade sempre foram adjetivos que pautaram na carreira dos Igorrr e obviamente de Gautier Serre, como produtor. Resultado da junção de músicos brilhantes, este Savage Sinusoid reflete essa genialidade como ninguém o poderia fazer. O disco explora estilos musicais completamente díspares e consegue levar o ouvinte a sentir raiva, frustração, ansiedade (por exemplo “Viande”, “Apopathodiaphulatophobie” e “Va te foutre”), mas igualmente nostalgia e contemplatividade e motivação, a ouvir, por exemplo, nos dois grandes singles destaque deste disco – “Problème d’émotion” e “Au Revoir”. E claro, sem nunca esquecer o breakcore, audível em “Robert”. O melhor de Savage Sinusoid é que todas as faixas que o compõem conseguem levar o ouvinte a sentir qualquer tipo de emoção, pelas dimensões instrumentais exploradas, acabando por funcionar também como uma descoberta intrapessoal. 

Savage Sinusoid é um disco com um posicionamento completamente distinto dos anteriores trabalhos dos Igorrr, mas igualmente dos trabalhos que neste primeiro semestre de 2017 foram lançados. Com isto, é sem margem de dúvidas um dos discos candidatos ao pódio dos melhores do ano. Toda a composição do álbum encaixa na perfeição, apesar da sua disparidade sonora extremista, sendo escassos, ou até mesmo inexistentes, os defeitos a apontar. Ao apostar numa campanha de enorme envolvimento entre banda e consumidores, essencialmente notória  no processo de making off, a pré-promoção do disco acresceu-lhe um valor aumentado e distinção inegáveis perante os anteriores trabalhos e concorrência. O resultado é incontestavelmente bom; não para todos, mas certamente para os ouvidos mais avant-garde.


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