Birds Are Indie em entrevista: “A nossa postura descontraída reflete-se nas músicas”

Birds Are Indie em entrevista: “A nossa postura descontraída reflete-se nas músicas”

| Maio 6, 2018 5:34 pm

Birds Are Indie em entrevista: “A nossa postura descontraída reflete-se nas músicas”

| Maio 6, 2018 5:34 pm
Bruno Pires ©

Os conimbricences Birds Are Indie são Joana Corker, Ricardo Jerónimo e Henrique Toscano e em 2018 regressaram com um novo álbum. Gravado nos Blues House Studios,  Local Affairs chegou às lojas no passado dia 20 de abril com o selo da também conimbricense Lux Records. Em baixo podem ler a nossa conversa com a banda e João “Jorri” Silva (a Jigsaw, The Parkinsons), que aconteceu numa tarde bem quente de abril na cidade de Lisboa.


Do vosso ponto de vista, perspetivas e ideologias, quem são os Birds Are Indie?

Ricardo – Somos 3 pessoas com a liberdade mais próxima possível dos pássaros. Tentamos enquanto músicos ter a máxima liberdade que os passarocos lá em cima têm.

Henrique – E viver uma vida decente, tranquila, ser amigo do meu amigo.

Joana – Ser honesto, trabalhador (risos).

Que sentimentos é que acham que a vossa música desperta? Neste último disco as músicas são simples e alegres, indicadas para uma altura de primavera e verão.

Ricardo – Acho que desde início a nossa postura descontraída se reflete nas músicas. Não necessariamente divertida, no sentido de sermos demasiado galhofeiros ou de esperarmos que o objetivo da nossa música seja as pessoas divertirem-se.

Henrique – Há letras negras.

Ricardo – Há coisas que até estão disfarçadas. Às vezes há ali um agridoce meio termo com um aparente divertimento, mas com uma certa ironia que tem sempre aquele outro lado. A descontração está sempre presente, seja ao vivo, seja na maneira como tentamos fazer as coisas naturalmente. Esperamos que a reação das pessoas seja descontraída, aberta, a relacionarem-se connosco depois dos concertos, durante os concertos, nas redes sociais, nas entrevistas, em todos os sítios. Gostamos desta postura de proximidade.
Há alguma temática existente em Local Affairs?

Joana – Quando começamos a delinear o álbum não tínhamos nenhum conceito.


Henrique – Não foi uma coisa pensada de raiz para ser assim. Acabou por ser assim.

Às vezes, ao terem uma ideia, ela vai sofrendo mutações à medida que vão gravando

Ricardo – No fundo foi um conjunto de circunstâncias que deram origem a este disco. Nós fomos percebendo que o Local Affairs era o resultado dessas circunstâncias e só dessas, daí acharmos adequado dar-lhe esse nome. No fundo, para sintetizar a comunidade na qual nos fomos inserindo em Coimbra, a maneira como fomos acolhidos pela Lux Records e pela Blue House, para gravar e para editar. A maneira descontraída e franca dos outros músicos que quiserem colaborar conosco, neste caso o Jorri no disco, outros músicos noutras coisas ao vivo que já fizemos com eles e eles conosco. O nome do disco reflete tudo isso, vem do nome de uma música, a qual é também sobre esse ambiente que se vive ali por Coimbra nestes dias.

Foi o vosso primeiro álbum na Lux Records, certo?

Joana – Sim

Mais recente notamos que as editoras ditas pequenas são um bom mercado. Como sou de Leiria, noto isso mais pela Omnichord Records. Por exemplo, a Lux Records tem vindo a editar alguns álbuns mas parece-me que mais recentemente que está a ganhar um novo fôlego.

Henrique – Foi o Rui Pereira que abriu a loja, Lucky Lux. Antes era mais um hobby e agora começou a dedicar-se a tempo inteiro.

E acham que dá para fazer vida disso?

Ricardo – Isso ele lá saberá.

Joana – Também foi um bocado como nós. Tínhamos as nossas profissões e entramos nisto também como um hobby que foi crescendo e que ocupa agora uma boa parcela da nossa atividade profissional. Acho que isso também aconteceu com o Rui.

