Brockhampton
trilogia SATURATION

| Dezembro 22, 2017 9:45 am
SATURATION // Empire Distribution // junho de 2017 // 7.3
SATURATION II // Empire Distribution // agosto de 2017 // 8.0
SATURATION III // Empire Distribution // dezembro de 2017 // 8.5
Nesta crítica, vai-se fazer algo um pouco incomum. Falemos dos Brockhampton, um grupo de vários jovens formado em Los Angeles que anda a causar sensação no mundo do hip-hop e r&b, muito devido ao facto de apresentarem uma abordagem bastante ecléctica e espontânea ao género, e de se terem proposto a lançar três álbuns – a chamada trilogia SATURATION – ao longo deste ano. E regra geral, lançar mais que um álbum num único ano e manter a mesma qualidade geral ao mesmo tempo costuma ser algo complicado de se cumprir.


Apesar de se descreverem como “a primeira boy band da internet”, os Brockhampton são um exemplo peculiar de tal categoria. Reza a lenda de que Kevin Abstract, o líder do grupo, tinha acabado de dissolver outro grupo (AliveSinceForever) e das cinzas desse grupo, acabou por formar os Brockhampton com vários novos membros – rappers, cantores, produtores e até criativos que trabalham noutras frentes – alguns deles recrutados em fóruns de fãs do Kanye West. Quanto ao ADN do grupo em si… pense-se em West e em Odd Future, ou mais especificamente, no espírito aventureiro de experimentação DIY com o género, o ocasional flirt com sensibilidades pop, e o facto de nunca perderem a alma e divertirem-se a fazer o que bem sabem fazer.


Antes de fazer um breakdown das faixas mais fortes do alinhamento de cada álbum, é bom estipular o facto de eles terem uma espécie de template em comum, em que parte do alinhamento é composta de um lado mais enérgico e a outra parte é composta por um lado mais emotivo – ambas as facetas também se interligam em certas faixas – além de terem um punhado de interlúdios para dar azo à natureza conceptual da trilogia, abordando temas de camaradagem, jornadas de desenvolvimento pessoal, e assuntos sociais como o racismo, a xenofobia, etc., proferidos em versos com uma confiança de gente grande e o coração no lado certo. Outra coisa a estipular é a habilidade por detrás da produção, pois mesmo as faixas que deviam colidir em termos de dinâmica, mood, etc.., arranjam maneira de soar coesas. Posto isto…


Comecemos pelo primeiro álbum, lançado em Junho. SATURATION começa com “HEAT”, uma faixa harsh q.b., em termos de produção e letra, e um dos claros destaques. “GOLD” é bem vivaço, a usar imagery habitual do hip-hop (imensas referências a gold chains para representar a confiança e a procura pelo respeito merecido por parte de Kevin). Outra faixa forte é “FAKE”, que é das faixas mais chillout deste alinhamento. “BUMP” é uma faixa que contrasta consigo mesma com uns beats fortes a dar lugar a um trabalho de guitarra sombria breve de vez a vez pela faixa toda. “SWIM” é um tune R&B com o cliché habitual do uso de autotune a funcionar a favor do grupo, tornando a faixa aprazível. “CASH” tem um instrumental meio gritty, batendo certo com a letra a abordar a vida nos guetos; “BANK” dá ênfase à fase de transição do grupo para a Califórnia com um instrumental mais rítmico. É um bom esforço no geral, mas salvo uma ou outra exceção, os pontos fortes deste álbum empalidecem em comparação com o resto da trilogia, revelando ser o elo mais fraco.

A seguir, há a segunda parte da trilogia, lançada em Agosto. Tal como no primeiro álbum, SATURATION II tem um início sólido em “GUMMY”. “JUNKY” é também meritório de desfilar entre os pontos fortes, com todos os membros a descreverem o seu background, as suas agruras a enfrentar a vida. “QUEER” pega no significado original da palavra (i.e.: “estranho”) e refere às peculiaridades de cada membro. “SWAMP” aborda temas desde a ascensão da banda até a mais uns dissabores que alguns no grupo sofreram (insucesso escolar, relações mal amanhadas). “TOKYO”, que retrata os vários arrependimentos e preocupações que perseguem o grupo, começa com um falseto bonitinho e dá lugar a uns versos impecáveis. “SUNNY” reflete algumas das dificuldades porque o grupo passou com uma guitarra de fundo mais animadora a servir de contraste, dando a entender que, apesar de tudo, valeu a pena. “SUMMER” é um final satisfatório, com uma aura melancólica, dando primazia à tendência para o espectro R&B que a banda revela aqui e ali. Aqui já se revelam algumas melhorias em comparação com o primeiro álbum, o que é impressionante tendo em conta o espaço de tempo entre os dois registos.

Por fim, SATURATION III, lançado agora em Dezembro. “BOOGIE” é um tremendo início de álbum, com o instrumental impetuoso e festivo; “ZIPPER” continua essa onda mais enérgica, se bem que mais controlada em comparação; “BLEACH” deve ser das melhores faixas do grupo, com o feature do amigo da banda Ryan Beatty a dar um bocado da sua alma ao refrão; “JOHNNY” é bem smooth no geral, a abordar mais sobre a vida do grupo em conjunto; “ALASKA” aborda mudanças da vida, mais especificamente circunstâncias em que andaram em trabalhos mundanos e eventualmente deixaram isso para trás e tornaram-se célebres de certa maneira; “HOTTIE” aborda a azáfama de viver no geral, e de como é bom ter amizades para esquecer a tal azáfama por uns instantes; “SISTER/NATION” é qualquer coisa também, com a primeira parte da faixa a ser frenética e a fazer uma transição para a segunda parte, com traços mais cloudy. “RENTAL” é ainda outra faixa a revelar a costela mais R&B do grupo. “TEAM” é a faixa que fecha o alinhamento, começando com um registo mais sappy – se bem que ainda aprazível – sobre um amor não correspondido… que eventualmente faz uma transição a uma mão cheia de críticas sociais com mudança radical de instrumental a acompanhar, e que acaba com os primeiros segundos de “HEAT”, formando um loop entre a trilogia toda. Este álbum revela-se como o ponto alto entre os três álbuns todos, em que o grupo já usa melhor os seus pontos fortes individuais.

Apesar de haver algum desgaste devido à quantidade de faixas (quarenta e oito faixas ao todo!) e de revelarem ter um hábito ocasional de abordarem dois ou mais temas, estes álbuns são uma prova irrefutável da versatilidade e da autenticidade destes marmanjos. Já com uma legião de fãs considerável, estes rapazes terão então uma clara margem de crescimento dentro da cena do género, portanto é esperar e ver o que eles terão em mente para o futuro. Provavelmente a espera não irá durar muito, uma vez que eles já têm um registo agendado para o próximo ano, intitulado Team Effort.

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