Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 12 a 16 de agosto

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 12 a 16 de agosto

| Agosto 23, 2017 9:33 pm

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 12 a 16 de agosto

| Agosto 23, 2017 9:33 pm

Este ano foi marcado pela 25ª edição do Paredes de Coura, que contou com um dos melhores cartazes das mais recentes edições do festival e os passes gerais esgotados. Tal como é habitual nos últimos anos, a festa começou na vila, que recebeu desta vez 4 dias de concertos.


Sobe à Vila

Os primeiros concertos foram dia 12 na Caixa da Música. Infelizmente, apenas conseguimos assistir ao final do set de Mister Teaser. Antes dele tocaram Eden Lewis II e, mais tarde, os The Sunflowers, para uma sala cheia. No centro da vila havia bom ambiente e o local era ocupado por locais e pessoas que vieram pelo festival. Os carrosséis e barracas das festas regionais ainda ocupavam grande parte do espaço e lá permaneceram nos dias seguintes.

Dia 13 os concertos mudaram-se para o palco exterior, e quem a ele subiu foram Nice Weather For Ducks, Serushiô e DJ Mosca. Os primeiros são uma banda de Leiria cujo nome vem de uma música dos Lemon Jelly. O seu som tem características de pós-rock, com as guitarras etéreas a misturarem-se e interligarem-se em várias músicas, mas é mais virado para o pop. Infelizmente, muitas das suas músicas não convenceram. Quem não tiver um grande interesse na banda pode facilmente encontrar uma grande repetição entre e dentro de várias delas. Várias das músicas esgotam as ideias nelas presentes e continuam a repeti-las quando já deviam ter sido largadas. Isto sentiu-se muito no concerto, que durante grande parte foi monótono. O estilo de canto característico da banda também não ajudou, pois pareceu não beneficiar certas músicas. Houve, no entanto, alguns bons momentos, especialmente no início, quando a repetição ainda não se começava a sentir.

O equilíbrio do som, importante para uma banda destas soar o melhor possível, também não estava perfeito. Apesar de tudo isto, a banda mostrou-se energética e comunicativa com o público e a sua performance deve ter agradado os seus fãs.

Seguiu-se uma banda que conheço melhor e que já vi ao vivo várias vezes. Os Serushiô são um duo de blues rock do Porto que se apresentou em Paredes de Coura com um membro extra em palco. Habitualmente, é o guitarrista Zé Vieira que toca a percussão, mas desta vez a banda foi acompanhada pelo baterista Edys da Silva (dos Bang Bang Romance). Tal como no concerto que deram no palco Jazz na Relva em 2015, o público aderiu bastante e esteve muito animado. Foi um bom concerto, apesar de não ter sido tão marcante como o de há dois anos. Ouviram-se músicas novas, do álbum Groove Lee, e várias já conhecidas pelos fãs. Enquanto que as novas músicas não foram, no geral, tão boas como as restantes, algumas destas últimas, como “Walking Man” e “Bluesman of This Town”, originaram muito bons momentos. A banda foi bem recebida e até houve encore.

No dia seguinte voltou a não faltar rock, e os Stone Dead abriram um palco com um dos melhores dois concertos a que assisti na vila. Uma das melhores bandas do género em Portugal apresentou o seu novo álbum, Good Boys, e não desiludiu. Não faltaram malhas com bons riffs e diversos momentos intensos que o público aproveitou para fazer mosh. Só tive pena de não terem tocado algumas das minhas preferidas de The Stone John Experience, EP de 2014.

Pouco vimos do concerto seguinte, dos The Twist Connection. Foi mais uma dose de rock, mas pareceu estar longe da qualidade do concerto anterior. A fechar o palco esteve DJ Sininho.
Dia 15 perdemos o concerto de Alek Rein, mas chegamos a tempo de ver o grande Conjunto Corona, que deu o melhor e mais divertido concerto a que assistimos na vila. Fizeram o público gritar por Gondomar e cantar os parabéns a um dos membros, com bolo incluído, ofereceram hidromel às primeiras filas e tiveram uma excelente presença em palco. Não faltaram boas músicas que puseram o público a cantar, como “Chino no Olho”, “Já Não és o Meu Dealer” e “Mafiando Bairro Adentro”. O grupo do Porto está claramente em ascensão e provou ser um dos melhores grupos de hip hop em Portugal. Têm bom sentido de humor, letras que merecem ser citadas e deram tudo em palco. Depois destes bons momentos ainda houve tempo para o DJ Electric Shoes subir ao palco e passar hits de bandas como Blur, Franz Ferdinand, MGMT e Hot Chip.

Dia 1
Dia 16 de agosto iniciou-se o festival e abriu o recinto. Este dia, com menos concertos que os restantes, todos eles a decorrer no palco principal, serviu como um aquecimento para os dias seguintes. O cartaz foi composto por Escola do Rock, The Wedding Present (que tocaram o álbum George Best), Mão Morta (a celebrar os 25 anos de Mutantes S.21), BEAK>, Future Islands e Kate Tempest.

The Wedding Present

Antes desses concertos, os The Wedding Present participaram na primeira Vodafone Music Session do ano, com um concerto à tarde em cima dos balneários do Palco Jazz na Relva. Fomos lá espreitar o concerto e o indie rock da banda não nos cativou muito. Não deixa, no entanto, de ter sido uma boa oportunidade para os seus fãs os ouvirem mais que uma vez no mesmo dia, e foi uma maneira de haver música na zona do rio um dia antes das sessões Jazz na Relva começarem. Esse palco foi, nos dias anteriores, aproveitado para sessões de cinema, que incluíram a exibição do filme São Jorge, e conversas com uma atriz e dois realizadores, um deles Peter Webber.