Ricardo – A Lux já tem um histórico de anos 90, edições de bandas históricas de Coimbra e não só. Acho que o facto de ter coincidido com o período de início das vendas digitais em que os discos começaram a ser desvalorizados enquanto objecto e produto, levou a que as edições tenham abrandado um pouco. Agora com a ligação à Blue House essa energia está muito forte. As bandas que lá gravam acabam por editar quase todas na Lux, ou as bandas que o Rui quer editar na Lux coloca-as na Blue House a gravar. As coisas alimentam-se umas às outras.
Agora que os discos e os vinis começaram a ganhar novamente um fôlego, talvez as editoras estejam a querer apostar novamente nesses formatos. Depois associado aos discos tens os concertos. Tens muitas bandas portuguesas que vão fazendo algumas tours internacionais, mesmo as mais pequenas. É um mercado que se começa a revitalizar.

Na minha opinião, sinto que Coimbra estava a ficar um bocado para trás. Temos cidades como Lisboa, Porto, Braga e Barcelos na vanguarda musical. Leiria surgiu há pouco tempo. Coimbra, que sempre foi a cidade da tradição, sinto que a nível de oferta de concertos não há tanto destaque do que se passa na cidade. Sentem que isso agora pode mudar?

Ricardo – Eu acho que sim. Não só estas estruturas das quais estamos próximos, mas também ao nível de concertos em Coimbra nos últimos anos. Tens o Salão Brazil, algumas estruturas só ligadas ao teatro, como o Teatro da Cerca, São Bernardo, o Teatrão. Essas estruturas começaram a acolher concertos nos seus espaços, coisa que não acontecia muito.

Joana – Se olhares bem para a agenda atual de Coimbra praticamente tens concertos todas as semanas. A oferta até está a atingir um ponto de saturação. Podes ter um dia com quatro concertos ao mesmo tempo na cidade e tens de escolher. Nesse nível de concertos e atividade cultural, Coimbra está muito forte. Agora se Coimbra divulga essa atividade para outras cidades, isso provavelmente não está a ser bem gerido.

Ricardo – Agora até o Salão Brazil abrandou um pouco. Ao início eram quase todos os dias da semana. Para não ser um excesso, reduziram para 3/4 concertos por semana. Quinta, sexta e sábado com algumas excepções aqui e ali.

Joana – Há uns tempos atrás não havia muitos sítios para concertos nem muitas exposições. Agora já há.

Henrique – Sítios havia, a vontade é que era pouca. A única coisa que há agora nova é o Convento de São Francisco.

Joana – Uma coisa que eu sinto e que acho que ainda está um bocado preso são novas pessoas a entrar no panorama musical em Coimbra.

Ricardo – Faltam miúdos. Em Leiria isso nota-se. Os miúdos desde a escola que são incentivados.

Joana – Em Coimbra é só a malta da nossa geração e de gerações um bocado mais velhas. Ainda continuam a ser as mesmas pessoas de há 20 anos atrás a trabalhar nesta atividade. Noto que não há uma grande regeneração.

Ricardo – Há uma ou outra banda ou projeto de malta mais nova. Se calhar ainda têm de fazer o seu percurso até começarem a terem um reconhecimento um pouco mais abrangente.

Joana – O problema de Coimbra, como é uma cidade universitária e a oferta de emprego também não é muito grande nessa idade, as pessoas não se fixam. Não há esse espaço temporal de estudar na universidade, criar uma banda e começar a trabalhar nisso. Muda-se logo de cidade.

Ricardo – Coimbra tem esse lado positivo e negativo, ao mesmo tempo. É uma rotativa.

Joana – Muita gente da nossa geração, quando foi a crise saiu da cidade e não voltou.

Henrique – E do país também.

Joana – Portanto houve aí um generation gap que dificultou o surgimento de novas bandas.

Ricardo – Nós imaginámos alguma vez que sete anos depois de começarmos que íamos ter Victor Torpedo, Kaló, Tracy Vandal, Jorri, Zé Rebola, Pedro Chau, Tony Fortuna a tocar conosco. Era impossível. Nem era o sentimento de nós sermos demasiado pequeninos e eles serem demasiado grandes, não era só isso. Isso não acontecia, não havia esses cruzamentos há 7 anos atrás em Coimbra. Um dos grandes responsáveis está aqui (Jorri).

