Cinco Discos, Cinco Críticas #32

| Dezembro 4, 2017 10:08 pm


Nesta edição do Cinco Discos, Cinco Críticas destacamos os mais recentes trabalhos de Bicep – o homónimo LP Bicep -; Jolly Cobra – com o novo EP Chronium Hawk -; Holoscene 85′ e o seu EP de estreia Surface; Stephen Wilkinson (Bibio) – que editou recentemente o LP Phantom Brickworks – e por fim os alemães Kadavar – que em setembro meteram cá para fora Rough Times. As opiniões sobre os disco seguem abaixo descritas com a disponibilização dos discos para escuta integral.



Bicep // Ninja Tune // setembro de 2017 
7.5/10 



A dupla irlandesa Bicep, composta por Andy Ferguson e Matt McBriar, apresenta-nos finalmente o seu disco de estreia, após o lançamento de vários singles e EPs desde a sua formação em 2009. Criadores do blogue Feel My Bicep (e da editora homónima) onde partilham pérolas do house, techno e disco, os irlandeses apresentam-nos 12 temas com uma base house mas repletos de influências de outras cenas e idealizados para o dance floor, como demonstrado pela sua visita a Portugal no mais recente NOS Primavera Sound
A produção impecável permite que o ambiente de cada tema seja adequadamente realçado, como em “Opal”, claramente influenciada pela cena garage do Reino Unido e a fazer lembrar Caribou, ou na cinemática e etérea “Orca”. Outros destaques incluem a batida jungle de “Glue”, “Rain”, onde a mistura de vocais indianos com uma batida house mais aguçada poderá fazer lembrar Four Tet, e ainda “Aura”, que fecha o disco com nova descarga de adrenalina através dos seus belíssimos synths
Alguns dos temas poderiam beneficiar de uma duração mais longa para uma melhor exploração das suas ideias, como “Drift”, com os seus synths carregados de tensão, e “Spring”, enquanto alguns acabam por ser tiros ao lado, como “Kites”, o mais comercial “Vale” ou o downtempo de “Ayr”. Ainda assim, Bicep é um portento de energia e um dos discos house mais refrescantes dos últimos tempos.


João Barata






Chronium Hawk // Kung Fu Ninja Records // novembro de 2017
7.0/10

Chronium Hawk é o EP mais recente dos Jolly Cobra, banda norueguesa com um apreço muito denotado pelos suspeitos do costume, isto é, os vovôs do movimento psicadélico/stoner rock Black Sabbath e Hawkwind e que faz por seguir os passos de tais bandas para criar algo próprio. O alinhamento começa com o trabalho de teclado de teor ominoso nos primeiros segundos da faixa “Chromium Hawk Pt.1”, que por sua vez dá lugar a uma mão-cheia de riffs prazerosos e solos colossais. 
A partir de “Ain’t Got Nothing”, a situação altera-se um bocado, em que o trabalho rítmico torna-se ligeiramente mais vertiginoso. “Greyhound Express” também é outro destaque, graças aos seus riffs mais fuzzy sem perder o fator frenético. “Desert Storm”, de teor ligeiramente mais dinâmico, é também bastante bonita, com o seu momento de solo mais ou menos calmito. A faixa final “Chromium Hawk Pt.2” é um fecho de registo sólido, com um momento ambiente psych a servir de acalmia depois da tempestade. Chromium Hawk, apesar de não demonstrar muitas surpresas por aí além, irá certamente revelar um bom serão aos fanáticos do género.
Rúben Leite








