Reportagem: Semibreve – Dia 2

Reportagem: Semibreve – Dia 2

| Novembro 1, 2017 7:25 pm

Reportagem: Semibreve – Dia 2

| Novembro 1, 2017 7:25 pm
©Adriano Ferreira Borges



O segundo dia desta
sétima edição do Semibreve ficou
marcado pela tormenta trazida por Fis
e Deathprod, que pintaram de negro o
grande auditório do Theatro Circo com duas atuações feitas de extremos, mas
antes fez-se luz na Capela Imaculada do Seminário Menor com uma performance
única de Steve Hauschildt. À
semelhança de Christina Vantzou em
2016, o ex-Emeralds apresentou-se no
mesmo espaço para uma performance angelical e marcante, uma demonstração
sublime das capacidades de Steve
como mestre exímio na execução de paisagens gélidas e delicadas em finas
camadas de sintetizadores digitais. A introspeção reinou nesta belíssima
experiência, que mais uma vez recebeu o público do festival e não só com uma
atuação a portas abertas e de entrada gratuita. A convivência feliz entre a
arquitetura moderna da capela com as composições visionárias de Steve Haushildt resultaram
particularmente bem e proporcionaram um início de tarde magnífico cheio de
apontamentos subtis. Com Strands  ainda fresco, foi possível experienciar ao
vivo as bonitas atmosferas de temas como “Time We Have”, ouvido já bem perto do
fim do concerto e a realçar o lado mais etéreo e celestial do concerto.
 


A tormenta seguia-se
no Theatro Circo com o furacão kiwi Fis a trazer o lado mais negro e denso
ao festival. Acompanhado por uma interessante componente visual, onde se
avistavam texturas e cenários marítimos sempre em tons enegrecidos, Fis e Jovan Vucinic (o homem por trás da vertente audiovisual do
espetáculo) apresentaram uma boa dinâmica entre som e imagem, com as tenebrosas
paredes sonoras de Fis a encaixarem na perfeição com o trabalho de Vucinic. No entanto, o jogo entre
silêncios e sons abruptos e gritantes nem sempre entusiasmou. A procura por uma
experiência violenta e visceral tornou-se previsível, repetitiva, as
composições nunca chegaram a desenvolver-se totalmente ignorando qualquer tipo
de melodia. É certo que não assistíamos a uma atuação “normal”, e o objetivo
não seria com certeza agradar o público, mas a sua atuação fez-se apenas a dois
tons, sem intermédios ou meio termos, apenas caos e revolta, como que
relâmpagos em alto mar em dia de tempestade.

A procura por uma
experiência densa e poderosa seria bem mais conseguida com o concerto que se seguiu.
Numa das raras oportunidades de ver Deathprod
ao vivo, o músico sediado em Oslo apresentou-se pela primeira vez em Portugal
para uma das mais marcantes atuações desta edição. Sob um fino raio de luz azul
e acompanhado por uma atmosfera austera e nebulosa, Helge Sten proporcionou uma
intensa experiência onde o silêncio desempenhou um papel crucial na sua
performance. Os drones atmosféricos e
industriais que executa colocam-nos num estado tal de concentração que tudo o
que se segue é de uma imprevisibilidade absurda. Seguem-se autênticos trovões
após silêncios que nos servem como aviso para algo que se aproxima, como que um
alarme para o perigo que se avista. O perigo, esse, materializa-se numa
descarga sonora descomunal e abrasiva que nos atormenta e fascina. A parede
sonora branca envolta numa nebulosidade densa previa o fim da atuação,
ouvindo-se finalmente o silêncio em estado prolongado e interrompido apenas por
uma merecida ovação por parte do público, abismado e grato por uma das mais
avassaladoras experiências desta edição.




A intensidade destas duas densas atuações exigia uma pequena pausa, mas seguimos de imediato para o auditório pequeno para assistir à
performance de Blessed Initiative,
que deu continuidade ao tom enegrecido deste segundo dia. O projeto de Yair
Elazar Glotman trouxe, à semelhança de Deathprod, um cenário austero e simples,
envolto apenas num raio subtil vermelho que contornava a figura do produtor
sediado em Berlim. O seu set foi
simples e bem estruturado, procurando um equilíbrio entre graves techno e melodias ambient com boas doses de experimentalismo e atmosferas
industriais. As particularidades da sala permitiram uma experiência sensorial
expansiva, com detalhes limpos a surgirem da infinidade de colunas que a sala
possui. Os ritmos repetitivos de Blessed
Initiative
exigem um tempo e concentração especial, mas assim que se entra
no esquema situámo-nos numa experiência densa e imersiva onde o tempo parece
reduzir-se para metade.
 


A noite continuou até
de madrugada no gnration com a imprevisibilidade do libanês Rabih Beaini e com o duo português Sabre.
    




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