Jorri – Eu mais do que tu sei o que é isso. Cheguei a Coimbra de fora e comecei a ter uma banda dois anos depois de estar cá. Ainda apanhei a cena de Coimbra instalada, o tropical, os rockabillies. Cheguei a Coimbra em 97 e ainda estavam os Tédio Boys e todas as bandas que surgiram a seguir. Aquilo era super fechado.

Ricardo – Eram os Wraygun e os Bunnyranch.

Jorri – No primeiro disco eu tenho o Kaló e a Raquel Ralha a tocarem mais muita gente de Coimbra mas, mesmo assim, chegar até eles era sempre algo imprevisível. Ficávamos sempre na dúvida se iam mesmo aparecer. Não houve contacto a seguir a este disco porque nós éramos uns miúdos e isto era mesmo assim, apesar de não haver tanta diferença de idades.

Ricardo – Era assim que as coisas se faziam, não era por mal. O ambiente era esse.

Jorri – Hoje em dia eu toco com os Parkinsons, uma banda que eu ia ver. E tenho o Victor e o Calhau a tocarem comigo.

Há muito maior abertura. 

Jorri – E porquê? Porque a certa altura há pontos onde se cruzam.

Joana – As pessoas estão mais velhas.

Jerónimo – Se calhar já não há tanto aquilo do “É assim como eu quero e não vou comprometer a minha cena”. As pessoas estão mais abertas para se deixarem influenciar, ajudarem outros.

Jorri – Há sempre um orgulho grande em fazeres coisas com bandas que estão teoricamente num nível mais inferior. A questão é haver alguém que um dia quebra essa ligação. Para nós, com os Parkinson, o quebrar dessa ligação foi a Tracy. É mais porque é uma pessoa que vem de fora e foi a primeira que começou constantemente a colaborar connosco. A Tracy trouxe o Victor atrás. É difícil assumires: Eu de repente vou tocar numa banda que está a começar quando eu estava nos Tédio Boys ou nos Parkinsons. É perfeitamente normal.

Jerónimo – O Victor também sempre foi dos mais ecléticos, em termos musicais.  Isso também ajuda a sair um bocado da casca. Há outra malta mais do rock, um bocadinho mais fechada musicalmente.

Jorri – A minha ideia com a cena da Blue House sempre foi pensar em algo que é muito mais do que um estúdio. É um sítio onde as pessoas se podem encontrar. Provavelmente nestes dois anos, todas as pessoas que foram ali cruzaram-se mais vezes e passaram a ter outro tipo de relação com todos estes músicos. Quebraram-se essas barreiras todos. É preciso quebrar preconceitos e não ter problemas de os músicos colaborarem e pedirem ajuda. Mesmo com o pessoal que está a começar, com a idade que tiverem, eu digo-lhe para não terem problemas nenhuns em pedir ajuda para o que seja, seja para alguém tocar, coisas técnicas, conselhos. Numa cidade tão pequena não faz sentido haver tanta distância.


Bruno Pires ©

Até é bom, porque passam a ser conhecidos e tens os contatos certos. Isso é o primeiro passo. 


Jorri – Foi isso que fez Leiria, na cena do movimento da Omnichord. Quebraram a ligação de bandas já com muitos anos. O Hugo Ferreira tem aí a vantagem de não ser músico, por isso entra na cena quase como um gestor, que apresenta as pessoas aos técnicos, promotoras, entre outros. Isso é importante.

Joana – Também foi um bocado o timing. Eles começaram a montar esta estrutura numa altura em que começou a haver muito consumo de bandas portuguesas.

Jerónimo – Há uns anos atrás era impossível fazer festivais inteiros só com bandas portuguesas. Antigamente metia-se uma banda portuguesa no festival, assim ao início, só por favor.

Jorri – Eu acho que também não é só isso. O primeiro disco dos a Jigsaw surgiu numa altura em que apareceu a quinta feira dos portugueses, onde realmente começou a cena do cantar em português. Um corte brutal com as banda que cantavam em inglês. Por isso é que Blind Zero e Silence 4 desapareceram. Literalmente, quase de repente, houve um ódio para com as bandas que cantavam em inglês.

Jerónimo – A cena de Coimbra e de Leiria é tudo em inglês, se não me engano.

Joana – Eu acho que ainda há um olhar de lado para quem canta em inglês.