Surface EP // self-released // novembro de 2017 
8.0/10


Holoscene 85′ é o projeto a solo de Francisco Oliveira, músico do Porto. Após o lançamento de várias músicas desde dezembro do ano passado, chega agora o seu primeiro EP, Surface, um disco de música eletrónica que passa pelo ambiente e pelo IDM. É um lançamento curto, mas dinâmico. Em certos momentos é pouco rítmico e foca-se principalmente em criar um ambiente envolvente e atmosférico, enquanto noutros a percussão eletrónica entra em ação e torna a música quase dançável. Isto é especialmente eficaz em “Acrylic Clear” e na excelente “A Story About Light”, que com os seus diferentes sintetizadores e linha de baixo repetitiva e groovy me fez lembrar Boards of Canada. “Surface”, faixa de abertura, repleta de melodias bonitas, relaxantes e agradáveis, também se destaca como um dos melhores momentos do EP. A contrastar com ela está “Scentless Silhouette”, que fecha o disco muito bem, mas com texturas e sons mais tensos e ruidosos. 
Surface EP é composto por cinco músicas que combinam muito bem umas com as outras e originam uma experiência agradável ao longo de toda a sua duração. Apesar de haver músicas que me cativaram menos que outras, nenhuma me incomodou ou aborreceu. Não é demasiado curto nem longo e recompensa uma audição atenta com os pormenores ou sobreposições de diferentes sons existentes em certos momentos. Holoscene85′ é sem dúvida um dos nomes nacionais que mais me agradou este ano e que mais potencial tem.

Rui Santos








Phantom Brickworks // Warp Records // novembro de 2017

8.8/10



Stephen Wilkinson regressou às edições no passado mês de novembro com o surpreendente Phantom Brickworks, o nono disco sob o moniker de Bibio. Editado novamente pela conceituada Warp, Phantom Brickworks traz uma nova etapa ao produtor britânico que ao longo de mais de uma década se dedicou a um projeto frequentemente associado a sonoridades que fundem música electrónica, folk, hip-hop e rock. O mais recente trabalho de Bibio, no entanto, explora paisagens mais atmosféricas e ambiente através de loops idílicos que remetem para o trabalho de William Basinski e Yves Tumor nos temas da sua mais recente compilação. Ao longo dos seus mais de 70 minutos de duração, Phantom Brickworks consegue manter um foco bastante coeso e unificado, passeando entre temas longos cheios de detalhe e minúcia e uma produção caseira que valoriza as propriedades texturais das suas composições. Carregadas de emoção e sentimento, as paisagens que Bibio pinta carregam em si uma certa sensação de solidão, deambulando por cenários bucólicos aparentemente nebulosos e densos que exploram as memórias reais e imaginárias do produtor. Os loops agoniantes e imersivos de “Capel Celyn”, por exemplo, servem como uma pequena homenagem à vila rural galesa que em 1965 se transformou em reservatório de água, afogando a sua história de modo a fornecer água para a indústria inglesa. Memórias abandonadas que Bibio recupera e abraça em temas simples mas carregados de significado e emoção, e que fazem deste o seu melhor registo até à data.

Filipe Costa








Rough Times // Nuclear Blast Records // setembro de 2017
7.0/10



Os alemães Kadavar, ao quarto álbum, mostram que tal como as suas belas barbas não param de crescer, a sua discografia também não. Conhecidos pelas suas influências psicadélicas retro dos anos 70, em “Rough Nation” estes optam pelo peso e pela objetividade, evidente pelas músicas mais curtas e a redução dos momentos de improviso. A primeira parte do álbum é marcadamente stoner doom, com a abertura do álbum, música que partilha o nome com o disco, a ser um autêntico pontapé na cara com o baixo de Dragon sedento de fuzz e a intimidante bateria de Tiger a marcar ritmo. No entanto a atmosfera é mudada drasticamente com a chegada dos singles repletos de clichés que não funcionam tão bem como era suposto. “Die Baby Die” ou “Tribulation Nation” são um “travão de mão” para o impulso que a banda tinha formado. No entanto, para quem continuou a audição, os Kadavar guardaram umas surpresas, com o destaque, pessoal, para a balada, “You Found The Best In Me”, com influências de Neil Young e de Creedence Clearwater Revival. Apesar da mudança de som neste álbum ser bem-vinda, a inconsistência na qualidade de algumas músicas impedem que este tenha uma avaliação melhor e complica a sua disposição juntamente com os trabalhos mais memoráveis do catálogo da banda.

Hugo Geada





FacebookTwitter