Chegamos ao recinto a tempo do concerto dos Mão Morta. Eu, que ouvi o álbum Mutantes S.21 pela primeira vez recentemente e fiquei um bocado desiludido, não estava à espera de um grande concerto, mas este superou as minhas expectativas, surpreendeu-me e deixou-me muito satisfeito. A banda começou o espetáculo, no qual tocaram o álbum com as músicas ordenadas de maneira diferente da tracklist original, com uma introdução atmosférica repleta de distorção. Avançaram depois para “Marraquexe”. Longe de ser um dos pontos altos de Mutantes S.21 e prejudicada pelo mau equilíbrio do som que tornou a letra incompreensível, esta música não foi um bom começo. Os problemas de som foram depois dela corrigidos e as canções seguintes não sofreram problemas iguais. A segunda música foi “Até Cair”, um desvio do Mutantes S.21 no qual o ambiente começou a acelerar com a sonoridade mais pós-punk e as melhores transições entre secções.

Mão Morta

A viagem continuou com “Paris”, que originou headbangings pelo público, enquanto que “Istambul” trouxe um som mais hipnótico, com percussão eletrónica, um som de guitarra envolvente e spoken word. “Velocidade Escaldante” foi mais um desvio que encaixou muito bem no alinhamento e um dos destaques do concerto. Cantaram-se depois os parabéns ao Paredes de Coura, mesmo antes de se ouvir o grande hit “Budapeste”, uma das melhores e mais marcantes canções dos Mão Morta.

A banda continuou com músicas como “Berlim”, “Amesterdão” (claramente melhor ao vivo do que em estúdio), “Lisboa”, a última de Mutantes S.21 a ser tocada, e “Bófia”, que fechou o concerto. Adolfo Luxúria Canibal, com a sua atitude e os seus movimentos muito próprios, captou a atenção do público e teve uma boa performance, tal como o resto da banda, ao longo do concerto. Mostrou ser um excelente vocalista e contador de histórias, que ganham vida com a sua expressividade corporal e vocal. As imagens projetadas, a combinar com as músicas, foram também muito boas.

BEAK>

Os BEAK>, estranhamente, foram a banda seguinte. O trio de krautrock, que conta com a participação de Geoff Barrow (Portishead) e Billy Fuller (Robert Plant), não é tão bom como teoricamente poderia ser, tendo em conta os membros integrantes. As composições repetitivas não são suficientemente cativantes para manter o interesse e as músicas são, no geral, aborrecidas. Por vezes sentiu-se a falta de graves, e algumas vezes, quando as músicas pareciam estar a transformar-se em algo melhor, acabavam. A maior parte delas pareciam simplesmente a base de algo mais, dando a sensação de estarem inacabadas. A banda comunicou com o público, mas este reagiu pouco. A maior reacção ocorreu quando foram tocados durante segundos riffs de Pink Floyd e Dire Straits. Foi neste concerto que senti pela primeira vez nesta edição o chato fenómeno de estrangeiros a falar demasiado alto, incomodando quem os rodeia. Neste caso até foi compreensível. Um concerto aborrecido de uma banda que tocou no palco errado à hora errada.

Future Islands

À meia-noite e meia foi a vez dos Future Islands apresentarem o seu novo álbum, The Far Field. A banda desiludiu com um concerto que começou bem, com “Ran” e “A Dream of You and Me”, mas rapidamente desceu de qualidade. Enquanto que as melhores músicas da banda são viciantes e orelhudas, com excelentes linhas de baixo, as piores são um synth pop genérico que rapidamente fica desinteressante e indistinguível de tudo o resto que há no género. A setlist do concerto teve muitas destas últimas músicas e foi por isso bastante repetitivo. Infelizmente, o novo álbum não está ao nível do anterior, Singles, e uma vinda da banda a Paredes de Coura seria certamente melhor em 2014. Até o maior hit da banda, “Seasons (Waiting on You)”, não conseguiu agradar-me completamente, pois quando foi tocado já não era fácil ter a disposição que se tem no início do concerto para ouvir a banda.

Sam Herring, vocalista, mexeu-se muito e os seus típicos gestos e danças não faltaram. Por vezes podem ser exageradamente teatrais, mas não deixam de ser algo de novo que não se pode experimentar ao simplesmente ouvir as músicas em estúdio. O pior foi o trabalho vocal que deixou muito a desejar, com a dicção a ser extremamente fraca. Para além disso, os gritos guturais de Sam Herring nem sempre resultaram. O trabalho do baixista também não foi perfeito. Cometeu um par de erros, mas nada de grave. 

O concerto foi pouco dinâmico, desiludiu-me e deixou-me quase indiferente. A maior parte do público demonstrou, no entanto, estar satisfeita, tal como a banda. Diria que é uma banda cujos concertos podem agradar aos seus maiores fãs, mas que não vão conquistar os menos interessados. Foi o culminar do primeiro e pior dia desta edição do festival, pois nos dias seguintes não faltaram belos concertos para diferentes gostos a mostrar a qualidade do cartaz.

Reportagem por: Rui Santos
Fotografia por: Hugo Lima
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