Jorri – Quando estava a gravar o primeiro disco com a Jigsaw em 2005 foi quando rebentou a cena indie acústica. De repente era cool ouvir songwritters. Foi quando apareceu também Old Jerusalem e de repente tens um gajo sozinho com acústica a cantar inglês a entrar no circuito. A seguir a isso apareceram muitas coisas acústicas. Sean Riley and the Slowriders também em Coimbra.
Ajuda muito ter uma estrutura. Se Leiria tivesse esta estrutura profissional há 15 anos atrás com os The Allstar Project, com a forte repercussão internacional que tinham, não a tocarem mas com a sua visibilidade, se calhar tinhas uns The Allstar Project a fazer tours mundiais.

Jerónimo – Naquela altura o pós-rock estava fortíssimo, início dos anos 2000.

Jorri – Eles tiverem reviews e edições no mundo quase inteiro.

Jerónimo – Editavam pela Constellation.

Jorri – A minha estrutura profissional de concertos ao vivo era toda de Leiria. Era tudo o que andava com o David Fonseca, com os Silence 4. De repente havia ali uma estrutura de roadies profissionais, técnicos profissionais que tinham essas bandas âncora, uma cena que em Coimbra não tinhas. Quando tinhas uns Wraygun ou os Belle Chase Hotel em Coimbra a estrutura era dali. Hoje em dia não tens assim uma banda de nível médio.

Jerónimo – Depois o JP Simões mudou-se para Lisboa, assim como o Furtado e o Afonso Rodrigues. Essas são as três bandas que até já foram grandes estando em Coimbra mas depois mudaram-se e rebentaram em Lisboa.

Jorri – Falando de Leiria, é mesmo importante haver uma estrutura, depois a banda começa a crescer e estrutura também cresce. E isso Coimbra não tem. Houve uma altura em que quis ter uma estrutura toda de Coimbra, dava-me imenso jeito em termos de logística e era completamente impossível.

Falando do processo de composição, sentem que foi evoluindo ou gostam de fazer as coisas daquela maneira, para se sentirem mais confortáveis?

Henrique – Neste caso foi um bocadinho diferente. O Jerónimo comprou uma guitarra elétrica. A sala de ensaios já tinha PA. Tínhamos microfones pela primeira vez.

Ricardo – Permitia-nos fazer mais barulho e experimentar à vontade.

Henrique – Amplificadores potentes.

Joana – Foi também por causa disso que o nosso som começou a ser um bocado mais forte.

Sim, nota-se que é mais rock. 

Joana – O processo de criação e desenvolvimento das músicas já vem assim de raiz. A grande diferença entre este álbum e os anteriores foi essa. Foi essa fase de nos metermos na sala de ensaios e desenvolvermos as músicas com um poder sonoro completamente diferente do que estares numa sala sem PA e pedir ao Henrique: baixa isso que não oiço a minha voz (risos).

Ricardo – Ali estamos à vontade nesse sentido. O espaço físico também interferiu.




Falando do vosso single “Come Into the Water”. Seria uma boa banda sonora para o dia de hoje. Como é que vos surgiu a ideia do vídeo?

(Risos)

Ricardo – O vídeo, por mais veraneante que possa ser a música e o espírito do vídeo, foi gravado no dia mais frio do ano, estavam -1ºC em Coimbra. Felizmente até nos mexíamos mais ou menos no vídeo. A ideia foi essa, de brincar com a ideia de praia indoor, fazer um contraste. Nós gostamos desses contrastes a vários níveis, na banda e na música. No fundo, foi transportar um espírito divertido e colorido para dentro de um espaço. Qualquer sítio pode ser uma praia se a nossa imaginação trabalhar com força.

Até o trabalho?

Ricardo – Depende, podes ir trabalhar para uma praia.

Joana – Eu antes trabalhava na Figueira da Foz e à hora de almoço ia sempre para a praia (risos). Não de uma forma muito alegre, ia de forma mais deprimida, olhar para o mar, pensar o que é que estava ali a fazer.

Ricardo – Há aquela coisa de que o Natal é quando o homem quiser. Neste caso, a praia é onde o homem quiser. Nós escolhemos a Casa da Esquina, falando em espaços culturais de Coimbra. Abriram-nos as portas para fazermos lá o vídeo.

Têm alguma música favorita no disco?

