Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto

| Agosto 25, 2017 3:17 pm

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto

| Agosto 25, 2017 3:17 pm
Sunflower Bean



17 de agosto foi o segundo dia do festival e o primeiro a ter dois palcos ativos. Também foi o dia no qual começaram os concertos no palco Jazz na Relva. Após uma sessão Vodafone Vozes da Escrita com Tomás Wallenstein (Capitão Fausto) e a sua irmã Catarina, ouviu-se o jazz dos Uma Coisa em Forma de Assim, que serviu como boa música de fundo para o início da tarde. Tocou depois Captain Boy.



Os primeiros a serem ouvidos no recinto foram os Sunflower Bean, que abriram o palco secundário. O trio americano, que lançou o seu álbum de estreia o ano passado, apresentou um indie rock/pop agradável, apesar de pouco original. A voz principal foi dividida entre a baixista Julia Cumming e o guitarrista Nick Kivlen. A setlist incluiu músicas novas e houve um bom equilíbrio entre canções mais e menos intensas. Enquanto o concerto se aproximava do fim começaram a tocar no outro palco os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown, que, como sempre, corresponderam às expectativas. São uma das bandas portuguesas mais interessantes da atualidade e parecem ter dado um bom concerto, que não conseguimos ver na totalidade. Entre duas músicas falaram sobre o festival e sobre terem estado, muito novos, no lado do público. Desta vez estiveram, merecidamente, em cima do palco.


Os segundos a tocar no palco secundário foram os Nothing, quarteto americano de shoegaze que trouxe consigo o muito bom álbum Tired of Tomorrow. A banda tocou músicas como “A.C.D. (Abcessive Compulsive Disorder)”, “Vertigo Flowers” e “Eaten by Worms”, a penúltima da setlist, durante a qual Domenic Palermo saltou do palco e foi ter com o público. Foi mais um bom concerto, apesar de não ter estado ao nível da vinda da banda à Cave 45, no Porto. Perdemos a última música para mudar novamente de palco e assistir ao regresso dos Car Seat Headrest ao nosso país.


Car Seat Headrest



Podem já ter lançado mais de 10 discos, mas os Car Seat Headrest são uma banda jovem. Não é por isso que deixam de ser um dos melhores nomes do indie rock do século XXI. O projeto, iniciado a solo por Will Toledo, originou um dos melhores álbuns do ano passado, Teens of Denial. A banda usou samples em várias músicas e focou-se principalmente no seu último álbum. Começou o concerto com “Vincent” e tocou, entre outras, “Fill in the Blank”, “(Joe Gets Kicked Out of School for Using) Drugs With Friends (But Says This Isn’t a Problem)” (cuja secção final é sempre excelente) e a espetacular “Drunk Drivers/Killer Whales”. Isto não foi o suficiente para o concerto corresponder às expetativas que tinha após os ter visto o ano passado, no Primavera Sound. Enquanto que esse concerto teve um público dedicado a cantar mais do que a banda, impressionada, esperava, este teve mosh desnecessário, uma performance que podia ser melhor e uma setlist no qual as músicas mais fracas eram claramente muito inferiores às outras. No entanto a verdade é que, apesar disto, os melhores momentos fizeram o concerto valer a pena. O baterista também ficou contente, dizendo que Portugal é o país com o melhor público.


Perdemos os Timber Timbre e a sua “Hot Dreams” e ficamos no palco principal à espera de King Krule, mais um jovem artista ao qual não falta qualidade. Ainda não tinha 23 anos quando veio a Paredes de Coura, mas já há 5 anos tinha passado por Portugal, no Vodafone Mexefest. Tocou músicas novas e também algumas das suas melhores e mais conhecidas, como “Out Getting Ribs”, “Easy Easy”, “Baby Blue” e “Rock Bottom”. É um dos melhores e mais criativos cantautores da música alternativa atual e a acompanhá-lo esteve uma excelente banda, que fez um trabalho excecional. Não posso deixar de destacar o baixista e o incrível baterista, que foram mesmo impressionantes do início ao fim. Pelo meio houve problemas com uma guitarra, mas nada com o qual a banda não conseguisse lidar. A música continuou durante um bocado sem ela e o guitarrista juntou-se imediatamente quando o problema foi resolvido . O próprio Archie Marshall também esteve ao nível do resto da banda e a sua voz grave muito própria soou tão bem ao vivo como nas gravações em estúdio.


