Reportagem: Semibreve – dia 3

Reportagem: Semibreve – dia 3

| Novembro 2, 2017 4:03 pm

Reportagem: Semibreve – dia 3

| Novembro 2, 2017 4:03 pm
©Adriano Ferreira Borges


Como tem vindo a ser hábito, o último dia de Semibreve aguarda-nos apenas duas
atuações no Theatro Circo. Os concertos decorrem mais cedo e sente-se uma certa
tranquilidade no espaço, o público é notoriamente menor e a sensação de desolação começa surgir com o aproximar do fim de um evento tão especial.

Ao entrar na sala, já o palco se encontrava envolto numa
forte neblina branca, com a parafernália de Lawrence English presente em palco. As duas enormes colunas
acompanhadas de dois amplificadores previam um espetáculo intenso e vibrante, e
a obra não foi caso para menos. Antes de iniciar a sessão, English aproveitou a ocasião para dar um breve discurso, o único em
toda a edição. O seu discurso humilde e bem articulado criou uma bonita
interação entre público e artista, congratulando a organização por um excelente
fim de semana e pela oportunidade rara de assistir Deathprod ao vivo, aproveitando ainda para convidar ao palco os
participantes do seu Radical Listener,
o workshop que orientou na manhã
anterior no Mosteiro de Tibães.


Com os seus 15 “discípulos” deitados em palco e já com a
plateia chegada para a segunda metade do recinto (mais uma das sugestões de
Lawrence para um melhor experiência corporal), English iniciou então a sua arrebatadora performance. A música de English é o resultado de uma procura
exaustiva por uma experiência sensorial expansiva, desde a audição ao lado mais
físico e corporal do ouvinte, sendo que cada um ouve e sente de modo diferente,
experienciando algo único.  As fortes
vibrações que emanam das colunas fazem-se sentir por todo o espaço e de
imediato sentimos arrepios a desenvolver-se nos nossos corpos. As frequências
vibrantes das suas composições são expansivas ao ponto de se apropriarem do
próprio espaço e das pessoas, envolvendo tudo num organismo vivo, físico e
visceral.

Assim como Deathprod,
English optou por uma apresentação
austera sem necessidade de acompanhamento audiovisual, optando antes por um
jogo simples de vermelhos contrastantes e saturados, alternado ainda com uma
forte parede de strobes brancos
disparados do topo do palco. Uma apresentação sem grande aparato visual, mas
que realçou o lado físico e corporal de uma das mais densas e arrepiantes
experiências desta edição.



Valgeir Sigurðsson
foi o responsável por fechar a sétima edição do festival, uma pressão ainda
mais acentuada depois da arrebatadora experiência proporcionada por Lawrence English. A apresentação do
islandês manteve um registo semelhante ao de English, se bem que com uma abordagem mais clássica e orquestral
que o anterior. As suas composições compostas por drones melodiosos e contemplativos de tendência clássica criaram
uma interessante relação com a arquitetura do espaço, fazendo-se acompanhar
ainda de um tocador de viola de gamba. A dinâmica entre o digital e o acústico
resultou especialmente bem no contexto, conseguindo um diálogo bem sucedido
entre a visão vanguardista e experimental das composições de Sigurðsson com a vertente clássica
proporcionada pelas melodias da guitarra de gamba. Mas não foi só de beleza e
contemplação que se fez o concerto, com Sigurðsson
a surpreender através de inesperados beats explosivos e glitch capazes de estalar as colunas do espaço, sintonizados com
strobes brancos e gritantes.

Terminada a sessão, lentamente nos apercebemos que assim
chegara o fim de mais uma memorável edição por parte de um festival que se
afirma cada vez mais como uma referência, um evento que procura ultrapassar
barreiras e que estende cada vez mais o seu legado além fronteiras. Com uma
programação coesa e bem pensada, o Semibreve destaca-se como um dos principais
veículos na projeção de matérias avant-garde e exploratórias, provando que a
cultura também possui um lugar especial fora dos grandes centros.






FacebookTwitter