Ricardo – Eu não consigo escolher uma música que goste mais, nem que goste menos.

Joana – Eu por acaso tenho uma favorita, a “Messing with your mind”. É aquela que me põe assim a dançar, coisa que é algo diferente. A nossa música geralmente não é dançável e esta aqui eu imagino-me a dançá-la.

Ricardo – Para mim, a “Come into the water” e a “Big fun in Galicia” são mais pop, mais saltitantes, divertidas, que vêm um bocado do nosso espírito de trás. Tens músicas mais rock, com a tal bateria, e pujança, a “Messing with your mind”, a “Get in” e a “I never wanted that”. Outras que são assim um bocadinho mais negras e triste, tipo a “Endless summer days” ou a “Across the Woods of How”, também gosto delas por serem assim. A “Local affairs” é um bocado mais minimalista, e eu gosto muito desse tipo de música minimalistas.

Joana – Este álbum é um bocadinho mais variado a esse nível do que os anteriores. Temos um pouco de tudo.

Ricardo – Nos outros também havia um pouco de tudo.

Joana – Sim, mas este aqui está um pouco mais demarcado.

Henrique – É como ter filhos. Nenhum filho é igual ao outro mas gostamos deles na mesma (risos).

Vocês tiveram agora em março em Espanha. Têm alguma história engraçada para contar? 

Ricardo – Sou péssimo com essas coisas de escolher uma história. Nunca me lembro na altura certa.

Joana – Esta mini tour que fizemos agora em Espanha foi um bocado estranha a nível de tempo. Apanhámos desde sol, chuva, neve, trovoada, vento, granizo.

Henrique – Eu tenho uma história gira. Em Santander eu queria ir a uma loja de discos que já conhecia por termos tocado lá uma vez. Ficava a 1,5km do hotel e lá fui eu. Entretanto começou a cair granizo e eu sem guarda chuva, sem nada. Quando já ia a mais de meio caminho mandei um tralho valente, fiquei cheio de sangue na orelha. Cheguei à loja, comprei os discos e voltei para o hotel. Consegui ainda acabar a tour.

Joana – A nossa história mais engraçada foi a primeira vez que fomos à Galiza. Demos uma volta pela costa com o tipo que nos recebeu e ele disse-nos que o tempo estava fixe para ir à praia. Há praias muito bonitas lá na Galiza. Isto foi em junho e nós estupidamente não levamos fato de banho.

Ricardo – Não sabíamos, íamos só fazer um concerto e voltar para trás. Nem sequer nos ocorreu ir à praia. Nunca tínhamos ido à Galiza, não fazíamos ideia que aquilo era tão bonito.

Joana – Então essa pessoa aconselhou-nos a ir a uma praia de nudismo (risos).

Ricardo – Fomos lá no dia seguinte e na altura éramos só os dois. Depois ainda voltámos lá com o Henrique. Então pronto, fizemos nudismo lá numa praia meio deserta e já lá voltamos para fazer nudismo. É de facto uma experiência interessante. No fundo acaba por ser um bocado uma metáfora das mudanças que nós fomos passando. Fazer das dificuldades ou imprevistos uma coisa positiva. Isso acontece-nos às vezes noutra coisas relacionadas com a banda ou com concertos. Nesse caso foi com uma nova experiência porque nos esquecemos de levar o fato de banho.

Joana – Agora já sabemos que é sempre obrigatório levar fato de banho (risos).

Também ocupam pouco espaço.

Ricardo – Houve uma vez que ficámos em Santiago de Compostela, aí até fomos os quatro no concerto. Ficámos em casa de um amigo nosso galego que já conhecíamos por lá termos tocado 4 vezes. Ele já era tão nosso amigo que teve essa amabilidade de nos oferecer a casa. Percebemos mais tarde que a casa dele tinha piscina. Levámos fato de banho e estivemos lá descansados. No meio de carregar coisas, apanhar chuva e deitar às 3 da manhã e depois acordar às 8, também há assim momentos prazerosos.

Além do concerto que vão dar agora em Lisboa, no Teatro do Bairro, onde é que as pessoas vos vão poder ver nos próximos tempos?

Henrique – Na internet (risos).