King Krule



Foi um dos melhores concertos do festival e até teve direito a um encore. O único ponto negativo foi parte do público que, tal como em muitas outras ocasiões neste festival, fez mosh quando simplesmente não fazia sentido e incomodou quem estava à sua volta. As condições do festival também não eram propícias a isso, porque bastavam alguns segundos de maior animação para se levantar muito pó, que tornava a respiração difícil. Faltou um tapete a cobrir a terra.


Passamos depois pelo concerto dos Ho99o9, um grupo de hip hop com uma sonoridade muito agressiva e intensa do qual eu não era fã. Quando fui pesquisar as suas músicas,  após ter lido várias comparações entre eles e os Death Grips, não os achei muito parecidos aos autores de Exmillitary nem tão bons. As três ou quatro músicas que ouvi deles em Paredes de Coura sim, fizeram-me lembrar Death Grips. Não soaram demasiado parecidos, mas passei a achar as comparações legítimas, especialmente pela agressividade e pela bateria, usada de maneira semelhante, mas sem o som cru de Zach Hill. A energia estava no topo, dentro e fora do palco, e isso era sentido mesmo nas filas mais atrás. As músicas eram pesadas e não pareceu haver tempo para pausas. Mais tarde, quando já não estávamos perto do palco, ouvia-se vindo dele “Every Nigger is a Star”, de Boris Gardiner.


At the Drive-In



Um dos maiores nomes do cartaz deste dia foi o dos At the Drive-In, mestres do pós-hardcore reunidos pela segunda vez em 2015. A banda de Cedric Bixler e Omar Rodríguez mostrou estar ainda em boa forma e tocaram malha atrás de malha. Quase toda a setlist foi composta por músicas do novo álbum, in•ter a•li•a (como “Hostage Stamps” e “No Wolf Like the Present”), e do mais conhecido e conceituado Relationship of Command (como “Arcarsenal” e “Pattern Against User), mas também se ouviu “Napoleon Solo”, de In/Casino/Out. A última a ser tocada foi a que é possivelmente a melhor da banda, “One Armed Scissor”. Ficou a faltar a excelente “Invalid Litter Dept.”. Cedric saltou para cima da bateria e de amplificadores, as guitarras soaram frenéticas e foram sempre apoiadas pela sólida secção rítmica, que servia de base e não deixava os riffs e solos perderem sentido. Os At the Drive-In sempre estiveram entre os melhores artistas do género e trouxeram ao festival uma muito necessária dose de rock.


Nick Murphy, antes conhecido por Chet Faker, já tocou várias vezes em Lisboa e estreou-se no norte do país como o nome mais mainstream do cartaz do Paredes de Coura. O seu concerto teve alguns bons momentos dançáveis e “Talk is Cheap” é um bom single, mas foi um dos mais desinteressantes do festival e rapidamente se tornou aborrecido. Não foram precisas poucas músicas para eu perder a atenção. Destacou-se pela negativa uma música com uma sonoridade entre o folk e o pop que foi possivelmente a pior que ouvi ao longo de todo o festival. Por muito famoso que se esteja a tornar, Nick Murphy não tem qualidade para merecer o estatuto de cabeça de cartaz num festival desta dimensão e qualidade.


Jambinai



O After Hours começou com o pós-rock sul coreano dos Jambinai. Apesar de ter estado num mau local da plateia, onde o público menos interessado falou por cima dos momentos mais calmos, consegui apreciar a maior parte do concerto. Enquanto que a sonoridade da banda não é muito original, recorrendo aos típicos crescendos usados no género e a secções mais pesadas com características de metal, a selecção de instrumentos é bastante exótica. A banda aproveita instrumentos coreanos como o haegeum, o taepyeongso e o geomungo para trazer sons diferentes do habitual à sua música. É interessante vê-los a ser tocados e nota-se que são um ingrediente especial que traz algo de diferente e mais criativo ao pós-rock da banda. O ponto mais alto do concerto foi a última música, “Connection”, sem dúvida a mais bonita e impressionante. Marvin & Guy fecharam a noite para quem ficou até mais tarde.


Reportagem por: Rui Santos
Fotografia por: Hugo Lima
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