Ricardo – Amanhã em Évora e sexta é aqui em Lisboa. Em Abril ainda temos em Cem Soldos, no festival Por Estas Bandas. Vamos atuar numa espécie de palco Coimbra, conosco e a Raquel Ralha e o Pedro Renato. Depois a noite termina com DJ set do Rui Ferreira, responsável da Lux. Para nós té um grande prazer voltar a Cem Soldos, ainda para mais integrados nesta temática. Depois, em Maio temos Aveiro, no GrETUA a 17 de maio, Porto, no dia seguinte, no Maus Hábitos, e a 25 de maio, em Guimarães, na Green Week. Em junho vamos até Ílhavo no dia 10, num showcase e radio show na Rádio Faneca e a 23 regressamos a casa para tocarmos no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra. E vamos ter muitos mais durante o verão pois já estão a ser coisas marcadas em Vila Real, Ponte de Lima, Ovar. Vamos também até Barcelona em Julho, num festival independente.

Eu vi-vos no Bons Sons, em 2012 na igreja.

Joana – Ai meu Deus…(risos)

Ricardo – Recordamos esse concerto com um misto de sorriso pela surpresa da recepção das pessoas mas temos a ideia que tocámos muito tão mal. As pessoas receberam-nos tão bem. Tivemos uma igreja de 300 pessoas em apoteose a aplaudir.

Joana – Eu acho que as pessoas estavam a fugir do calor, é a única explicação (risos).

Ricardo – Talvez a alucinação provocada por demasiada exposição solar, as pessoas a viram-nos ali atrás do altar, acho que houve ali click qualquer.

Joana – Acho que nunca estive tão nervosa. Estava a tremer por todo o lado.

Ricardo – As pessoas acharam tanta piada a nós estarmos tão inseguros, que se calhar quiserem expor ainda mais o seu agrado. Foi de facto um concerto memorável para nós.

Henrique – Nunca tivemos o azar de ninguém nos mandar tomates podres (risos).

Que discos é que andam a ouvir nas últimas semanas? 

Ricardo – Comprámos recentes dois discos na Lucky Lux, uma loja de Coimbra do responsável da Lux Records. De um inglês e de uma editora americana que nós gostamos, Trouble in Mind. Tinham uma banda chamada Ultimate Painting, que entretanto acabaram. Um dos ex-membros tem um projeto a solo, o Jack Cooper, e comprámos esse disco, Sandgrown. O outro é o album homónimo de Olden Yolk, uma cena folk psicadélico dos 60s, muito S. Francisco.

Joana – Outra banda da Trouble in Mind que gosto muito e lançaram um disco há pouco e está muito bom são os Omni.

Ricardo – Essa editora ultimamente tem apostado num indie rock um bocado lo-fi.

Jorri – Eu só ouço discos de trabalho. Ouvi o disco de uma banda que se chama Birds Are Indie (risos). Ouvi as músicas, ensaiei e aprendi-as. Fiz isso também com o disco dos The Parkinsons.

Ricardo – Tu ouvias as nossas para descansares um bocadinho das dos The Parkinsons. Quando já te estavam a doer os ouvidos, metias uma coisa mais calminha (risos). Um bom equilíbrio.

Henrique – Comprei na Lucky Lux o último homónimo dos Ghost Hunts, que foi agora editado pela Lux Records em vinil. Comprei também um dos Millions e  o novo de Shame, Songs of Praise.

Têm alguma mensagem final para os leitores desta entrevista?

Henrique – Visitem Coimbra, a loja Lucky Lux, tem muitos discos bons.

Joana – A baixa de Coimbra precisa de pessoas.

Ricardo – Se tiverem uma banda e queiram gravar o vosso disco vão à Blue House. Com alguma sorte está lá o Rui Ferreira e ele edita-vos o disco, já aconteceu. Venham aos nossos concertos ou a outros concertos. Não vão só a festivais que são muito engraçados. Alimentem o circuito semanal da vossa cidade, de concertos de clube e de sala pequenas, que para mim são os concertos que fazem mais, na minha opinião pessoal. Cada um gosta do que gosta.

Henrique – Limitem o uso de telemóvel nos concertos. Filmem só um bocadinho.

Ricardo – Estás a ser muito ditador.

Henrique – Um boomeranguezinho chega.

Joana – Sejam felizes.

Henrique – Deixem a droga, o tabaco e o álcool (risos).



Entrevista por: Rui Gameiro

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